Mesmo sem esperar o veredicto e a possível punição da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), Jayme Netto Jr. não vai atender ao pedido de seus pupilos e, oficialmente, voltar a comandar treinos.
Suspenso preventivamente por dois anos, o treinador, um dos principais pivôs do maior caso de doping na história do atletismo nacional, depôs à comissão de inquérito da CBAt, em São Paulo e, alegando "desgaste emocional", garantiu à reportagem que não voltará a exercer sua função nas pistas.
Três dos seus comandados - Lucimara Silvestre, Bruno Lins e Jorge Célio - foram flagrados com a substância proibida EPO (eritropoietina) em testes fora de competição e estão suspensos por dois anos.
"A minha maior preocupação é com a situação dos suspensos. Vou fazer o possível para ajudá-los. Porém a minha decisão de parar não é da boca para fora. Mesmo se eu quiser, não posso treiná-los", disse Netto, que foi orientado pela CBAt a não exercer a função enquanto estiver suspenso.
Fora das pistas, Netto já conseguiu patrocínio de uma empresa de suplemento alimentar para os três atletas e ainda quer arrumar um técnico. Enquanto não acha sucessor, passa orientações de treino por e-mail.
Além do inquérito da CBAt, Netto, o técnico Inaldo Sena e o fisiologista Pedro Balikian estão sendo investigados pela Unesp, onde lecionam.
"Espero voltar. Tenho 26 anos de Unesp e cumpro todos os requisitos para exercer minha função. Não fiz nada ilegal [dentro da universidade]", declarou Netto, que conta com apoio da mulher, Maria Cristina, secretária de esporte de Presidente Prudente, para manter suas contas em dia.
Apesar de reconhecer que a substância injetada nos atletas era doping, Netto não pensa ter traído seus comandados, que, segundo os depoimentos, não sabiam do conteúdo da injeção.
Em sua defesa, o treinador alega ter sido ludibriado pelo fisiologista, que ainda não se pronunciou após o estouro do escândalo de doping.
"Foi um momento de fraqueza. Tinha acabado de perder o meu sogro também. O cara [Balikian] me mostrou que aquela quantidade não era doping", disse Netto. "Se quisesse só bons resultados e burlar [a lei antidoping], teria capacidade para fazer outro esquema."
De acordo com Netto, o relacionamento com Balikian teve início neste ano. O fisiologista teria feito análise de todos os atletas e ministrado a suplementação alimentar.
Curiosamente, o treinador iria assumir ao fim do ano o comando do projeto de Novos Talentos da Rede Atletismo e pretendia ser auxiliado por Balikian na nova empreitada.
"Imagine a tragédia que teria sido", apontou Jorge Queiroz, presidente da equipe.
Uma semana antes da divulgação do escândalo, Balikian tinha até visitado as instalações da Rede, em Bragança Paulista.
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