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Lenda dos EUA critica dispensa de brasileiros da NBA e opção por Magnano na seleção

Larry Brown defendeu a importância das seleções nacionais e criticou dispensas - Júnior Alves/ASE
Larry Brown defendeu a importância das seleções nacionais e criticou dispensas Imagem: Júnior Alves/ASE

Daniel Neves

Em São Paulo

05/08/2011 17h49

Lenda do basquete norte-americano, Larry Brown está no Brasil para ministrar uma clínica voltada a técnicos do país. Integrante do Hall da Fama e único treinador a conquistar títulos na NBA e na NCAA, o norte-americano defendeu a importância das seleções nacionais e criticou os pedidos de dispensa dos brasileiros que atuam na liga profissional dos Estados Unidos.

BROWN VÊ TEMPORADA DA NBA SOB RISCO

  • Júnior Alves/ASE

    O locaute na NBA causa preocupação em Larry Brown. Atualmente sem equipe, o técnico lamentou o impasse na liga e admitiu que existe o risco real de que toda a temporada seja cancelada.

    “Sempre há o risco. No hóquei, que estava em situação financeira parecida com a do basquete, eles perderam toda a temporada. No futebol americano, a questão era como dividir o lucro que eles estão tendo. No basquete é sobre como parar de ter prejuízo, o que torna tudo mais difícil”, disse o técnico.

    Brown lembrou os prejuízos sofridos pelas equipes menores na última temporada, apesar da grande popularidade atingida pelo basquete. O treinador, porém, não acredita que a redução no número de franquias seja uma opção viável.

    “Não seria bom para o basquete. A competição seria melhor, mas não acredito que você possa reduzir o número de times. Isto nunca aconteceu”, disse Brown. “Se o atual sistema continuar, teremos mais franquias com prejuízo e veremos os melhores atletas atuando em poucas equipes, como ocorreu com o Miami”.

    Larry Brown já comandou nove equipes na NBA, sendo a última delas o Charlotte Bobcats, entre 2008 e 2010. Aos 71 anos, o treinador desconversa sobre o futuro, mas não descarta voltar ao banco de reservas na próxima temporada – se ela ocorrer.

    “Minha situação é que... estou no Brasil pela primeira vez e estou muito feliz”, brinca o técnico. “Estou com 71 anos e alguns acham que estou muito velho. Eu apenas observo e aprendo. Talvez eu volte algum dia, não sei”.

“É um grande erro os brasileiros da NBA não quererem jogar pela seleção nacional. Não sei por que isto acontece, eles devem ter suas próprias razões. Mas se você tem orgulho de seu país e quer ajudar a desenvolver o basquete, os melhores atletas precisam jogar [na seleção]”, disse Brown. “Estive na França dois anos atrás e vi o quanto os jogadores de lá querem estar com a seleção. O Dirk Nowitzki quer jogar pela Alemanha no campeonato europeu”.

Mais que os resultados da seleção principal, Larry Brown ressalta a importância que os melhores atletas do país têm para o desenvolvimento do basquete junto aos jovens. Para o norte-americano, é essencial que os brasileiros que atuam na NBA passem a valorizar mais a seleção nacional, servindo de exemplo às futuras gerações.

“As crianças vão crescer, querer jogar basquete e ver o quanto é importante representar seu país. Desperta o desejo de evoluir e continuar jogando. Eles veem Spliter jogando, Leandrinho jogando, mas precisam ver todos jogando. Defender a seleção de seu país precisa ser a coisa mais importante, acima da NBA”, comentou o treinador.

Larry Brown também sofreu com problemas de dispensas. Técnico da seleção dos Estados Unidos nas Olimpíadas de Atenas-2004, viu nove dos 11 convocados inicialmente pedirem para não defender o time nacional, que amargou sua primeira derrota olímpica com atletas profissionais e obteve apenas a medalha de bronze.

“Anos atrás, se você perguntasse para um jogador de fora dos Estados Unidos se ele preferia conquistar um título da NBA ou uma medalha olímpica, todos diriam ‘medalha olímpica’. Em meu país, o título da NBA viria primeiro. Isto começou a mudar. Dirk Nowitzki, por exemplo, deve preferir uma medalha olímpica ao título da NBA. As crianças da França também preferem a medalha olímpica”, afirmou o técnico.

Brown também falou sobre o comando de Rubén Magnano à frente da seleção brasileira. O treinador fez questão de elogiar o colega argentino, campeão olímpico em 2004, mas afirmou que os técnicos brasileiros têm razão por se sentirem incomodados com um estrangeiro na direção do time nacional.

“O Brasil tem um grande técnico atualmente, já joguei contra ele algumas vezes. É um treinador fenomenal. Está fazendo um trabalho incrível, mas pessoalmente acharia estranho ter um técnico estrangeiro na seleção dos Estados Unidos. Me sentiria desconfortável com isto, o que não ocorreria se ele fosse apenas um consultor”, disse o norte-americano. “É uma coisa boa ter um técnico local, que está familiarizado com os jogadores desde que são muito jovens e estão em desenvolvimento”.

“Fui convidado para ser treinador da França, mas aceitei ser apenas um consultor, um conselheiro. Achei importante ter um francês como treinador principal e que eu o ajudasse no que fosse necessário”, afirmou Brown, que defendeu um maior intercâmbio internacional entre técnicos. “É importante que os técnicos brasileiros ou norte-americanos viajem a outros países para aprender, porque as pessoas jogam com estilos diferentes ao redor do mundo”.