PROVAS DE CAMPO EXIGEM TÉCNICA IGUAL
Ao contrário do que ocorre nas provas de pista realizadas em locais cobertos, como as corridas de velocidade ou de fundo, o resultado das provas de campo equivalem mais à realidade da competição em estádio aberto, o que torna a conquista de Fabiana Murer relevante.
Realizado de dois em dois anos, o Mundial indoor tem menos glamour que o tradicional Mundial de atletismo, que ocorre a cada quatro anos (o último foi o de Berlim-2009).
No indoor, atletas não ficam sujeitos a calor, frio ou chuva. O ambiente climatizado ajuda a todos. No entanto, corredores precisam se adaptar a uma pista menor. Os 100 m viram 60 m. "A pista tem uma metragem menor, com curvas em outra angulação", afirma Adriano Vitorino, técnico de provas de velocidade.
Estrela maior do atletismo, o recordista mundial dos 100 m Usain Bolt, por exemplo, preferiu não ir ao Mundial de Doha.
Nas provas de campo, não é necessário fazer adaptações. Atletas do salto utilizam as mesmas técnicas. O mesmo acontece nos arremessos.
Após a conquista da medalha de ouro no Mundial indoor de sua pupila, Fabiana Murer, o técnico Elson Miranda queixou-se da falta de estrutura adequada para treinamentos em São Paulo.
"É uma grande conquista do atletismo brasileiro e é resultado de um trabalho que vem crescendo gradativamente. Mas o resultado não condiz com a estrutura do atletismo nacional", afirmou Miranda.
Com o início da reforma na pista de atletismo do Ibirapuera no ano passado, mais de cem atletas tiveram que procurar outros centros de treinamento. A mudança atingiu também Fabiana Murer, que teve que transferir seus treinos para São Caetano, onde fica o local de treinamentos de sua equipe, a BM&F. Com isso, Murer, que mora na região do Ibirapuera, passou a ter que enfrentar um trânsito diário de cerca de duas horas para chegar aos treinos.
Antes do Mundial, tanto o treinador como a atleta demonstravam irritação com a mudança da rotina, que acaba se refletindo nos treinamentos. "Precisamos de mais espaço físico para treinar. Foi muito difícil fazer a preparação para o Mundial [indoor] em São Caetano", lamentou o treinador.
No início do ano, a situação era tão precária que o técnico e a atleta tiveram que fazer improvisações. Sem um sarrafo disponível, chegaram a amarrar corda entre as árvores para estabelecer a altura que Murer deveria ultrapassar.
Agora, com a medalha de ouro da pupila, Miranda aproveita os holofotes para tentar melhorar as condições de treinamento da atleta no Brasil e para calar os críticos de Murer. "Fabiana era a garota problema. Primeiro, ela teve problema com a vara na Olimpíada de Pequim. No ano passado, o problema foi com o colchão. Dessa vez, ela não teve problema nenhum e conquistou o ouro no Mundial", ressaltou o técnico.
Murer, por sua vez, adotou um discurso mais contido. "Minha vitória não é um cala-boca para ninguém. É só o resultado de um trabalho", disse ela que comemorou sua conquista na festa de encerramento do Mundial.