Adaptado, Alex desmistifica vida de terror em Israel

Giancarlo Giampietro
Em São Paulo

A explosão de uma bomba interrompeu partida da Liga Israelense de basquete e causou também o estouro de uma boataria em Orlândia e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Os familiares e amigos se desesperaram. A 10.588 km de distância, o ala-armador Alex Garcia, epicentro das preocupações, estava alheio ao alvoroço.

AFP
Apesar da desvantagem na altura, Alex (d) compensa com aplicação tática em Israel
"CADA UM POR SI NA SELEÇÃO"
MONSALVE E O ENIMGA BRASILEIRO
ENFOQUE À PREPARAÇÃO FÍSICA
No duelo entre Hapoel Jerusalem e Hapoel Holon, um torcedor atirou um explosivo caseiro em quadra. Ao tentar retirá-lo do local, o segurança Yoav Glitzstein acabou alvejado. A cirurgia de nove horas não evitou que tivesse dois dedos amputados. O confronto foi cancelado e resultou no adiamento da rodada dos campeonatos masculino e feminino.

Para Alex, do Maccabi, esse foi o único episódio em que o terror se manifestou em sua vida em território judaico. Mas ele estava a cerca de uma hora dali, mais precisamente em Tel Aviv. "Quando aconteceu, teve 'nego' que falou que já tinha sido em jogo nosso. Todos ligaram aqui. Falaram até que estávamos desaparecidos, um absurdo", relembra o jogador da seleção brasileira.

"Mas foi em Jerusalém, em outra cidade. Um episódio isolado", ressalta. "Aqui o torcedor é muito fanático, para tudo, futebol, vôlei, basquete. Aí um fanático lá pegou a bomba caseira e jogou dentro da quadra."

Com seis meses de vida em Tel Aviv e adaptado a um dos maiores clubes do mundo, Alex, 28, desmistifica a noção de perigo em uma transação para Israel. "Tinha receio, sim [antes de fazer a mudança], que nem todo mundo que estava aí e pensa que poderia acontecer. Até falei com os agentes. Quis conhecer antes de assinar. No fim, é uma cidade bonita, turística", conta. "A gente mora de frente para a praia."

Diante do mar e com muitos caprichos. Se a rotina tira o temor de incidentes de cena, o Maccabi procura oferecer a seus atletas os mínimos cuidados para que a transição seja tranqüila. "O clube trata seus jogadores como reis, é até melhor do que os times da NBA fazem", afirma Yarone Arbel, jornalista e scout israelense.

O gerente geral e vice-CEO Moni Fanan é quem cuida do bem-estar dos seus contratados, com atenção aos mínimos detalhes. "Os jogadores acham que ele é um segundo pai, às vezes até o primeiro", brinca Arbel.

VEJA IMAGENS DO "ATENTADO"
Entre as histórias em torno desse 'pronto-socorro', destacam-se algumas passagens: quando o ala Anthony Parker [hoje nos Raptors], disse a Fanan no início de um treino que seu aparelho de microondas estava com um pequeno problema, ao final da sessão ele já tinha um novo eletrodoméstico em seu carro; quando os atletas chegam do aeroporto para seus flats, o freezer já está cheio; e, quando um norte-americano certa vez se envolveu em um acidente de carro após uma noitada, entrou em contato com o diretor de madrugada, e o local foi 'limpo' antes mesmo de a polícia aparecer.

Em suma: "Você só precisa se preocupar com o seu jogo", nas palavras de Arbel. E é aí que entra o empenho e talento de Alex, que garantiu vaga em uma rotação de concorrentes de peso, com seis atletas que já tiveram passagem pela NBA, três revelações locais e o pivô croata Nikola Vujcic, considerado um dos melhores da história da Euroliga.

"Consegui meu espaço na defesa. A gente teve alguns jogos importantes na primeira fase da Euroliga, com os adversários pontuando muito. Eu neutralizei esses jogadores. Buscamos o placar e viramos. Fui ganhando, então, mais confiança do técnico e peguei confiança também", diz Alex, que tem médias de 18 minutos por partida na competição continental, apesar do 1,89 m, estatura considerada baixa para a posição.

A dedicação a bolas perdidas e lances de garra já o alçam à condição de um dos favoritos da torcida, cuja paixão pode ser equiparada à dos brasileiros por seus jogadores de futebol. "No ginásio é brincadeira. Todo jogo é casa lotada, com 12 mil pessoas. Eles cantam o jogo inteiro. Na rua todos sabem quem você é."

Agora, quando a fase não é das melhores, vem o contrapeso. Não é comum que o Maccabi - 46 vezes campeão nacional desde a fundação em 1932 - perca na liga. Neste ano, isso já aconteceu cinco vezes. "Aí o pessoal te aborda na rua e quer saber o que está acontecendo. Não chega a brigar, mas cobra. A sorte é que eu saía pouco."

Pois essa "má fase" passou. O clube é o líder do campeoanto e está na quartas da Euroliga, a uma vitória, no confronto com o Barcelona, na quinta-feira, de retornar ao "Final Four". Para esses testes, Alex é considerado fundamental.

No que depender do staff do Maccabi, sua estadia em Tel Aviv deve ser prolongada. Apenas um atentado poderia mudar essa figura. Mas não como o incidente de novembro passado. "Aquilo foi que nem bombinha de festa de São João. Aqui em Tel Aviv, tenho companheiros que estão há 14 anos e disseram que nunca aconteceu nada. Nunca vi nada acontecer. Se tivesse, já teria ido embora."


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