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Pe. Júlio, Alessandra Negrini, Casagrande: quem assina carta da democracia

O banqueiro Roberto Setúbal (Itaú) e a atriz Alessandra Negrini: ambos fazem parte dos signatários da Carta pela Democracia, articulada pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco - World Economic Forum e Redes Sociais/Montagem UOL
O banqueiro Roberto Setúbal (Itaú) e a atriz Alessandra Negrini: ambos fazem parte dos signatários da Carta pela Democracia, articulada pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco Imagem: World Economic Forum e Redes Sociais/Montagem UOL

Do UOL*, em São Paulo

26/07/2022 15h40Atualizada em 26/07/2022 21h35

Acadêmicos, empresários, artistas, religiosos e intelectuais articulam um movimento em defesa do regime democrático concentrado na chamada Carta em Defesa da Democracia.

O manifesto é inspirado pela Carta aos Brasileiros de 1977, um texto de repúdio ao regime militar, redigida pelo jurista Goffredo Silva Telles, e lida também na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que publicou a Carta para mais assinaturas.

Entre os 3 mil nomes que assinam o documento, estão ex-ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), como Celso de Mello e Carlos Ayres Britto, além de figuras do setor empresarial que vão desde Pedro Passos e Guilherme Leal, fundadores da Natura, até Eduardo Vassimon, presidente do conselho de administração da Votorantim. Pedro Parente, presidente do Conselho de Administração da BRF e ex-presidente da Petrobras no governo de Michel Temer (MDB), também está listado.

Do meio artístico, destacam-se as assinaturas do cantor, compositor e escritor Chico Buarque, da atriz Alessandra Negrini, do comentarista Walter Casagrande Júnior e do cineasta João Moreira Salles. No total, a carta é assinada por cerca de três mil pessoas — clique aqui para ver a lista completa.

Veja alguns nomes que assinaram a carta

  • Celso de Mello, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal
  • Roberto Setubal, banqueiro (Itaú Unibanco)
  • Candido Bracher, banqueiro (Itaú Unibanco)
  • Walter Schalka, presidente da Suzano
  • Pedro Passos, fundador da Natura
  • Guilherme Leal, fundador da Natura
  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central
  • Eduardo Vassimon, presidente do conselho de administração da Votorantim
  • Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin e ex-presidente da Fiesp
  • Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso
  • Sepúlveda Pertence, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal
  • Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal
  • Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal
  • Eros Grau, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal
  • Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo
  • João Moreira Salles, cineasta
  • José Roberto Mendonça de Barros, economista
  • Celso Antônio Bandeira de Mello, advogado
  • Alberto Toron, advogado
  • Pedro Serrano, advogado
  • Sérgio Renault, advogado
  • Pierpaolo Bottini, advogado
  • Chico Buarque, cantor e compositor
  • Alessandra Negrini, atriz
  • Affonso Celso Pastore, economista
  • Alexandre Schwartsman, economista
  • Álvaro de Souza, economista
  • Ana Carla Abrão, economista
  • Angélica Maria de Queiroz, economista
  • Carlos Ari Sundfeld, economista
  • Claudio Haddad, economista
  • Cristina Pinotti, economista
  • Daniel Gleizer, economista
  • Daniel Leichsenring, economista
  • Demosthenes Madureira de Pinho Neto, economista
  • Edmar Bacha, economista
  • Elena Landau, economista
  • Eliana Cardoso, economista
  • Fabio Alperowitch, economista
  • Fábio Colletti Barbosa, economista
  • Geraldo José Carbone, economista
  • João Nogueira Batista, economista
  • José Guimarães Monforte, economista
  • José Olympio Pereira, economista
  • Lucia Hauptman, economista
  • Luciana Hall Cezar Coelho, economista
  • Luiz Fernando Figueiredo, economista
  • Luis Stuhlberger, economista
  • Luis Terepins, economista
  • Marcelo André Steuer, economista
  • Marcelo Barbará, economista
  • Marcelo Pereira Lopes de Medeiros, economista
  • Marcos A. Lederman, economista
  • Marcos Caramuru de Paiva, economista
  • Marisa Moreira Salles, economista
  • Michel Schlesinger, economista
  • Otávio de Barros, economista
  • Pedro Moreira Salles, economista
  • Pedro Parente, economista
  • Persio Arida, economista
  • Roberto Bielawski, economista
  • Rodrigo T. da Rocha Azevedo, economista
  • Samuel Pessôa, economista
  • Teresa Ralston Bracher, economista
  • Almino Afonso, ex-ministro do Trabalho
  • Almir Pazionatto, ex-ministro do Trabalho e do TST
  • Aloysio Nunes Ferreira Filho, ex-senador
  • Ana de Hollanda, cantora e ex-ministra da Cultura
  • Ângela Vieira, atriz
  • Antonio Carlos Secchin, Academia Brasileira de Letras
  • Arnaldo Antunes, cantor
  • Bel Coelho, chef de cozinha e ativista
  • Cissa Guimarães, atriz e apresentadora
  • Debora Bloch, atriz
  • Dira Paes, atriz
  • Eduardo Moscovis, ator
  • Fernando Meirelles, cineasta
  • José Galló, CEO da Renner
  • Leonardo Boff, teólogo
  • Juca Kfouri, jornalista
  • Padre Júlio Lancellotti
  • Paulo Betti, ator
  • Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação
  • Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação
  • Reinaldo Azevedo, jornalista
  • Wálter Casagrande Júnior, ex-jogador de futebol e comentarista

Leia a íntegra da carta:

Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito

Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o Estado Democrático de Direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais. Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal. Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular. A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição: "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição ".

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral. Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em um país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude. Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos. Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições. Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional. Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão. Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e aos brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições. No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições. Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona: Estado Democrático de Direito Sempre!

*Com informações do Estadão Conteúdo