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Ex-atleta usa habilidade que aprendeu com dentaduras e vira faz-tudo do atletismo

Placa improvisada avisa o preço das barrinhas e do dilatador nasal  - Alexandre Sinato/UOL
Placa improvisada avisa o preço das barrinhas e do dilatador nasal Imagem: Alexandre Sinato/UOL

Alexandre Sinato

Em São Paulo

11/08/2011 07h01

Ele vende pregos de sapatilha, tripa de mico, barrinhas nutritivas. Conserta varas, sarrafos, revólveres, tênis. Mauro Neuber é um verdadeiro faz-tudo do atletismo e se vira como pode usando a habilidade que desenvolveu fazendo dentaduras. Isso mesmo: antes de se dedicar ao esporte, o ex-decatleta trabalhou como ajudante produzindo próteses dentárias. Mudou radicalmente de ramo e participou até da formação de Fabiana Murer, mas não desperdiçou a experiência anterior.

MAURO REVELOU O TÉCNICO DE FABIANA MURER E AJUDOU A TREINAR A SALTADORA

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    Mauro Neuber conta que, quando passou a dar aulas de atletismo, revelou Élson Miranda, que depois se tornou um estudioso e virou técnico de Fabiana Murer, destaque do salto com vara.

    “Era uma aula geral de atletismo e eu precisava escolher alguém para o salto com vara, mas ninguém se habilitou. Então escolhi o Élson e perguntei se ele tinha interesse. Ele topou.”

    Élson se projetou ainda garoto e foi para um projeto que lhe pagava uma ajuda de custo. Mauro seguiu como seu preparador físico. Depois, o mestre de Fabiana Murer se dedicou à parte teórica e técnica e ganhou espaço como treinador.

    “Muitos anos depois, fui assistente técnico do Élson e trabalhamos dois anos juntos, de 2002 a 2003. Eu ajudava nos treinos com a Fabiana Murer e com o Fabinho [Fabio Gomes, dono da sétima melhor marca do ano]”, completou Mauro.

Para se manter, Mauro buscou maneiras de aumentar a vida útil dos equipamentos de atletismo. Sarrafos e varas do salto, por exemplo, eram jogados fora rapidamente. O “faz-tudo”, então, aprendeu a consertá-los. Passou a ganhar dinheiro com isso e fez as federações economizarem. Ele presta serviço para a confederação brasileira e para a federação paulista.

“Os sarrafos quebrados iam para o lixo, mas agora são separados para eu consertar. Faço uma emenda invisível que pesa só 40 gramas. Conserto as varas também. Elas não voltam para as competições, mas são usadas pelos iniciantes ou pelos profissionais nos treinos. Conserto a vara por R$ 200. Uma vara nova de iniciação custa R$ 1 mil. Uma profissional, R$ 2,5 mil. Antes as varas velhas só serviam para virar o bastão do revezamento”, recorda.

Ainda jovem, animado com o atletismo, Mauro já dava um jeitinho nos seus equipamentos. Ajudava até os concorrentes. “Arrumei alguns tênis do Paulo Lima. Ele era meu concorrente na época e era melhor que eu, mas era meu amigo e por isso eu não cobrava nada.”

Com o passar do tempo, o “faz-tudo” decidiu lucrar com isso. Até porque o resultado dos consertos eram satisfatórios.  Reflexo da experiência com dentaduras e afins. “Fui ajudante de protético durante três anos quando era jovem, então desenvolvi uma habilidade manual. Ajudava a fazer dentaduras, próteses dentárias. Só depois comecei a estudar educação física.”

A VITRINE DO FAZ-TUDO

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    Pregos novos de sapatilha custam R$ 1 cada

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    Sapatilhas e barrinhas de cereais entram no pacote

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    Tênis de corrida também são vendidos

Mauro também fica atento a cada evento de atletismo que acontece em São Paulo. Das pequenas às grandes competições, ele analisa a distância da cidade até Barretos, onde reside, e calcula os gastos com passagem de ônibus e um hotel barato. Se valer a pena, ele pega suas malas e leva o maior número possível de produtos novos. “Às vezes o lucro é realmente muito pequeno, mas é melhor que ficar em casa.”

Sapatilhas e pregos, além de tênis, são os produtos mais rentáveis. “Todo mundo precisa deles. É a ferramenta de trabalho do atleta.” Cada prego custa R$ 1 e o comprador geralmente leva vários para preencher a sola de sua sapatilha.

Técnicos e organizadores também se interessam. Isso porque Mauro comercializa itens importantes para o dia-a-dia, como a tripa de mico (tira de borracha) e o revólver com pólvora usado nas largadas das provas de velocidade.

“O revólver que eu faço custa R$ 350. O problema é que a CBAt adotou o revólver eletrônico, que é bem mais caro [cerca de R$ 4 mil] e é novidade, mas o som é muito mais baixo. O tiro com a pólvora o estádio todo ouve, mas esse eletrônico não dá”, comparou Mauro.