UOL Esporte Atletismo
 
24/08/2009 - 07h00

Brasil "zerado" decepciona até presidente da confederação

Fernando Narazaki Em Berlim (Alemanha)

Zero ouros, zero pratas, zero bronzes, zero recordes sul-americanos, zero recordes brasileiros e zero marcas pessoais melhoradas no estádio Olímpico. As mulheres seguem sem um pódio na história, e o país viu 37 nações subirem ao pódio, incluindo Chipre (uma prata), Irlanda (uma prata), Porto Rico (uma prata) e Turquia (um bronze), todos sem a mesma tradição do Brasil.

BRASILEIROS FICAM PELO CAMINHO
Michael Probst/AP
Fabiana Murer errou três saltos e ficou com a 5ª colocação na prova do salto com vara
Adrian Dennis/AFP
Maurren Maggi sentiu uma lesão no joelho e deixou a final do salto em distância
Alberto Estévez/EFE
Jadel Gregório também não trouxe medalha, ficou apenas em 8º no salto triplo
GESTA 'VETA' JAYME NETTO
BOLT SAI CHAMADO DE 'LENDA'
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A participação nacional no Campeonato Mundial de atletismo, encerrado nesse domingo em Berlim, decepcionou até o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Roberto Gesta de Melo, que não é muito afeito a críticas. "Este ano realmente não fomos bem. Tínhamos boas chances e não correspondemos. É lógico que temos de levar em conta os fatores externos. Houve o caso de doping, que provocou um abalo nas equipes, e também as lesões, mas decepcionamos", disse.

Dos 42 atletas que vieram ao Mundial, apenas dois saíram com resultados melhores em suas carreiras, mas ambos na maratona e em uma condição que eles admitiram ser favorável à obtenção dos resultados. Adriano Bastos foi 19º, melhorando 41 segundos sua marca, e Adriana Aparecida foi 36 segundos mais rápida que seu recorde pessoal para ser 43ª colocada na prova. "O traçado e a cidade realmente favorecem a quebra de marcas", destacou Adriana.

Na pista do estádio Olímpico, porém, a situação foi bem diferente. Todos ficaram distantes de suas melhores marcas. O Brasil disputou menos finais que Osaka-2007 (seis contra sete) e ainda amargou o seu quarto Mundial sem um pódio. Os outros foram Stuttgart-1993, Edmonton-2001 e Helsinque-2005, sendo que em 2001 o Brasil ainda obteve uma quarta posição, resultado que não teve neste ano.

Em Berlim, a melhor performance do Brasil foi o quinto lugar em duas provas: salto com vara (com Fabiana Murer) e revezamento 4 x 100 m rasos, ambos feminino. Dos homens, o melhor foi o revezamento 4 x 100 m rasos, sétimo colocado. Se as mulheres seguem sem pódios, o país, pelo menos, registrou seu maior número de finais na história. As brasileiras foram a quatro finais, superando as três de 2007.

Mas a frustração ficou evidente nos rostos dos atletas. "Eu não sei se a vara estava fraca, realmente não sei o que aconteceu. Não sei se estava cansada das eliminatórias ou se estava muito bem. Realmente é complicado", afirmou Murer, que admitiu em seguida ter perdido a maior oportunidade de sua carreira, já que a favorita Yelena Isinbayeva decepcionou e sequer superou sua primeira tentativa.

Uma boa parte dos atletas lamentou o fato de não estar na melhor condição física. Foi assim com Maurren Higa Maggi (que sentiu uma lesão no joelho direito e deixou a final do salto em distância chorando na sétima posição), Jadel Gregório (oitavo no salto triplo), Gisele de Oliveira (12º no salto triplo), Marílson dos Santos (16º na maratona), Jessé Farias (14º no salto em altura) e Kleberson Davide (caiu nas eliminatórias dos 800 m).

Chateado, Gesta de Mello revelou que exigirá o intercâmbio de técnicos com os profissionais estrangeiros para capacitar melhor os brasileiros. "Os treinadores vão ter de aceitar acompanhamento externo. E os melhores sempre quiseram isso como o Nélio (Moura, técnico de Maurren) e o Élson (Miranda, técnico de Murer). Também vou trabalhar para que os clubes abram espaços para estes estrangeiros", explicou.

O dirigente afirmou que já negocia com dois cubanos e mais o técnico do esloveno Primoz Kozmus, campeão olímpico e mundial do lançamento de martelo. "Eles querem trabalhar aqui e acredito que se o presidente Lula mandar um expediente ao presidente de Cuba, isso será resolvido no caso dos cubanos", alegou.

Já os atletas acreditam que o país ainda precisa investir em tecnologia. "Nós estamos atrasados nisso. Precisamos estudar mais, ver os estudos que estão vindo e nos preparar melhor", afirmou o velocista Sandro Viana, que não descarta a possibilidade de um intercâmbio com a Jamaica, hoje o país da velocidade. "Mas teria de depender de convite e alguém para bancar", disse.

Em meio a uma performance ruim, os atletas ainda tiveram de conviver com o maior escândalo de doping do país, que retirou seis atletas classificados para o Mundial, e o anúncio da redução de investimento da Rede Atletismo, segunda colocada no Troféu Brasil deste ano. Fora dos microfones, alguns admitiram que o "pior ainda está por vir", mas que só terão a exata medida do futuro da modalidade nesta segunda-feira, quando alguns dos principais atletas já chegam ao Brasil sem pódios ou feitos pessoais.

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