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De volta ao Brasil, mentor de Bubka vê evolução de Murer e cuida de nova promessa

Fábio, Vitaly, Fabiana, Thiago e Élson participam de clínica em São Caetano - Divulgação/Local
Fábio, Vitaly, Fabiana, Thiago e Élson participam de clínica em São Caetano Imagem: Divulgação/Local

Paula Almeida

Em São Paulo

24/11/2010 20h40

Em 2001, Vitaly Petrov veio ao Brasil para a primeira de uma série de clínicas que faria no país ao longo da década. Nesta semana, o técnico ucraniano está de volta ao país para mais um período de treinamentos de salto com vara em que passa um pouco do que já ensinou a seus dois principais pupilos: o ucraniano Sergey Bubka e a russa Yelena Isinbayeva.

CRÍTICAS À ESTRUTURA BRASILEIRA

Apesar de estar em constante intercâmbio com Élson Miranda e os atletas brasileiros, Vitaly Petrov faz questão de ressaltar que as condicões de treinamento no Brasil não são adequadas.

"Há poucos técnicos no Brasil, e as condições de treinamento não são as melhores. Há muitos talentos aqui, mas poucos técnicos para descobrir e trabalhar esses talentos", afirmou o treinador nesta quarta-feira.

Vitaly Petrov ainda lembrou que, diferentemente dos centros europeus, no Brasil os atletas moram em locais distantes das pistas de treinamento.

A clínica de treinos de Vitaly Petrov em 2010 está sendo ministrada em São Caetano, na sede da BMF&Bovespa. Além de Fabiana Murer e Thiago Braz, os treinamentos também contam com o recordista sul-americano Fábio Gomes dos Santos e Augusto Dutra de Oliveira, vice-líder do ranking nacional de salto com vara.

Ao longo dos anos, vindo ao Brasil ou recebendo atletas do país em sua base de treinamentos em Fórmia, Itália, Petrov ajudou a mudar a cara do salto brasileiro. Fazendo do técnico Élson Miranda seu “braço direito”, como ele mesmo diz, o ucraniano transmitiu aos atletas brasileiros o que ele mais sabe: técnica.

“Quando ele veio pela primeira vez, eu treinava havia cinco anos. Naquela época, eu já era recordista brasileira, tinha 3,90 m, mas passei por um período difícil, porque durante dois anos eu não conseguia melhorar meus resultados, via todo mundo superar minhas marcas e eu não. Mas eu não desisti e um dia pensei: ‘Se com ele [Petrov] o Sergey [Bubka] chegou onde chegou, eu vou fazer tudo que ele me pedir’. E deu certo”, lembra Fabiana Murer.

A campineira, por sinal, é o retrato vivo do que Petrov fez no Brasil. Com uma evolução clara ao longo da década, a campineira atingiu seu ápice em 2010 ao conquistar o título do Mundial indoor e da Liga de Diamante, além de conseguir sua melhor marca: 4,85 m.

“Se não fosse esse intercâmbio com ele, eu com certeza não teria esses resultados. Eu não sou forte nem veloz, então eu preciso da técnica, e isso é o forte dele. Eu comecei a cuidar primeiro da técnica para depois colocar a força e a velocidade”, explica.

Com estilo bonachão, o ucraniano, que exige 100% de dedicação de seus comandados, fica feliz com o desempenho de Fabiana, mas quer mais. “No ano passado, eu e o Élson avaliamos a preparação para 2010 e vimos que a Fabiana podia melhorar não só fisicamente, mas no próprio salto, que seria o mais importante. Agora nós estamos fazendo um trabalho para que ela melhore fisicamente, para que tenha as melhores condições possíveis de saltar”, diz o treinador.

Para Petrov, Fabiana Murer já reúne condições para alcançar uma medalha olímpica em Londres-2012, mas ele prefere não fazer prognósticos. “Nós estamos trabalhando para conseguir duas medalhas. É claro que eu quero que a Yelena ganhe, e o Élson quer que seja a Fabiana, mas queremos que as duas ganhem medalhas. Para a Fabiana é mais difícil, por ter um físico menos avantajado e pelas condições de treinamento no Brasil, mas ela está no caminho certo”, avalia. Élson Miranda, por sua vez, mostra otimismo. “Olhando a evolução da Fabiana nesses anos com o Petrov, e com a continuidade desse trabalho, a chance de ela conseguir uma medalha é muito maior”.

Olho no futuro

Mas não é só para Fabiana Murer que Vitaly Petrov olha. Agora, a aposta do ucraniano é o paulista Thiago Braz, de 16 anos. Medalhista nos Jogos Olímpicos da Juventude em Cingapura, o jovem atleta já avisou que pretende passar dos 6,14 m que dão o recorde mundial a Sergey Bubka até hoje, e Petrov admite que o rapaz tem reais chances de alcançar um futuro glorioso.

No entanto, o treinador prefere não exagerar nos elogios a Thiago. “Em Cingapura, o Sergey [que na ocasião era um dos diretores do evento] me disse que via no Thiago a minha técnica, a minha escola. Ele estava em condições adversas, não tinha nenhum técnico por perto, teve de fazer sozinho os próprios ajustes e no dia ainda choveu, mas mesmo assim ele conseguiu um grande resultado. Mas ele é muito jovem e ainda não podemos falar tanto do talento dele, é preciso ver os resultados que ele alcançará no futuro. Ele ainda vai ter que trabalhar muito”, avisa o técnico.

Já o garoto, do alto de sua timidez, aposta todas as suas fichas em Petrov. “O Élson me repassa as coisas que ele fala, porque eu não entendo muito de inglês. Mas se a gente continuar nesse ritmo, a gente consegue chegar num resultado bom”, profetizou.