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Com Carmelo, assistir aos Knicks vira questão de sorte e peregrinação

Carmelo Anthony é mostrado no telão do Madison Square Garden, em Nova York - Ricardo Zanei/UOL
Carmelo Anthony é mostrado no telão do Madison Square Garden, em Nova York Imagem: Ricardo Zanei/UOL

Ricardo Zanei

Em Nova York (EUA)

02/04/2011 12h00

É difícil ver os Knicks. Primeiro, porque o time não tem apresentado um basquete vistoso. Segundo, com a chegada da estrela Carmelo Anthony, comprar ingressos para uma partida da equipe em New York virou uma missão praticamente impossível. Para adquirir uma entrada, é preciso contar com a sorte e fazer uma verdadeira peregrinação.

Meu objetivo era ver o maior número de jogos dos Knicks na primeira semana da minha vida em NY. Mal sabia o turista aqui que estava apenas começando uma odisseia. O culpado: Carmelo. Após sua chegada, todos os jogos da equipe no Madison Square Garden têm casa cheia. E todos os ingressos até o fim da temporada regular já foram vendidos.

Bati o martelo da minha viagem no dia 10 de março. Sairia de São Paulo no dia 22, com chegada prevista nos EUA no dia seguinte. Seriam 13 dias para comprar ingressos, ou seja, tempo de sobra. Engano meu: começava aí a agonia.

Patrick Ewing é ovacionado em NY

  • Patrick Ewing aparece no telão na partida entre New York Knicks e Orlando Magic, pela temporada regular da NBA, e é ovacionado pela torcida no Madison Square Garden; ex-pivô é um dos maiores ídolos da história de Nova York

Em todos os sites oficiais de venda de ingressos (StubHub.com, Ticketmaster.com), o mapa do Madison Square Garden indicava: “No seats… now what? Keep checking back – sometimes reserved seats are released before the event” (em tradução livre, “Sem ingressos... E agora? Fique clicando - às vezes, assentos reservados são liberados antes do evento).

Foi o que eu fiz. Todos os dias, uma, duas, dez vezes, os sites recebiam os meus cliques. E nada de ingresso para os jogos contra Orlando Magic, dia 23, Milwaukee Bucks, dia 25, e novamente Magic, dia 28.

O dia especial

Embarquei de mãos abanando, mas coloquei na cabeça: o primeiro lugar de NY que conheceria seria "The Garden". Voo atrasou em São Paulo, logo, cheguei mais tarde do que o previsto nos EUA. Para completar, um acidente acabou com o trânsito de NY, e o trajeto entre aeroporto e hotel, estimado em até uma hora, demorou quase duas.

Por sorte, meu hotel ficava exatamente em frente ao MSG, e lá fui eu. Na fila, dois senhores, dois casais de amigos e eu. Sabe deus o que os senhores compraram (o local recebe um enorme número de eventos, não só esportivos), mas os casais de amigos, em bom espanhol, conversaram com um segurança sobre ingressos para os jogos dos Knicks. "Acho difícil. Geralmente, estão esgotados, mas vale confirmar na bilheteria."

Os casais se aproximaram. O bilheteiro, Dennis Gonzalez, disse que tinham aparecido no sistema há cerca de 15 minutos quatro ingressos a US$ 89,50 para o jogo daquela noite, e era só o que tinha disponível. Foi aí que meu santo brilhou: a turminha achou caro, e eu desembolsei os R$ 157 (na cotação de R$ 1,75 por US$ 1) com gosto e, confesso, emoção. Nem mesmo o local do ingresso, mezanino, lá em cima, quase na última fileira do ginásio e com “visão limitada”, como dizia o bilhete, importou.

Veja assistência de Carmelo

"E entradas para os jogos contra os Bucks e de novo contra o Magic?", perguntei. "Näo tem nada, você tem que vir aqui várias vezes ao dia e ver se alguém devolveu. Depois que o Carmelo chegou, a temporada inteira está esgotada", respondeu.

Por volta de 18h50, mais de uma hora antes do jogo, atravessei a rua e fui para a minha estreia no MSG. A barreira número 1 para se chegar à quadra é uma fiscalização em sua mochila. E só passa com ingresso na mão. Passei, e me vi diante de uma aglomoração enorme de torcedores à espera da abertura dos portões.

Exatamente uma hora antes, a entrada é liberada. A verificação é manual, via código de barras, e você leva para casa o ingresso intacto. No caminho para o meu lugar (uma subida por umas seis escadas rolantes, no mínimo), gastei US$ 8,75 com uma cerveja (long neck e, lembrem-se, eu estava em NY a passeio) e US$ 6,25 com um cachorro quente (pão e uma salsicha, que você pode melhorar com catchup e mostarda, e só).

A primeira visão da quadra é impactante. Dá uma sensação boa só de pensar que gênios do esporte e da música estiveram por ali. Naquela noite, craques como o ex-pivô Patrick Ewing e a cantora Aretha Franklin foram ovacionados e prefiro pensar que eles dividiram seus assentos comigo (os deles, claro, bem mais perto da quadra). Quem não ajudou foi o time da casa: os Knicks jogaram muito mal e perderam para o Magic. Sonho realizado, mas eu queria mais.

A peregrinação

Se o MSG é a meca do esporte, começava aí a minha peregrinação diária ao local. Religiosamente, era o primeiro lugar que eu ia em todas as manhãs e em todas as vezes que eu passava por ali durante o dia. Quando voltava ao hotel, fazia o mesmo na Internet.

Na quinta-feira, dia 24, fiz amizade com o segurança Adama Traore, que me cantou uma bola. “Está vendo aquele estacionamento ali do outro lado da rua? Todos os dias de jogos, se você parar ali umas 16h, vai ver todos os jogadores chegando. Dá para pegar autógrafo e falar com eles. Nunca tem ninguém, será você e mais uma meia dúzia de pessoas”, disse Traore, segundo ele, amigão do rapper Busta Rhymes e louco para conhecer o Brasil.

A DICA CERTEIRA

Ricardo Zanei/UOL
Está vendo aquele estacionamento ali do outro lado da rua? Todos os dias de jogos, se você parar ali umas 16h, vai ver todos os jogadores chegando. Dá para pegar autógrafo e falar com eles. Nunca tem ninguém, será você e mais meia dúzia de gente

Segurança do Madison Square Garden

Traore ainda me falou que tinha um amigo que poderia conseguir ingresso para o jogo do dia seguinte, contra os Bucks. Ao ler a palavra amigo, entenda cambista. “Vou falar com ele, me liga umas 15h30 para ver o que eu consigo”. Liguei, e nem o cambista tinha ingressos. Acabei assistindo a um jogo de hóquei, em nova derrota de um time de NY: os Rangers perderam nos “pênaltis” para o Ottawa Senators.

Dia 25, dia de jogo contra os Bucks, a ida ao MSG foi desanimadora. Nada de ingressos para nenhum jogo. À tarde, por volta das 14h, os cambistas já atuavam na parte externa do local. “Tickets, Knicks tickets! Anybody have any extra tickets, please?” (em tradução livre, “Ingressos, tenho ingressos! Alguém tem ingresso sobrando?”). No fim da tarde, eles já agiam a dois, três quarteirões do MSG.

Os Knicks perderam para os Bucks, o sexto revés consecutivo. Mas eu perdia bem mais que o time de Carmelo. Sábado, domingo e segunda (dias 26, 27 e 28), repeti a minha sina, com 100% de insucesso. Nem com o cambista amigo do segurança eu conseguia o meu bilhete. Pior: na Internet, apareceram ingressos para o jogo de segunda-feira, mas, ao finalizar a compra, o sistema alegava erro.

Resolvi, então, ver a chegada dos jogadores. Cheguei por volta das 16h20 na porta do estacionamento, localizado na 31th Street, entre a 7ª e 8ª avenidas. Atravessando a rua, fica a entrada do staff e dos jogadores. No total, 13 torcedores esperavam pelos atletas em meio a um frio de 3 °C (com o vento gelado, a sensação térmica era de menos alguma coisa).

Os novatos Landry Fields e Andy Rautins atenderam a todos, assim como o veterano Anthony Carter. Depois, nada de muita simpatia. Amare Stoudemire chegou de terno, segurança para abrir caminho e deixou alguns fãs a ver navios. Operação de guerra também para Chauncey Billups e Ronny Turiaf. Fui embora depois que Carmelo apareceu, 1h20 após a minha chegada: meia dúzia de autógrafos, dezenas de fotos, poucas palavras. No caminho de volta ao hotel, cambistas se espalhavam em frente ao MSG. Seguranças, com megafones, avisavam sobre o perigo de se comprar um ingresso que pode ser falso.

Confesso que fiquei com vontade de arriscar, afinal, era minha última noite em NY. Mas resolvi seguir o conselho dos seguranças. Acabava ali a minha peregrinação. Contei com a sorte no primeiro dia, mas o esforço dos demais não foi recompensado. Enfim, nada de decepção, afinal, o sonho foi realizado.

O MAIS VALIOSO: O INGRESSO PARA O CLÁSSICO KNICKS X MAGIC EM NY

Os números

Vi pela TV os Knicks encerrarem uma série de seis tropeços batendo o Magic na prorrogação. Em seguida, nesta quarta, dia 30, quando eu já estava no Brasil, a equipe superou o New Jersey Nets. Nos dois jogos, Carmelo brilhou, anotando 39 pontos em cada um.

Antes dele, o time somava 28 vitórias e 26 derrotas (com 51,85% de aproveitamento). Depois da chegada da estrela, contratado no dia 22 de fevereiro do Denver Nuggets, são 9 vitírias e 12 derrotas (42,86%). Destes, 10 jogos foram no Madison Square Garden, todos com lotação completa, 19.763 torcedores. A sete jogos do fim da temporada regular, os Knicks aparecem em sétimo na Conferência Leste, com 37 vitórias e 38 derrotas (49,3%) e perto de conquistar vaga nos playoffs.