Nove dias após Bolsonaro atacar urna, Lira diz confiar no sistema eleitoral
Nove dias após o presidente Jair Bolsonaro (PL) mentir sobre as urnas eletrônicas em uma reunião com embaixadores, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse hoje (27) confiar no sistema eleitoral. O deputado foi cobrado por não ter repudiado as declarações infundadas do presidente no encontro realizado em 18 de julho, no Palácio da Alvorada. Lira falou durante cerimônia do PP que oficializou apoio à reeleição de Bolsonaro.
"A Câmara fala quando é necessário falar, não quando querem obrigá-la a falar. Dei mais de 20 mensagens mundo afora que sempre fui a favor da democracia, de eleições transparentes e que confio no sistema eleitoral. Instituições no Brasil são fortes, são perenes e nunca serão redes sociais. Não podemos banalizar as palavras das autoridades no Brasil. Não farão isso na Câmara dos Deputados enquanto for presidente", disse Lira.
Aos embaixadores Bolsonaro repetiu ataques sem provas que tem feito desde o ano passado ao sistema de votação. Houve reação de políticos da oposição, chefes de Poderes, presidenciáveis, procuradores de todo o país e entidades jurídicas. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (União-MG), por exemplo, declarou que a segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral não podem mais ser colocados em dúvida.
Também no dia seguinte à reunião de Bolsonaro, líderes de sete partidos de oposição pediram ao Supremo que o presidente seja investigado por crime contra o Estado democrático de Direito.
"Bolsonaro 22"
A fala de Lira sobre as urnas ocorre três dias depois de o presidente da Câmara vestir uma camisa "Bolsonaro 22" durante a convenção do PL que oficializou a candidatura do presidente à reeleição. Durante o evento, Bolsonaro voltou a atacar os ministros do Supremo Tribunal Federal com Lira na plateia, chamando os magistrados de "surdos da capa preta".
Convoco todos vocês agora para que todo mundo no 7 de setembro vá as ruas pela última vez. Esses poucos surdos de capa preta tem que entender a voz do povo. Tem que entender que quem faz as leis é o legislativo e o executivo. Todos tem que jogar dentro das quatro linhas da constituição", disse Bolsonaro.
No mesmo evento, o presidente elogiou Lira, a quem atribuiu o sucesso de aprovar propostas que reduziram o ICMS sobre Combustíveis. "Temos três poderes, mas o legislativo e o executivo são irmãos", disse, arrancando aplausos da plateia", disse.
Fachin: TSE não se omitirá
Ontem, o ministro Edson Fachin, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), rebateu os novos ataques às urnas e, sem citar Bolsonaro, afirmou que a Justiça Eleitoral "não se omitirá" durante o pleito. Em reunião com o grupo "Prerrogativas", formado por juristas e advogados, o ministro afirmou que a sociedade não aceita "negacionismo eleitoral"
"Realizaremos eleições e os eleitos serão diplomados. O calendário eleitoral está em dia. A regra está dada. O TSE não se omitirá. A justiça eleitoral de todo o País não cruzará os braços. O TSE não está só, porquanto a sociedade não tolera o negacionismo eleitoral", afirmou.
Além de Fachin, os chefes dos tribunais superiores em Brasília também repudiaram o discurso do presidente aos embaixadores.
O presidente do STF, ministro Luiz Fux, disse ter "confiança total na higidez do processo eleitoral e na integridade dos juízes que compõem o TSE". Já presidente em exercício do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Jorge Mussi, também condenou as falas do presidente, afirmando que "jamais houve evidência de fraude" nas urnas.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, evitou criticar Bolsonaro diretamente e se limitou a reproduzir um vídeo gravado uma semana antes da reunião do presidente com embaixadores na qual diz diz que não aceitará "alegações de fraude" nas eleições.
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