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Antidoping tem 2 litros de urina coletados, 8h de espera e tubos pelo corpo

Ana Carolina Siqueira é responsável pela coleta de urina nos exames antidoping  - Alexandre Sinato/UOL
Ana Carolina Siqueira é responsável pela coleta de urina nos exames antidoping Imagem: Alexandre Sinato/UOL

Alexandre Sinato

Em São Paulo

07/08/2011 07h00

Mais de dois litros de urina foram coletados no Troféu Brasil, importante competição do atletismo brasileiro que termina neste domingo, no Ibirapuera, em São Paulo. Pelo menos 20 atletas passaram pelo controle antidoping. Os exames são realizados com discrição, mas a rotina de quem trabalha com os testes reserva situações inusitadas e histórias que envolvem tentativas de fraude e atletas numa pilha de nervos.

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  • O velocista Bruno Lins, que retornou as competições após dois anos de suspensão por doping, bateu neste sábado o recorde do Troféu Brasil nos 200 m que já durava 22 anos, na primeira série da semifinal com o tempo de 20s16. O recorde anterior era de Robson Caetano da Silva, que fez 20s32 em 1989.

Ana Carolina Siqueira trabalha com antidoping há sete anos. Nesse período, participou da coleta de dez atletas que testaram positivo para substâncias proibidas. O caso mais famoso foi o de Rebeca Gusmão, no Pan de 2007, no Rio. Sua lista também tem atletas da ginástica olímpica e da natação. “Mas a maioria é do atletismo mesmo”, conta ela.

Foi no atletismo, inclusive, que Ana Carolina enfrentou uma verdadeira maratona para conseguir a urina de uma atleta há dois anos. Foram oito horas à espera da amostra. “A atleta queniana tinha dificuldade para urinar e bebeu muita água, o que atrapalhou a densidade da amostra. Isso aconteceu duas vezes. Passamos oito horas juntas num hotel. A partir do momento que a atleta vai para o doping, só posso ir embora com a amostra na mão.”

Em média, cada teste dura cerca de 20 minutos. “Quando a atleta diz que está pronta, eu a acompanho até a cabine e vejo a coleta da urina. É preciso ficar atenta a todos os detalhes para me certificar que ela fez tudo certo. A atleta coleta duas amostras e ela mesma lacra os frascos”, explica.

No caso dos homens, um escolta acompanha o atleta e o observa enquanto ele urina. Tudo para evitar fraudes e possíveis truques. Ana Carolina nunca presenciou uma tentativa de burlar o antidoping, mas conhece casos que chamam a atenção.

“Fora do Brasil teve um atleta que introduziu uma bexiga no canal anal e amarrou uma mangueira sob o pênis para coletar uma urina que não era a dele”, relembra a professora de educação física.

Ela já se deparou inúmeras vezes com atletas que se recusaram a fazer o antidoping. No entanto, logo eles foram “convencidos”. “É só explicar que se ele não assinar o formulário ou não quiser fazer o teste, o resultado é considerado positivo e o atleta já está suspenso por dois anos. Eles ficam nervosos, mas entendem.”

No Troféu Brasil, a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) encomendou 20 testes. O número pode aumentar em caso de recordes batidos, marcas expressivas ou denúncia. Cada atleta coleta 110 ml de urina, divididos em duas amostras. Ambas vão para o laboratório: a primeira (A) é analisada e a segunda (B), congelada. Se o resultado for positivo, a amostra B vira a contraprova.