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Eleição reúne 'velhos conhecidos' com gestões problemáticas na CBB

Gerasime "Grego" Bozikis e Carlos Nunes voltam a disputar uma eleição para a presidência da CBB - Divulgação/CBB
Gerasime 'Grego' Bozikis e Carlos Nunes voltam a disputar uma eleição para a presidência da CBB Imagem: Divulgação/CBB

Daniel Neves

Do UOL, em São Paulo

07/03/2013 09h00

Liminar obtida pela oposição na quarta-feira coroa a sensação de "mais do mesmo" que já permeava a eleição para presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basketball), marcada para as 14h desta quinta-feira num hotel em Ipanema, no Rio de Janeiro. 

O pleito pode ser adiado por conta da liminar concedida por Veleda Suzete Saldanha Carvalho, juíza em exercício da 37ª Vara Cível, a pedido da  Federação do Maranhão. A entidade argumenta que não houve tempo hábil para análise das contas da atual gestão - o trabalho está previsto para ocorrer nesta quinta, antes da eleição. Os maranhenses apóiam Gerasime Nicolas Bozikis, o Grego, candidato da oposição e ex-presidente da CBB. A situação é representada por Carlos Nunes, sucessor de Grego no cargo.  

Como se não bastasse mais uma disputa jurídica, não há qualquer novidade entre os candidatos. Se Nunes tenta dar sequência a uma gestão que não conseguiu mudar a estrutura da modalidade no país, Grego quer nova chance mesmo após ter comandado o basquete nacional entre 1997 e 2009.

A expectativa é que Nunes seja reeleito com grande margem de votos, já que contou com o apoio de 21 dos 27 presidentes de federações no ato de sua candidatura. Grego, porém, viajou em campanha por quase todo o país para tentar reverter a quadro. Ele diz contar com votos de 19 federações.

Os 12 anos de Grego no comando da CBB foram marcados por problemas no basquete masculino. Nesse período a seleção brasileira amargou vexames internacionais, como o 19º  lugar no Mundial de 2006 (pior colocação na história), e não conseguiu a classificação para três edições das Olimpíadas.

Grego ainda comprou briga com o pivô Nenê Hilário, que chegou a se recusar a defender a seleção por discordar das políticas do dirigente, e foi um dos principais responsáveis pela maior crise da história do basquete interno em 2006. Na ocasião, o Nacional masculino foi interrompido na fase final por disputas judiciais. Não houve campeão.

No feminino, porém, Grego pôde comemorar o sucesso nas Olimpíadas de Sydney-2000, com a conquista da medalha de bronze. O país ainda foi quarto colocado nos Jogos de Atenas-2004 e no Mundial de 2006, competição que o dirigente ajudou a trazer para o país e que ficou marcada pelas goteiras no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

“Depois de três anos fora do dia-a-dia da CBB consigo avaliar o que é preciso para retomar o bom caminho na modalidade. Isso tudo me deu uma visão, de fora, dos erros que cometi, dos acertos, dá outro ângulo de como podem ser feitas as coisas no esporte. Penso que com o conhecimento que eu tenho e com a experiência do que já passei eu posso oferecer alguma coisa a mais”, disse Grego, em entrevista ao Bala na Cesta.

Ex-assessor de Grego, Nunes decidiu lançar-se candidato de oposição em 2009 e venceu a eleição prometendo mudanças de gestão na CBB. Entre suas primeiras medidas, colocou os ex-jogadores Hortência e Vanderlei Mazzuchini como diretores de seleções e contratou o técnico argentino Rubén Magnano, campeão olímpico em 2004, para comandar o time masculino. Ainda acabou com as reeleições eternas na entidade, permitindo apenas dois mandatos consecutivos.

FÁBIO BALASSIANO OPINA SOBRE AS ELEIÇÕES NA CBB

  • Seja com Grego, seja com Carlos Nunes, a realidade é uma só: o basquete deste país está no buraco. Nas mãos de qualquer um que vença a eleição, apenas uma certeza: o basquete sairá perdedor e seguirá nesta draga por pelo menos mais 4 anos. Leia mais

Sob o comando de Magnano, a seleção nacional voltou às Olimpíadas após 16 anos e terminou os Jogos de Londres-2012 em quinto lugar. No Mundial de 2010, fez jogos equilibrados contra Estados Unidos e Argentina, sendo eliminada pelos vizinhos nas quartas de final.

Já o feminino não conseguiu se acertar em quatro anos da gestão Nunes. Foram quatro técnicos no período e campanhas vexatórias no Mundial e nas Olimpíadas. O único alento foi a medalha de bronze conquistada pelo time sub-19 no Mundial da categoria.

As finanças da entidade também sofreram impacto na nova gestão. A CBB ampliou custos administrativos e aumentou de R$ 1,4 milhão para R$ 5,6 milhões as despesas com ‘competições nacionais’, apesar de não organizar mais os Nacionais adultos. Com isso, a dívida da entidade chegou a R$ 5 milhões segundo balanço de 2011 (o de 2012 ainda não foi divulgado).

No começo de 2012, a Eletrobrás (principal patrocinadora) deduziu R$ 825.707 do dinheiro que deveria dar à CBB alegando que a entidade utilizou o dinheiro no ano anterior para pagamentos que não estavam cobertos em contrato. Após problemas no setor energético, a estatal reduziu seus investimentos no esporte e ainda não renovou o vínculo com a Confederação.

Ambos os candidatos estiveram em Brasília para acompanhar o Jogo das Estrelas do NBB e chegaram até a trocar cumprimentos. Procurado pela imprensa para falar sobre sua gestão, Nunes se recusou a dar entrevistas.

De acordo com as regras da eleição, os 27 presidentes de federações terão que declarar abertamente seus votos. Os jornalistas poderão acompanhar a apuração.