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Maior "trapaceiro" das Olimpíadas, Ben Johnson completa 50 anos nesta sexta

Johnson vence a final dos 100 m em Seul, mas ficaria sem o ouro por causa de doping - Arquivo/Folha Imagem
Johnson vence a final dos 100 m em Seul, mas ficaria sem o ouro por causa de doping Imagem: Arquivo/Folha Imagem

Do UOL Esporte

Em São Paulo

30/12/2011 12h00

Antigo detentor do recorde dos 100 metros rasos e ex-campeão mundial, o canadense Ben Johnson completa 50 anos de nesta sexta-feira (30.12), ainda marcado pela reputação de maior trapaceiro da história das Olimpíadas. A fama nasceu em razão da vitória anulada nos Jogos de Seul (1988), em que o controle antidoping do evento detectou que o então favorito cravou o impressionante tempo de 9s79 sob efeito de substâncias proibidas.

O episódio que fez de Johnson o grande vilão da história olímpica aconteceu em 24 de setembro de 1988, quando o velocista melhorou em 4 centésimos o recorde mundial que já lhe pertencia. O canadense fez a festa após derrotar o rival norte-americano Carl Lewis, mas teve a medalha de ouro cassada 48 horas depois, com a comprovação de seu doping.

  • hoto/Michael Peake

    Já banido do esporte, ex-velocista Ben Johnson foi preparador do astro argentino Maradona em 1997

O teste da urina de Johnson apontou a presença de estanozolol, esteroide banido pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Sendo assim, Lewis herdou o ouro. A prata ficou com o britânico Linford Christie, que venceria a prova mais badalada do atletismo quatro anos mais tarde, em Barcelona. O norte-americano Calvin Smith nem subiu ao pódio na premiação pós-prova, mas levou o bronze com a desqualificação do favorito canadense.

Ben Johnson acabou suspenso na época por dois anos, em investigação que teve a confissão de seu técnico, Charles Francis, de que o velocista fazia uso de substâncias proibidas para competir desde 1981. Após cumprir o tempo de gancho, em que adotou a reclusão em casa e perdeu toda sua lista de patrocinadores, o canadense ensaiou uma volta ao esporte. O ex-campeão até chegou às semifinais dos Jogos de Barcelona (1992), mas nunca mais alcançou o auge técnico.

Um ano depois da Olimpíada na Espanha, Johnson foi pego mais uma vez em um controle antidoping. Então, na condição de reincidente, acabou banido definitivamente do atletismo. À época, o então ministro dos esportes amadores do Canadá chamou o velocista de "desgraça nacional".

Benjamin Sinclair Johnson nasceu em 30 de dezembro de 1961 em Falmouth, na Jamaica, e se mudou com a família para as imediações de Toronto 15 anos mais tarde.

Fora do esporte, o ex-campeão dos 100 metros rasos chegou a exercer a função de personal trainer e teve a estrela do futebol Diego Maradona como cliente mais famoso. Em 2010, lançou o livro "From Seoul to Soul" (“De Seoul para a Alma”, numa tradução livre do inglês), em que conta sua versão da história, relatando que aceitou a rotina dentro do doping convencido por seu técnico e argumentando que a prática era comum entre os atletas de elite de sua época.

O episódio de Ben Johnson talvez seja o mais emblemático da história do doping no esporte, mas precedeu uma série de outros grandes escândalos, como o caso Balco, em que um laboratório de San Francisco municiava substâncias ilegais para atletas de ponta do atletismo, como a velocista Marion Jones, além de estrelas do beisebol norte-americano. Outros incidentes do gênero pontualmente abalaram modalidades como natação e ciclismo.  

DOPADO, BEN TEM PROVA IMPECÁVEL EM SEUL

O vídeo acima (transmissão da rede norte-americana NBC em 1988) mostra detalhes da histórica final dos 100 m em Seul, em uma prova tecnicamente perfeita de Ben Johnson. Largando na raia 6, o favorito canadense já desgarrava dos demais adversários na metade do percurso. O canadense cravou 9s79, melhorando seu próprio recorde mundial, que era de 9s83 (hoje a marca pertence ao jamaicano Usain Bolt, com 9s58).

A largada da prova acontece exatamente aos 7h40 do vídeo acima. Antes, é possível ver a preparação dos atletas para a decisão dos 100 metros, com a participação do brasileiro Robson Caetano como finalista na raia 1.

Após a vitória de Johnson, o adversário Carl Lewis se dirige ao vencedor e oferece seu cumprimento em gesto de esportividade, ainda sem imaginar que herdaria o ouro. Em seguida, o campeão dopado procura uma bandeira do Canadá e sai desfilando pelo estádio Olímpico de Seul. No fim do vídeo, Lewis concede entrevista à NBC, resignado com a derrota, dizendo estar satisfeito com seu desempenho na prova (9s92).