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Medalhas em mundiais alternativos iludem, mas costumam ser "mau agouro"

Do UOL, em São Paulo

10/03/2014 06h00

Títulos mundiais em esportes que não se chamam futebol, para o Brasil, são raros. Medalhas de prata e bronze, também. Mas elas costumam acontecer com mais frequência em dois tipos de competição, uma das quais ocorreu até o último domingo, na Polônia: o Mundial de Atletismo Indoor e o Mundial de Natação em Piscina Curta (estádio coberto no Atletismo e piscina de 25 m para a natação).

O principal problema das conquistas neste tipo de competição, por mais que tenham sua importância, é que tratam-se de torneios em palcos diferentes do principal do mundo: as Olimpíadas. Além deste fato, soma-se outro completamente relacionado: isso torna essas competições esvaziadas, com os principais atletas se poupando.

E isso abre espaço para conquistas que acabam "enganando" o público, que cria expectativas quase irreais sobre até onde os atletas brasileiros podem chegar. E isso cria outra situação, ainda pior: quando estes atletas vão "mal" em Olimpíadas, são duramente criticados por quem acredita tratar-se de competições iguais as que foram vencidas.

Abaixo, o UOL Esporte mostra que, em grande parte dos casos, as conquistas em Mundiais Indoor e de Piscina Curta se tornam "mau agouro" para os brasileiros, que dificilmente repetem os resultados nas Olimpíadas e em Mundiais que repetem as condições dos Jogos (estádio descoberto no Atletismo e piscinas de 50 m na natação).

JADEL GREGÓRIO E OSMAR DOS SANTOS

  • Em março de 2004, Jadel Gregório foi prata no Mundial Indoor no salto triplo, ao saltar 17,43 m, e criou grandes expectativas para os Jogos de Atenas. Nas Olimpíadas, porém, saltou apenas 17,31 m e ficou em quinto.

    Dois anos depois, saltou 17,56 m e novamente foi prata no Mundial Indoor. Se disse mais fortemente preparado para Pequim-2008, mas na china obteve nova decepção: saltou 17,20 e ficou em sexto.

    Também em 2004, Osmar dos Santos ficou com o bronze no Mundial nos 800 m. Nas Olimpíadas do mesmo ano, porém, acabou apenas em 22°, fora da final.

FELIPE FRANÇA

  • Felipe França surgiu para a torcida no Mundial de piscina curta de 2010, quando levou o ouro nos 50 m peito e o bronze nos 100 m peito. Chegou a dizer que treinava para o ouro nos 100 m peito em Londres-2012. Fez apenas o 12° tempo nas semifinais e nem à final chegou.

FABIANA MURER E KEILA COSTA

  • Em março de 2008, Fabiana Murer conquistou seu primeiro ouro em Mundiais indoor no salto com vara, se credenciando como uma das favoritas à medalha em Pequim. Saltando apenas 5 cm a menos que Yelena Isinbayeva, ouro com 4,75 m, viu a torcida brasileira realmente pensar que brigaria nos Jogos. Porém, na china, perdeu uma de suas varas e acabou eliminada da competição.

    Em 2010, aumentou suas credenciais: foi ouro no Mundial indoor. Mais um ano, conseguiu o título Mundial em pista descoberta. Mas em 2012 passou vexame: se recusou a saltar por causa do vento e saiu de Londres duramente criticada pela torcida, que sabia que o auge dela estava passando.

    Também em 2010, Keila Costa conseguiu o bronze no salto em distância, com 6,63 m. em Londres-2012, não só não disputou a prova como, no salto triplo, ficou apenas em 20ª.

KAIO MÁRCIO

  • No Mundial de piscina curta de 2006, Kaio Márcio levou o ouro nos 100 m borboleta e o bronze nos 50 m borboleta. Levou o ouro no Pan do Rio, em 2007, nos 100 m e nos 200 m borboleta. Tudo para chegar em Pequim-2008 e não chegar à final dos 100 m borboleta e ficar em sétimo nos 200 m borboleta.

MAURO VINÍCIUS, O DUDA

  • Bicampeão do mundo (indoor) no salto em distância com o título conquistado no último sábado, Mauro Vinícius, o Duda, já sofreu com esse “mau agouro”. Em 2012, levou o ouro indoor seis meses antes de competir em Londres. Foi a deixa para os brasileiros cobrarem a repetição da medalha.

    Na final em Londres, porém, queimou quatro de suas seis tentativas e não passou da sexta colocação, com 8,01 m. No Mundial, havia saltado 8,23 m – marca que, se repetida nos Jogos, daria ao brasileiro a prata.

THIAGO PEREIRA

  • Nas Olimpíadas de 2004, Thiago Pereira ainda era um jovem de 18 anos e acabo usem medalhas – normal. Porém, dois meses depois dos Jogos, ele acabou campeão mundial de piscina curta nos 200 m medley e bronze nos 100 m medley. Em 2007, no Pan do Rio, levou 3 ouros e um bronze em competição esvaziada. Criou-se a expectativa para os Jogos de 2008 e... Pereira acabou sem medalhas.