UOL Esporte Basquete
 
12/11/2009 - 07h00

Com salários atrasados, Flamengo desiste de greve e busca motivação em torcida

Daniel Neves
Em São Paulo

 

DIRETORIA IGNORA AMEAÇA DE GREVE

  • Maurício Val/VIPCOMM

    A ameaça de greve feita pelos jogadores do Flamengo não abalou a diretoria do clube. Em busca de uma solução para os salários atrasados do basquete, Carlos Eduardo Maia ignorou a possibilidade de uma paralisação e “abriu a porta da rua” para os insatisfeitos.

    “Se acharem que tem que fazer greve, não estou aqui para ensinar um profissional a trabalhar. Por princípio, sou contra todo tipo de greve. Se não está satisfeito, que mude [de equipe]”, disse o vice-presidente de esportes olímpicos.

    Os jogadores, porém, negam qualquer possibilidade de deixar o Flamengo. Identificados com o clube, os atletas esperam que sua situação seja regularizada, apesar de criticarem a atual gestão dos esportes olímpicos.

    “Nós não conseguimos entender qual é a realidade do clube. Ao mesmo tempo que eles dizem que o Flamengo vive sua melhor situação financeira dos últimos anos, devem salários para várias modalidades olímpicas, não só o basquete”, disse o armador Hélio.

    Diante da realidade desanimadora dentro do clube, Hélio revelou que a opção encontrada pelos jogadores foi chamar a atenção para o problema pela mídia. “Tentamos lavar a roupa suja dentro de casa. Como não deu certo, partimos para a imprensa e as coisas caminharam um pouco”.

    “Demos um voto de confiança, pois não temos outra coisa para fazer. O nosso máximo está chegando no limite. Conquistamos títulos, lotamos os ginásios nas finais e o respaldo não vem”.

Atual bicampeão nacional, o Flamengo iniciou a segunda edição do Novo Basquete Brasil (NBB) com a repetição dos mesmos problemas do último ano. Com salários e premiações atrasados, os jogadores do time carioca chegaram a cogitar uma greve, mas desistiram da paralisação e buscam no apoio da torcida a motivação continuar trabalhando.

“Pensamos em deixar de atuar, para ver se solucionava o problema. Mas fizemos uma reunião na terça-feira e desistimos da greve. Temos um compromisso com a torcida. Deixar de jogar é um desrespeito com o torcedor que paga ingresso e vai às partidas”, disse o armador Hélio. “A torcida está do nosso lado, já até fez protesto contra essa situação. Por isso, ninguém precisa provar que é mercenário ou que só pensa em dinheiro”.

Na próxima segunda-feira, os jogadores do Flamengo completarão três meses sem salários. Os atletas também não receberam as premiações pela conquista dos títulos das edições anteriores do NBB e da Liga Sul-Americana. Além disso, a maior parte do elenco do time carioca sequer tem contrato e vem entrando em quadra sem nenhum vínculo.

Mais até do que o salário atrasado, a falta de compromisso assinado é a maior preocupação dos atletas. A diretoria do Flamengo havia prometido aos jogadores que os contratos seriam entregues antes da viagem da equipe para a Liga Sul-Americana, em outubro. Agora, os dirigentes afirmam que os vínculos serão assinados até a próxima sexta-feira.

“É difícil de acreditar, pois cada hora dizem uma coisa. É um problema burocrático que tem nos atrapalhado demais. Além disso, não sei mais quem é o responsável. É tanta gente mandando que estamos sem saber com quem está a questão dos contratos”, disse Hélio.

Se a questão do contrato parece estar bem encaminhada, o mesmo não se pode dizer dos salários. A própria diretoria do Flamengo admite que não há previsão para o pagamento dos atrasados, mas busca uma solução para o caso. “Flamengo tem vários problemas, mas estamos todos trabalhando. Eu já não aguento mais essa situação, pois é muita pressão em cima de mim”, disse o vice-presidente de esportes olímpicos do clube, Carlos Eduardo Maia.

Sem previsão de receber, os jogadores do Flamengo tentam não perder a motivação. Em suas duas primeiras partidas no NBB, vitórias arrasadoras sobre Cetaf e Saldanha. No fraquíssimo Campeonato Carioca, vitórias por larga margem de diferença e mais um título estadual encaminhado.

“Tem de estar iluminado, pois cada dia é uma história. Temos de pedir a Deus para iluminar as nossas palavras, para falar com os jogadores a ponto de não deixar esse grupo desanimar com esses problemas”, disse o técnico Paulo Chupeta.

Apesar dos bons resultados no início da temporada, os próprios jogadores do Flamengo já admitem que não sabem até quando conseguirão impedir que os problemas externos atrapalhem o rendimento da equipe. “Estamos com a cabeça a mil, o time está uma pilha de nervos. Só estamos conseguindo levar essa situação porque temos um grupo fantástico. Se não fossemos tão amigos, já estaríamos no fundo do poço”, disse Hélio.

O armador revelou que conta com o apoio da família para superar o problema financeiro no dia a dia. ”Quem sofre é a esposa, os parentes. Vai chegar uma hora que isso vai influenciar dentro de quadra. Uma hora vai ficar tão grande que não vai existir palavra que console. Nem parece que receber o salário é nosso direito. Parece que estão nos fazendo um favor”.

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