Xodó do NBB é aposta do governo cearense para encarar eixo 'Calvin Klein'
Caçula no NBB, o Basquete Cearense realiza uma campanha acima das expectativas para qualquer iniciante em uma competição de alto nível. Nos playoffs logo em sua primeira temporada, algo inédito na liga, o time comandado por Alberto Bial pode avançar às quartas de final caso vença o Paulistano, em casa, na noite desta sexta-feira. Mas qual é a fórmula do sucesso dos novatos?
Parte da resposta pode ser dada pelo modelo de gestão do único representante nordestino na elite nacional. Apenas metade da verba gasta para manter o Basquete Cearense na competição é vinda do patrocinador, a Sky. A outra parte fica a cargo do Governo do Ceará, o que viabilizou o desenvolvimento do projeto, criado no fim de 2011.
“Eu acho importante que qualquer trabalho que envolva o esporte tenha uma parte do poder público junto com uma empresa privada. Os departamentos, equipamentos e infraestrutura de uma Prefeitura são fundamentais para que esse projeto ande. Tudo é com muita parceria para que as novas gerações venham com um Brasil mais legal”, defende o treinador e idealizador do projeto, Alberto Bial.
As palavras do já veterano técnico vão ao encontro com o pensamento do Secretário de Esportes do Ceará, Gony Arruda. De acordo com o político, que evitou falar nos números gastos com o projeto, o Governo tem o dever de ajudar e pensa que, dentro de algum tempo, o time pode andar apenas com dinheiro de patrocinadores privados.
“Quando você não tem o privado, o poder público tem que ser um indutor no processo. Temos que dar o pontapé inicial. Quem sabe no futuro, o Basquete Cearense se sustente sozinho”, analisa.
Gony Arruda justifica o investimento do dinheiro público ao dizer que o maior beneficiado com o Basquete Cearense é o próprio Governo, já que a modalidade teve um aumento significativo no número de praticantes. Além disso, existe um trabalho social feito pelos atletas para desenvolver o esporte na região.
"Eles (jogadores) têm o compromisso de ir a uma cidade para falar com as crianças e servirem de espelho para as crianças. As escolinhas triplicaram a procura. O presidente da Federação Cearense disse que a pelada está grande, até mulheres começaram a jogar", conta.
Nós tivemos a ousadia de modificar a geografia do esporte brasileiro e sair do circuito ‘Calvin Klein’ do Sudeste
Fato é que o desempenho tornou a equipe o “xodó” do povo cearense. O time conseguiu uma média de aproximadamente 1.900 pessoas por jogo apenas na primeira fase. Em fevereiro, a média do basquete chegou a ser superior a 160% em relação futebol estadual do Ceará. Somados público e campanha, o Basquete Cearense começa a pressionar outros estados da região Norte/Nordeste a montarem equipes da modalidade e inflama os ânimos dos envolvidos no projeto.
“Tivemos a ousadia de modificar a geografia do esporte brasileiro e sair do circuito ‘Calvin Klein’ de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, afirma Gony Arruda. “Eu acho que o Governo está inspirando o Nordeste e as regiões com maior dificuldade. Repare que mostramos para o Brasil que nós podemos também e não apenas os estados do Sudeste.”
“Isso vai se multiplicar. Tem várias regiões se movimentando. Bahia, Pernambuco, Paraíba. É um caminho sem volta”, completa Bial.
Sucesso pode render mais dois anos de vida
Idealizado por Alberto Bial em 2011, quando foi ao Ceará para uma palestra, o Basquete Cearense conseguiu apoio do Governo e do patrocinador para os seus dois primeiros anos de vida, período de duração da gestão do atual governador, Cid Gomes. O contrato com a Sky veio por conta dos contatos de Bial. No entanto, os envolvidos no projeto acreditam que o time deve continuar mesmo com a possível troca no poder.
“Eu não posso falar pelos outros, mas espero que continue. O projeto está consolidado e veio para ficar, ainda mais em um momento em que Ceará e Fortaleza não estão na elite do futebol. Somos a primeira equipe do Norte/Nordeste brasileiro a disputar a elite do basquete nacional”, analisa Gony Arruda.
Já o empresário e presidente do Basquete Cearense, Marcelo Balabran, afirma que a permanência da equipe é uma forma de dar continuidade ao desenvolvimento do esporte local. “Não viemos para passear, viemos para ficar. O estado tem um histórico interessante. Muita gente jogou aqui e não tivemos continuidade. É um problema do brasil. Os jovens se dedicam, mas não possuem continuidade”, conta.
Jogar basquete no Ceará?
Uma dos trabalhos que o Basquete Cearense teve para montar um time competitivo foi convencer alguns jogadores de que o projeto era sério e poderia dar resultado, mesmo na região Nordeste. Um dos que se “assustaram” com a proposta foi o experiente William Drudi.
“Foi uma coisa muito louca. Quando me disseram que ia ter um time no Ceará, eu não acreditei de cara. Eu fiquei negociando com o time, mas com medo de não dar certo e eu fechar portas em outras equipes. Mas confiei na palavra do Bial e deu tudo certo”, afirma o experiente pivô, de 31 anos, e que já acumulou passagens por Franca e Minas.
Segundo William Drudi, alguns colegas de profissão o criticaram por aceitar atuar no Ceará. “Muitos jogadores que foram procurados achavam que eu estava louco de aceitar, agora querem jogar no Basquete Cearense.”
*Colaborou para esta matéria David Abramvezt, do UOL, em São Paulo.
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