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Com vírus raro no coração, atleta interrompe carreira, mas celebra tempo maior para a família

Channing Frye (d), do Phoenix Suns, encara marcação de Carl Landry, do New Orleans - Christian Petersen/Getty Images/AFP
Channing Frye (d), do Phoenix Suns, encara marcação de Carl Landry, do New Orleans Imagem: Christian Petersen/Getty Images/AFP

Do UOL, em São Paulo

22/09/2012 06h00

O ano de 2012 é, definitivamente, um teste de resistência na vida de Channing Frye, jogador da liga de basquete americana. Ele acaba de saber que contraiu um vírus raro que dilatou as paredes do seu coração. Inchado, o órgão ficou também mais fraco, incapaz de bombear sangue suficiente para manter o corpo de Frye de pé.

Só há uma coisa a fazer nesses casos: descansar, esperar que o coração se livre da infecção viral, e volte a se fortalecer. Frye já sabe que perdeu a temporada da NBA, que começa em outubro. Mas agradece por não ter perdido a vida.

Talvez por isso, por ter tido a possibilidade real de morrer abortada por um exame de rotina, Frye reagiu com otimismo à notícia de que talvez tenha de abandonar à carreira aos 29 anos. “Vou passar os próximos seis meses na yoga e no golfe”, disse com bom humor aos jornalistas do Arizona, casa do Phoenix Suns, time que ele defende há quatro anos.

Não foi o primeiro susto no 2012 do ala-pivô. O ano começou para Frye com uma grave lesão no ombro, fruto de seguidas luxações e deslocamentos ao longo das duas últimas temporadas. Era como se uma bomba tivesse estourado em seus ombros, conforme metáfora dos médicos que o atenderam.

Eles recomendaram uma cirurgia, depois da qual Frye entrou em um tedioso processo de reabilitação que cruzou o verão americano e ameaçou durar até o final do ano.

FRYE ENTERRA...

  • AP Photo/Ben Margot

    No fim da última temporada, ele marca contra o Golden State Warriors

Nesse meio tempo, sentiu de perto o sofrimento de sua filha mais nova, Margeaux, que nasceu com catarata nos dois olhos. Associada à velhice, a doença raramente afeta crianças. Margeaux precisou fazer uma cirurgia nos dois olhos para substituir o cristalino por lentes de contato. Terá de usá-las durante toda a vida. Fora isso, a menina, hoje com quatro meses, nasceu completamente saudável.

Ademais, a recuperação de Frye transcorreu mais rápido do que se esperava, e ele já se sentia pronto para voltar às quadras já no início da temporada. Seus ombros melhoravam, e ele se sentia mais otimista. Em exames de rotina feitos em todos os atletas da liga para detectar desgaste e outros problemas físicos, ele foi surpreendido pelo vírus dentro do peito.

“Eu me sentia realmente bem. Meu ombro estava perfeito. Eu mexi mesmo a bunda durante todo o verão. Li um monte de coisa sobre o que eu não conseguiria fazer e estava determinado a voltar e mostrar que estavam erradas todas as críticas dirigidas ao nosso time.”

Ironicamente, quando se sentia no auge da forma física, Frye começou a flertar com a morte. Geralmente, quem sofre de cardiomiopatia dilatada (o tal alargamento do coração) sente dificuldade para respirar, dor no peito ou arritmia durante esforços físicos prolongados. Ele não tinha nada disso quando foi fazer os exames.

Por isso, ficou muito assustado quando soube do problema cardíaco, mas seu otimismo permaneceu inabalável. “Isso [o exame] pode ter salvado a minha vida, então estou ansioso para voltar a fazê-lo no ano que vem.”

Chegou ao cúmulo de sentir-se até um abençoado por, devido ao retiro forçado, poder passar mais tempo com a família. Além de ser pai de Mergeuax, Frye tem Hendrix, dois anos, e é casado com Lauren.

O Phoenix Suns, com quem tem contrato até 2015, disse que ele será reavaliado em dezembro para saber se tem condições de defender a equipe na segunda metade da temporada. Mas os médicos pediram calma e um pouco mais de realismo.

“É excepcionalmente raro ver um problema assim, e mais raro ainda em atletas”, disse Grayson Wheatley, médico do Instituto do Coração do Arizona, que não descartou um risco pequeno de deterioração que resulte na necessidade de um transplante. “O coração dele vai ter que se recuperar um pouco mais.”

...E MARCA

  • AP Photo/Sue Ogrocki

    Para evitar arremesse de Russel Westbrook, Frye pressiona até demais

Há sete anos na NBA, Frye é dono de boas estatísticas de desempenho individual. Conseguiu média de 11,5 pontos e 5,9 rebotes por jogo na última temporada, além de 434 cestas de três pontos nos dois últimos anos. Apesar disso, ele sabe que não é insubstituível: seu técnico tem pelo menos seis opções no banco para fazer a mesma função que ele.

“Definitivamente, eu não acabei”, decretou. “Quando isso acabar e os médicos me curarem, vou voltar como se não tivesse acontecido nada de errado.”

“Você não pode jogar com medo. E se você não pode jogar com medo, não jogue. Assim que eu estiver saudável, estarei mais determinado para tirar vantagem do tempo que eu estive lá fora.”