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Sem ver Bolsonaro, nova vice-presidente da Colômbia se reúne com Lula em SP

A vice-presidente eleita da Colômbia, Francia Márquez, com Lula; ela deve ficar no Brasil até quinta - ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
A vice-presidente eleita da Colômbia, Francia Márquez, com Lula; ela deve ficar no Brasil até quinta Imagem: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, em São Paulo

26/07/2022 17h47

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu hoje (26) a visita da nova vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, eleita em junho junto a Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia. O encontro extraoficial foi na Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em São Paulo.

Em visita de dois dias ao Brasil antes de tomar posse, no início de agosto, Márquez não deverá se encontrar com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que chegou a criticar a candidatura de Petro durante a campanha. Lula foi uma das lideranças latino-americanas a parabenizar a vitória da chapa.

A reunião não é considerada um encontro oficial —eleita, Márquez só assume no dia 7 de agosto. Os dois trataram de um possível estreitamento nas relações entre os países latino-americanos, uma das principais bandeiras internacionais da campanha de Lula.

Entre os assuntos debatidos, estava a reabertura das negociações do acordo comercial da União Europeia com o Mercosul para adicionar cláusulas sobre proteção ambiental, direitos humanos e tecnologia.

Também foi discutida a retomada de uma alternativa à antiga UnaSul (União de Nações Sul-Americanas). Criado em 2008 durante o governo Lula, a organização intergovernamental debatia estratégias político-econômicas entre os países do subcontinente. Perdeu força dez anos depois, durante o governo Michel Temer (MDB).

"Foram debatidos, principalmente, temas ligados a igualdade social, racial e entre gêneros, muito importantes para os dois países", disse o ex-chanceler Celso Amorim, após a reunião. "Mercosul e UnaSul foram comentados."

O fortalecimento de blocos de comércio e política na América do Sul e da relação entre os países latino-americanos, marca da antiga gestão do petista (2003-2010), é também um dos focos do futuro plano de governo.

"Defender a nossa soberania é defender a integração da América do Sul, da América Latina e do Caribe, com vistas a manter a segurança regional e a promoção de um desenvolvimento integrado de nossa região, com base em complementariedades produtivas potenciais entre nossos países", diz uma das diretrizes que darão base ao plano.

A aproximação entre as duas lideranças também marca uma virada, celebrada por Lula, mais à esquerda dos países sul-americanos nos últimos anos, com as eleições de:

  • Alberto Fernández na Argentina, no fim de 2019;
  • de Pedro Castillo no Peru, em julho de 2021;
  • de Gabriel Boric no Chile, em dezembro; e
  • de Petro na Colômbia neste ano.

Também participaram da reunião o ex-ministro Aloízio Mercadante, presidente da fundação, e a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT.

Mais cedo, pela manhã, Márquez participou ainda de uma reunião com as ex-ministras Tereza Campelo (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres) e Nilma Gomes (Mulheres, Igualdade Racial e dos Direitos Humanos). Estava prevista a participação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas foi cancelada em cima da hora.

Eles trataram das políticas antirracistas, de combate à violência contra a mulher, nos centros urbanos e no campo, e no combate à pobreza implementadas no Brasil durante os governos petistas.

Sem encontrar com Bolsonaro

A futura vice-presidente colombiana deverá ficar no Brasil até a próxima quinta (28), mas não tem agenda confirmada com o presidente Bolsonaro.

Crítico explícito de governos e candidatos de esquerda na América Latina, o presidente brasileiro não só não parabenizou Petro pela eleição como criticou o seu discurso logo após a vitória, dizendo que o colombiano gostaria de "soltar todos os presos" e o comparou com Lula.

"Vocês viram o discurso do novo presidente da Colômbia? 'Soltar todos os meninos presos, todos'. O Lula vai soltar os menininhos que mataram alguém por um celular para tomar uma cerveja", disse Bolsonaro em conversa com apoiadores, em Brasília.

O próprio Itamaraty só divulgou uma nota de parabenização a Petro 24 horas depois da eleição, em que deseja "êxito no desempenho de suas funções".

Em relação a outros países vizinhos, Bolsonaro também não tem demonstrado interesse no desenvolvimento das relações. Na semana passada, ele deixou de ir à 60ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, alegando "questões de agenda".

Investimento em agenda internacional

O encontro faz parte de um movimento da pré-campanha de Lula, que tem repetido sobre a importância de "retomar o prestígio internacional do Brasil". Em entrevistas e discursos, ele têm falado que as pessoas "têm de voltar a ter orgulho de viajar o mundo com passaporte brasileiro".

Em julho, ele recebeu o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, também para uma reunião informal. Bolsonaro também ia se encontrar com o português, mas se irritou com a agenda com Lula e decidiu cancelar toda a programação.

Em maio, Lula já havia recebido a princesa Marie-Esméralda Léopoldine, integrante da família real da Bélgica, em encontro feito a portas fechadas de "caráter particular".

Ações como esta têm sido realizadas desde o ano passado, em especial com desafetos internacionais de Bolsonaro. Em novembro do ano passado, ele foi recebido com protocolo de chefe de Estado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em visita a Paris.