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Magnano muda a cara do basquete brasileiro e trabalha para deixar legado fora de quadra

Magnano mudou a imagem do Brasil em quadra e trabalha a formação de novos talentos - Maxi Failla/AFP
Magnano mudou a imagem do Brasil em quadra e trabalha a formação de novos talentos Imagem: Maxi Failla/AFP

Daniel Neves

Em Mar del Plata (Argentina)

10/09/2011 12h02

Um argentino tem sido o responsável por transformar completamente a cara do basquete brasileiro. Há um ano e meio no comando da seleção masculina, o campeão olímpico Rubén Magnano implementou uma maneira totalmente diferente de jogar, transformou o time nacional em uma equipe extremamente competitiva e ainda não se limita ao trabalho dentro de quadra, atuando ativamente na evolução das categorias de base e na repopularização do esporte no país.

Dentro de quadra, o Brasil se transformou completamente sob o comando de Magnano. Conceito pouco valorizado no país até então, a defesa virou a grande obsessão do time nacional, que passou a jogar de igual para igual com as melhores seleções graças a sua marcação sufocante sobre os rivais.

Magnano ainda pôs fim ao basquete de velocidade e muitos arremessos praticado até então e colocou em prática um estilo muito mais cadenciado, similar ao utilizado na Argentina e na Europa. Com o argentino, o país deixou de concentrar seu jogo nos melhores arremessadores e adotou uma maneira coletiva de atuar, girando a bola e procurando o atleta melhor posicionado para o chute.

“Desde meu primeiro dia de trabalho disse aos jogadores que o Brasil deveria criar um selo. Deviam transmitir às pessoas uma atitude, conquistar as pessoas que admiram o basquete no Brasil através de atitudes, não de palavras”, comentou o treinador.

Apesar do ótimo trabalho à beira da quadra, o argentino não se limita apenas a comandar a seleção principal nas competições. Magnano abraçou a causa da reestruturação do basquete brasileiro e no último ano realizou uma série de viagens pelo país para observar categorias de base de várias regiões e trocar conhecimentos com os treinadores locais.

A preocupação com a formação de novos atletas fez com que Magnano se mudasse para o interior de Minas Gerais. O treinador passou a morar em São Sebastião do Paraíso, pequena cidade a 400 Km da capital Belo Horizonte e onde está localizado o centro de treinamento das categorias de base da CBB. Ali, o argentino participa ativamente nas atividades da seleção brasileira de desenvolvimento, criada no ano passado para preparar jovens atletas para o time nacional.
 

Detalhista e exigente, o treinador é rigoroso sobre seus métodos de trabalho. Desde a fase preparatória para o Pré-Olímpico, Magnano fechou todos seus treinamentos para os jornalistas, permitindo a entrada da imprensa apenas nos 15 minutos finais das atividades e em dias pré-determinados. Durante os jogos, proíbe a colocação de câmeras e microfones próximos do banco de reservas brasileiro para que suas instruções não sejam ouvidas.

Este controle total que Magnano detém sobre as seleções masculinas foi alvo de críticas dos treinadores brasileiros. Barrados dos treinos durante quase toda a fase preparatória, os técnicos reclamaram da autonomia dada pela CBB ao treinador e boicotaram as atividades abertas comandadas pelo argentino.

Com seu jeito extremamente educado e rígido, Magnano pode adicionar neste sábado mais um importante feito ao seu vitorioso currículo e recolocar a seleção nas Olimpíadas após 16 anos. Voltar aos Jogos, porém, é visto como um objetivo menor diante da verdadeira missão que assumiu quando veio para o Brasil. Para o argentino, o maior legado que pode deixar no basquete nacional é ajudar na repopularização da modalidade no país.

“O resultado pode ajudar a acordar várias coisas no movimento do basquete. Todos estão olhando a equipe principal, mas a verdadeira obsessão está embaixo. Que isto sirva para acordar toda a estrutura, para que daqui a 10 anos quadriplique o número de crianças que jogam basquete. Esta é a equação. Tomara que possamos colaborar com isso. Ficaria muito, muito contente com isso”, afirmou o argentino.