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No Brasil, ministro da Defesa dos EUA fala em 'devoção à democracia'

Lloyd J. Austin III, ministro da Defesa dos Estados Unidos, durante a 15ª edição da CMDA (Confererência de Ministros de Defesa das Américas) - REUTERS/Adriano Machado
Lloyd J. Austin III, ministro da Defesa dos Estados Unidos, durante a 15ª edição da CMDA (Confererência de Ministros de Defesa das Américas) Imagem: REUTERS/Adriano Machado

Do UOL, em Brasília

26/07/2022 12h17Atualizada em 26/07/2022 16h49

Sem citar o contexto de eleições no Brasil, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd J. Austin III, afirmou hoje em Brasília que "a democracia é o símbolo das Américas" e que as nações do continente compartilham valores comuns, tais como "compromisso com o estado democrático de direito" e "devoção à democracia".

Democracia é o símbolo das Américas e acreditamos que todo o hemisfério Sul pode ser seguro, próspero e democrático
Lloyd J. Austin III

Austin discursou durante a 15ª edição da CMDA (Conferência de Ministros de Defesa das Américas), realizada na manhã de hoje na capital federal. O anfitrião do evento é o ministro da Defesa do governo Jair Bolsonaro (PL), general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

O oficial se tornou nos últimos meses um valoroso aliado de Bolsonaro em sua empreitada pessoal de contestação à confiabilidade da urna eletrônica e do sistema eleitoral no país.

Paulo Sérgio foi convidado a prestar esclarecimentos no Senado, em 14 de julho, após críticas sobre o viés político de seus posicionamentos. Na audiência, ele versou sobre as recomendações feitas pelo Exército ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) —e que foram rechaçadas pelo Tribunal por inadequação— e afirmou que, apesar das suspeitas lançadas, os militares não serão "revisores" das eleições.

Por outro lado, o ministro voltou a cobrar da Corte eleitoral o acolhimento das medidas sugeridas pelas Forças Armadas e que, segundo o seu entendimento, tornariam o pleito mais transparente e seguro. A versão, no entanto, é questionável, pois o voto eletrônico já é considerado.

Na 15ª edição da CMDA, Austin destacou ainda o "papel libertador da democracia" quando "as democracias trabalham de forma conjunta".

O representante do governo do democrata Joe Biden também exaltou o conteúdo da Carta Democrática Interamericana. Em linhas gerais, o documento indica que a democracia deve ser a forma de governo em toda a extensão das Américas e estabelece cláusulas de compromisso para o fortalecimento da democracia no continente.

Mais cedo, durante a abertura da conferência, Paulo Sérgio disse que, "da parte do Brasil", há "respeito à carta da organização dos estados americanos, OEA e a Carta Democrática Americana, e seus valores, princípios e mecanismos".

O ministro da Defesa brasileiro também não fez qualquer menção ao contexto eleitoral.

Austin destacou que Brasil, Estados Unidos e os demais países do continente são "conectados não apenas pela geografia, também pelos interesses e valores em comuns". "À medida que aprofundamos nossas democracias, cada vez mais aprofundamos também a nossa segurança."

Sem clarear o raciocínio com detalhes, Austin disse ainda que a estabilidade democrática na região estaria eventualmente ameaçada pelo "esforço da China para obter influência". Segundo ele, "poderes estão trabalhando para desestabilizar regras" e convenções do "direito internacional".

Segundo a organização do evento, a CMDA foi criada em 1995 para "promover o conhecimento recíproco, a análise, o debate, a troca de ideias e de experiências na área da Defesa e da Segurança". A escolha de um país-sede é feita cada dois anos, de forma alternada entre as 34 nações-membros.

Com 41 anos de carreira militar, Austin é considerado nos Estados Unidos o principal auxiliar do presidente Joe Biden para assuntos relacionados ao Departamento de Defesa. Ele faz parte do Conselho de Segurança Nacional —instância máxima onde ocorrem as discussões e deliberações de temas pertinentes à soberania americana.