Árbitra de atletismo viu dardo atravessar pé em 2006. Hoje, tem vida normal
O Estádio Ícaro de Castro Melo, em São Paulo, era a meca do atletismo brasileiro em setembro de 2006. Na ocasião, alguns dos principais nomes da modalidade estariam em ação no Parque do Ibirapuera – casos de Maureen Maggi, no salto em distância, e Jadel Gregório, no salto tripo.
No entanto, outro nome acabou ganhando as manchetes do dia 24 de setembro, último dia de provas: Lia Mara Lourenço, árbitra que teve o pé atravessado por um dardo de atletismo. O objeto pesa entre 400 g e 800 g.
A imagem correu o mundo na época. Naquele dia, Lia Mara recolhia dardos arremessados durante a disputa da modalidade quando um atleta da equipe fez sua tentativa. Sem perceber, Lia entrou na trajetória e acabou tendo seu pé acertado.
De princípio, a árbitra ficou paralisada. Depois, caiu no chão. Foi atendida e hospitalizada. Chefe da arbitragem da competição, Ricieri Dezem isentou a organização. Quatro dias depois, Lia Mara recebeu alta.
“Me mandaram a princípio ao Hospital do Servidor (Público, o Iamspe), que atendia a competição no dia. De lá, minha filha me levou para o Hospital Nove de Julho com o meu convênio. Depois tive fisioterapia e eles (Confederação Brasileita de Atletismo, a CBAt) me ajudaram”, comentou a hoje ex-árbitra, em entrevista por telefone ao UOL Esporte.
A gravidade da cena, entretanto, não interrompeu a carreira de Lia Mara Lourenço como árbitra, iniciada na década de 1990. Bancária aposentada, ela – que jamais competiu – diz que caiu “de paraquedas” no mundo do atletismo.
“Meu irmão (Ronaldo Lourenço) era do metiê, ainda arbitra. Eu estava passando uma fase difícil, estava precisando de um complemento de renda. Não me acho burra. Estudei, fui ficando e fiquei esse tempo todo”, explica ela – no caso, “mais de dez anos” de carreira.
Ao longo da carreira, Lia Mara estudou e aprendeu a fazer “de tudo” como árbitra de atletismo. O arremesso de dardo, porém, não era sua principal prova. “Eu era mais especializada em saltos verticais, para cima – no caso, salto em altura e salto com vara”, relembra.
Até que veio o Troféu Brasil de 2006 e o dardo no pé esquerdo. O susto foi grande, mas o incidente praticamente não deixou sequelas – apenas uma cicatriz.
“(O dardo) transpassou o pé de um lado para o outro. Para andar, não tem dificuldade nenhuma. Só um pouco para usar saltos, na curva do pé”, diz ela.
Passado o período de hospitalização, Lia Mara recebeu o auxílio da CBAt para as posteriores sessões de fisioterapia. Apesar da gravidade da cena, não cogitou tentar uma indenização na Justiça.
“Eu teria que levar testemunhas. Acho que ninguém iria”, conta, pouco empolgada.
Por outro lado, o incidente no Ibirapuera fez com que Lia Mara passasse – ainda que por um breve período – a ser reconhecida. “Viajei para o Canadá e me reconheceram no Aeroporto de Curitiba”, relembrou.
No ano sequinte ao acidente, Lia Mara foi chamada para trabalhar como árbitra dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. Com o curso Nível 1, tinha a capacitação exigida para trabalhar em eventos da CBAt e da IAAF. Recuperada, comemorou.
“Fui para o Pan, que eu queria ir”, contou. “Eu queria ir ao Pan, então foi um sonho realizado.”
Passado o Pan de 2007 no Rio, Lia Mara se aposentaria pouco tempo depois. Ainda hoje, mora em São Paulo e leva uma “vida normal”, segundo ela – apenas com a cicatriz e o incômodo no pé esquerdo na hora de usar um sapato de salto alto.
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