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Maurren, agora, é comentarista da Globo. Mas, no fundo, sonha com Rio-2016

Bruno Doro e Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

25/11/2014 06h00

Maurren Maggi acorda cedo todos os dias para treinar. Exibe a mesma energia do início de carreira, necessária para encarar parceiros de treino com quase a metade de sua idade. “Estou me surpreendendo. Estou acompanhando o ritmo da molecada de 20 anos. E sem dor. Quer dizer, as dores musculares que tenho, todo mundo tem. Estou muito bem, estou segura”.

Aos 38 anos, porém, a perspectiva que tem da carreira é bem diferente daquela dos garotos com quem divide a pista no Estádio Ícaro de Castro Melo, no Ibirapuera, em São Paulo. O adeus do esporte está próximo e ela sabe disso. Maurren chegou a anunciar a aposentadoria no início do ano. Não aguentou. Voltou a treinar no segundo semestre e se animou para os últimos saltos. Só não tem uma data o fim definitivo por causa de um sonho que segue existindo: os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

“Em 2016, eu não quero entrar para participar. Tenho um nome, tenho títulos para defender. Existe uma pressão. Se eu tiver condições de medalha, eu vou para cima. Caso contrário, vou comentar. Que é o que estou fazendo de melhor agora”, diz a campeã olímpica do salto em distância de Pequim-2008.

A outra opção não chega a ser tão ruim: neste ano, Maurren se juntou ao time de ex-atletas que a Rede Globo está montando para os Jogos do Rio. Ela é a única atleta ainda na ativa em uma equipe que tem, também, Giba e Tande, do vôlei, Daiane dos Santos, da ginástica, Gustavo Borges, da natação, Hortência, do basquete, e Flávio Canto, do judô.

“A experiência que estou tendo dentro da Globo é excelente. Acho que pode ser o início de outra carreira. Eu sempre amei televisão, sempre gostei de falar, das câmeras, do público. É meio caminho andado. Agora, todos estão cientes da minha situação. Se estiver competitiva em 2016, com condição de conquistar uma medalha, ninguém vai querer me impedir de brigar por isso. Mas, se não for assim, não tenho porque estar lá. Vou ajudar muito mais do outro lado, sendo comentarista, ajudando os atletas”.

A decisão, porém, só será tomada no ano que vem. Até lá, você ainda deve ver Maurren nas pistas. Seu principal objetivo, hoje, é o Pan-Americano de Toronto. Lá, ela vai tentar sua quarta medalha de ouro. Em conversa com o UOL Esporte, ela falou sobre a fase de sua carreira, o projeto de crowdfunding que a devolveu ao esporte, a falta de patrocínios e os planos para os próximos dois anos. Confira:

UOL Esporte: Você chegou a se aposentar, voltou a treinar, virou comentarista. Quais são os seus planos? Eles envolvem a Olimpíada do Rio, em 2016?
Minha última competição foi em junho, na Alemanha, no dia do meu aniversário (25). Estava muito bem, mas acabei sentindo (lesão no músculo adutor da coxa direita). Fiquei empolgada. Fazia muito tempo que não treinava ou competia. Isso me inspirou para voltar a treinar bem, em alto nível, e competir. Por isso, meu plano hoje é seguir fazendo meu trabalho até onde Deus permitir. Vou tentar uma última medalha de Pan-Americano (em Toronto, em 2015). Depois do Pan, vou saber se terei chance de conseguir uma medalha nas Olimpíadas ou não. Eu quero dar um passo de cada vez, como fiz na minha carreira toda. Primeiro penso em Pan, depois na Olimpíada.

UOL Esporte: É possível sonhar com medalha no Rio? Ou você vai apenas para encerrar a carreira em uma Olimpíada?
Em 2016, eu não quero entrar para participar. Tenho um nome, tenho títulos para defender. Existe uma pressão. Se eu tiver condições de medalha, eu vou para cima. Caso contrário, vou comentar. Que é o que estou fazendo de melhor agora.

UOL Esporte: Você ficou parada por quanto tempo?
Parei no começo do ano. Perdi patrocínios. Aí, decidi que iria me aposentar e viver em grande estilo. Mas ouvi muita gente insistindo que não era hora de parar. Muita gente pediu para que eu voltasse. Foi nesse momento que apareceu o projeto da Kickante [um site de financiamento coletivo, que criou um projeto de crowdfunding para bancar os treinamentos da atleta]. Eles pediram apoio para divulgar o trabalho deles no Brasil, mostrar como é possível arrecadar fundos pela internet. Eu entrei como cobaia. Foi um trabalho muito legal. Arrecadei cerca de R$ 40 mil e foi com isso que eu banquei a viagem para a Europa, que acabou marcando a retomada da minha carreira. E também valeu pelas recompensas. Quem contribuiu veio acompanhar treino, tirou foto, recebeu camisa autografada. Eu faria tudo de novo. Essa proximidade com os fãs que é criada é muito gratificante. É tão bom quanto ganhar medalha olímpica.

Maurren Maggi - Bruno Doro/UOL  - Bruno Doro/UOL
Maurren Maggi mira os Jogos Pan-Americanos de 2015 e a Olimpíada de 2016
Imagem: Bruno Doro/UOL


UOL Esporte: E você está treinando sem nenhum apoio?
Hoje treino por conta, com apoio da Caixa, que é patrocinadora da Confederação (Brasileira de Atletismo). Mas estou feliz da vida. Enquanto achar que tenho condições de ficar na pista, faço o que quero, não o que os outros mandam.

UOL Esporte: Este ano você não registrou nenhum marca....
Não fiz nenhuma marca na Alemanha. No ano passado, fiz 6,28m. Este ano, não consegui saltar nada, acabei sentindo e achei melhor me poupar. Mas foi um ano morto, atípico para o atletismo. Pensei em retomar agora para estar bem para o ano que vem.

UOL Esporte: Hoje, para brigar por medalhas em grandes competições, é preciso saltar pelo menos 6,90m. Você ainda consegue isso?
Treinando em alto nível, em boas condições, como estou agora, me vejo saltando 6,80m. Já foi o tempo que saltava sete metros toda hora. Em grandes competições, sei o que é preciso para saltar essa distância. E é possível fazer isso saltando 6,80m. Eu sei que sou capaz.

UOL Esporte: E como fica o projeto olímpico com a Globo nesse período?
A experiência que estou tendo dentro da Globo é excelente. Acho que pode ser o início de outra carreira. Eu sempre amei televisão, sempre gostei de falar, das câmeras, do público. É meio caminho andado. Agora, todos estão cientes da minha situação. Se estiver competitiva em 2016, com condição de conquistar uma medalha, ninguém vai querer me impedir de brigar por isso. Mas, se não for assim, não tenho porque estar lá. Vou ajudar muito mais do outro lado, sendo comentarista, ajudando os atletas.

UOL Esporte: E quando encerrar a carreira? Já tem ideia do que vai fazer?
Hoje, me vejo trabalhando na TV. Gosto desta situação, sempre gostei. Ou então fazendo algo relacionado a moda. Curto também. Mas, no momento, tenho metas dentro da pista. Estou pensando na minha carreira. Eu quero, também, escrever um livro. Eu comecei a escrever no iPad, colocando alguns relatos. Mas não tem como terminar o livro sem terminar a carreira. Ficaria vago. Assim como o filme que querem fazer. Vamos esperar.