O que é leishmaniose? Entenda a doença contraída por Maurren Maggi
Campeã olímpica no salto em distância nos Jogos de Pequim, em 2008, Maurren Maggi revelou nesta semana que pegou leishmaniose. A suspeita é de que a ex-atleta tenha contraído a doença na República Dominicana, onde participou das gravações do reality show "Exathlon Brasil", exibido pela TV Bandeirantes no fim de 2017.
Na atração, os participantes passavam por situações extremas, como dormir no meio do mato e sem acesso a banho, e por provas que exigiam alta capacidade física na tentativa de faturar um prêmio de R$ 350 mil. Maurren foi a terceira colocada, e o ex-patinador Marcel Stürmer se sagrou campeão.
Mas, afinal, o que é a leishmaniose? É contagiosa? Maurren corre riscos? O UOL Esporte tirou dúvidas sobre a doença com o médico Valdir Sabbaga Amato, professor associado do Departamento de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O que é?
A leishmaniose é de fácil diagnóstico, mas necessita de agilidade no tratamento. O protozoário do gênero Leishmania, causador da doença, tem variedades baseadas na região em que vive e na forma como irá se manifestar no corpo humano. A transmissão ocorre apenas por intermédio do mosquito flebótomo - mosquito-palha, birigui e cangalha são outras denominações populares do inseto. Ou seja, não é contagiosa por qualquer contato que não seja a picada do mosquito infectado pelo parasita.
Sintomas e tratamento
Há dois tipos de leishmaniose. A tegumentar ou cutânea, mais frequente e menos perigosa, provoca feridas na pele e em mucosas, como nariz e céu da boca. Com medicação específica e agilidade no tratamento, demora em média 15 dias para ser controlada e cerca de um mês para a recuperação total.
A outra forma, a visceral, requer muito cuidado, já que o protozoário age de forma diferente, alojando-se em órgãos internos, como fígado, baço e medula óssea. Provoca febre intensa e perda de peso. Com medicação específica e agilidade ainda maior no tratamento, demora 28 dias para ser controlada e três meses ou mais para a recuperação completa.
"Quando ocorre na forma clássica, a visceral é muito perigosa. Se não for tratada, leva ao óbito, principalmente se atingir a medula óssea", alerta o médico Valdir Sabbaga Amato.
Mesmo com os relatos da ex-atleta e de um vídeo publicado no Instagram, que mostra uma ferida sendo coberta com curativo, não é possível determinar qual é o tipo da leishmaniose sem a investigação clínica, mas o especialista dá indícios de diagnóstico.
"O que vai diferenciar uma da outra é a espécie de parasita que a picou. Mesmo no início do ciclo, a cutânea gera uma úlcera. Na visceral, não tem úlcera, e sim aumento de órgãos e alteração de hemograma [contagem dos glóbulos do sangue]", resume Amato.
Prevenção difícil
Embora tenta tratamento e medicação específica disponível, prevenir a leishmaniose é uma missão árdua, já que é difícil controlar os focos do mosquito transmissor. "Ele se prolifera fácil e é resistente a inseticidas. O inseto se fixa em qualquer área com matéria orgânica em decomposição, desde fezes de animais até folhas mortas", destaca Amato.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a leishmaniose uma das 18 doenças negligenciadas da medicina - a dengue também integra a lista. Doença negligenciada é a denominação àquela causada por agentes infecciosos ou parasitas, e considerada endêmica em populações de baixa renda, mas que não são erradicadas por falta de incentivo, ou de interesse, da saúde pública.
Segundo relatório de 2017 da OMS, houve avanço global no combate às doenças negligenciadas, que matam 170 mil pessoas por ano. Um dos incentivadores do programa de erradicação é o bilionário norte-americano Bill Gates, fundador da Microsoft.
No Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados em agosto de 2017, houve queda nos casos de leishmaniose no Brasil nos últimos dez anos. Do tipo cutânea, passou de 3.597 infectados, em 2005, para 3.289, em 2015 (queda de 9%). Já da visceral, regrediu de 26.685 casos, em 2005, para 19.395, em 2015 (redução de 27%).
A região Norte registrou a maioria dos casos de leishmaniose cutânea (8.939 em 2015), enquanto a visceral é mais frequente no Nordeste (1.806 no mesmo período). Antes um problema quase exclusivo das regiões mais tropicais do Brasil, a doença ganhou abrangência nacional nos últimos anos.
"A partir da década de 1980, se expandiu pelo país. O vetor [mosquito] se adaptou a outras regiões, se urbanizou. Há várias teorias para isso, uma delas é o aquecimento global. Em 1999, São Paulo registrou o primeiro caso de leishmaniose, na cidade de Araçatuba. No Noroeste do Estado, já é endêmica. Em 2016, houve o primeiro óbito por leishmaniose visceral no Rio Grande do Sul", conta o médico Valdir Sabbaga Amato.
Em agosto, os órgãos públicos de saúde do país promovem a Semana Nacional de Combate e Prevenção à Leishmaniose, com ações preventivas e debates sobre as formas de tratamento à doença, entre outras atividades.
Infectada no reality show?
A não ser que exames mostrem que o tipo de protozoário que infectou Maurren é comum na América Central, afirmar que a doença foi contraída na República Dominicana, local das gravações do "Exathlon Brasil", é mera suposição.
Mas o país caribenho não está fora da lista das áreas de risco. Pelo contrário. Reportagem da emissora britânica BBC, de junho de 2016, alertava para a proliferação de leishmaniose entre imigrantes do Oriente Médio que chegaram à América nos últimos anos como refugiados.
Os principais intermediários do parasita que provoca a doença seriam os sírios - que convivem com endemia de leishmaniose há mais de dois séculos.
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