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'Fui ingênuo e ambicioso', diz pivô do escândalo de doping no atletismo

O técnico Jayme Netto foi afastado do atletismo <br>por ser pivô  do caso de doping da Rede Atletismo - Juca Varella/FI
O técnico Jayme Netto foi afastado do atletismo <br>por ser pivô do caso de doping da Rede Atletismo Imagem: Juca Varella/FI

Do UOL Esporte

Em São Paulo

07/05/2010 09h27

Jayme Netto Júnior esteve em cinco Olimpíadas como técnico de atletismo, mas manchou sua carreira com um escândalo de doping às vésperas do Mundial de Atletismo realizado em 2009. Ele foi personagem central do caso que revelou uso de substâncias ilícitas por atletas da Rede Atletismo e hoje afirma que não quer voltar ao esporte.

“Não oriento nenhum atleta. Nunca mais pus o pé numa pista de atletismo”, afirma Netto Júnior, em entrevista ao diário Lance. “Penso em não voltar (ao atletismo). Não superei. Não tenho vontade de conviver com pessoas que são maldosas. Ainda não tem um ano da polêmica, e pode ser que algo mude. Mas hoje não voltaria.”

No ano passado, cinco atletas foram flagrados em exames com o hormônio EPO: Jorge Célio Sena, Bruno Lins, Lucimara Silvestre, Luciana França e Josiane Tito. Jayme Netto assumiu a culpa e afirmou que o fisiologista Pedro Balikian é que recomendou a substância. O técnico foi suspenso por quatro anos, enquanto os atletas estão fora por um.

“Eu fui ingênuo. Uma mistura de ingênuo e ambicioso. Essa polêmica desenvolveu em mim algo que não tinha antes, que é a mania de desconfiar das pessoas”, conta ele. “Aquela grandiosidade da Rede Atletismo foi o que despertou a minha ambição. Eu me perdi um pouco.”

“Eu sabia que eles estavam tomando uma substância que não era permitido, mas cujo objetivo não era a performance. A pessoa (o fisiologista Balikian) me mostrou isso”, alega ele, que não esconde o desejo de não falar sobre o fisiologista.

Apesar de não ser mais técnico, Jayme Netto ainda acompanha os atletas, assessorando uma pessoa que acompanha o trabalho deles. “É como se eu fosse um consultor”. Ele trabalha dando aula no departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP), e em uma clínica de recuperação. Após o caso, teve de mudar de casa e vendeu seus carros.

Sobre a punição reduzida aos seus ex-pupilos, diz que espera que ela seja mantida para um ano, de modo que eles possam competir já daqui a três meses. “No caos, sempre há lições”, conclui.