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Keila Costa volta à 'perna boa' e ao salto triplo pelo Pan, após anos de lesões

Keila Costa cai na caixa de areia na final do salto em distância do Mundial Indoor-2010 - Valery Hache/AFP Photo
Keila Costa cai na caixa de areia na final do salto em distância do Mundial Indoor-2010 Imagem: Valery Hache/AFP Photo

Maurício Dehò

Em São Paulo

20/03/2011 07h00

Direita, esquerda, direita... Keila Costa é uma das atletas militares que representará o Brasil nos Jogos Mundiais do Rio este ano. Mas essa troca de pernas não tem nada a ver com seu cargo de 3º Sargento, ou com as marchas do Exército. É na verdade, a realidade que ela precisou enfrentar, driblando lesões para conseguir competir no atletismo. Mas não mais. Zerada, ela agora pode usar sua “perna boa” para voltar a dar enfoque ao salto triplo, sua especialidade, em busca de novos pódios pan-americanos.

3ª SARGENTO KEILA COSTA

  • Arquivo Pessoal

    Keila Costa em ação em treinamento do Exército

    Com a proximidade dos Jogos Mundiais Militares, em julho, diversos atletas brasileiros entraram nas Forças brasileiras. Entre eles, Keila viu a chance de ir para o Exército. Ela foi avisada pelo técnico Nélio Moura da chance, e gostou da ideia ao ler o edital. Após a inscrição, foi convocada e virou 3º Sargento.

    Os brasileiros têm de reportar as suas competições e algumas vezes se reúnem para reuniões e treinamentos. Tudo complementado por uma ajuda de custo importante para modalidades como o atletismo, que nem sempre conseguem apoio.

    “Foi bom, porque na época tinha terminado minha  equipe, a Rede Atletismo, e logo em seguida entrei para o Exército. Eles me ajudaram na hora certa”, explica Keila. “Sempre tive vontade de entrar, mas não tinha a curiosidade de ir atrás, então tem sido uma experiência muito positiva.”

Keila, de 28 anos, sofreu com diversas contusões na carreira, mas sempre soube superar as adversidades para conquistar medalhas como as pratas no salto em distância e no triplo no Pan do Rio, em 2007, e o bronze no salto em distância no Mundial Indoor de Doha, em 2010. As conquistas tiveram em comum o fato de ela competir de forma adaptada, por seguidos problemas físicos.

“Para mim, atleta tem de conviver com lesão. Eu me acostumei, procurei de todas as formas melhorar. Acho que aprendi a conviver com as Dores”, diz Keila, acostumada com suas condições desfavoráveis, nada ideais para atingir seu ápice nas pistas.

A pernambucana teve sua primeira grande lesão na tíbia, no fim de 2003. Na época, ela saltava com a perna esquerda, isto é, usava esta perna para a saltar da tábua para a caixa de areia no salto em distância, e como primeiro dos três passos do salto triplo.

Foi já com o técnico Nélio Moura, treinador da campeã olímpica Maurren Maggi, que ela descobriu seu maior potencial. A perna direita era a sua mais forte, com mais potencial de trazer grandes marcas à carreira. Com a mudança, ela chegou aos seus vice-campeonatos no Pan, mas a rotina durou pouco.

“Em 2008, eu tive várias lesões no joelho. Uma calcificação na patela causou degeneração no tendão patelar e isso me afetou. Eu não conseguia fazer nada e sofri muito do final de 2008 a 2010”, conta a saltadora, explicando mais uma mudança. “Eu tive que adaptar meu treino, não podia saltar com a perna lesionada, então voltei mais uma vez à esquerda.”

Para esta temporada, mais uma novidade. Desta vez não por conta de lesões, mas pela ausência delas. Keila retomou os treinos tendo como “perna forte”, a direita. Apesar de ter conseguido no início deste ano os índices do Pan e do Mundial com a estratégia anterior, ela planeja apostar inteiramente em seu talento mais expressivo.

“A Keila está bem motivada. O problema no joelho está completamente recuperado e poderemos priorizar o triplo novamente”, analisou o técnico Nélio Moura, que manterá a atleta tanto no triplo quando no salto em distância.

Pensando em números

A melhor marca da carreira de Keila Costa é de 14,57 m. Mas, um salto não homologado é que chama sua atenção. Ela já conseguiu alcançar 15,10 m, mas com vento a favor superior ao permitido.

“Pretendo bater este recorde sul-americano (14,57 m), e quero saltar 15 metros sem vento. Sem lesão, sei que dá para fazer”, diz a saltadora. “Se eu me mantiver em 14,90 m ou 15 m, consigo estar entre as três primeiras nas competições mais importantes”.

A mira dela é em três provas: o Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, em agosto; o Pan de Guadalajara, em outubro; e antes disso, os Jogos Mundiais Militares, em julho.