Acordo de 10 dias põe físico como chave para Leandrinho seguir na NBA
A velocidade sempre foi o atributo mais destacado no jogo de Leandrinho Barbosa, 31, ala-armador que esteve entre 2003 e 2013 na NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos. Desde que o brasileiro deixou o Boston Celtics, porém, essa característica também tem marcado a vida dele fora das quadras. Em poucos meses, o paulista empilhou uma curta passagem pelo Pinheiros e uma negociação para um retorno ainda mais curto à principal competição do planeta. Ele deve assinar um contrato de apenas dez dias com o Phoenix Suns.
O prazo é o mínimo estabelecido pela NBA para contratos assinados a partir desta semana entre as franquias e jogadores disponíveis no mercado. As duas partes ainda podem firmar novo vínculo de dez dias, e só depois desse período é que o time precisa decidir se dispensa ou contrata o atleta.
Leandrinho tem, portanto, dez dias para convencer os Suns de que ele merece um segundo contrato. Se tiver sucesso, precisará mostrar em outros dez dias que a contratação dele faz sentido para a franquia por um período mais longevo.
A questão que o negócio suscita, portanto, é o que um atleta pode fazer em dez dias (ou 20, talvez) para convencer um time a oferecer a ele um contrato mais extenso. E no caso de Leandrinho, a resposta tem enorme relação com a questão física.
“Na verdade, o contrato dele é um caso muito específico, até certo ponto inusitado, com objetivos claros de observar o atleta no cenário em que eles querem que ele jogue. Ele vai ter cinco ou seis jogos nesse período, e o principal desafio será mostrar que está apto para jogar em alto nível, com bons desempenhos em sequência”, disse Pablo Marcelino, preparador físico do Esporte Clube Pinheiros, time que Leandrinho defendeu durante o curto afastamento da NBA.
A trajetória do brasileiro na principal liga de basquete do planeta começou em 2003, no mesmo Phoenix Suns. Ele defendeu a franquia até 2010 e depois acumulou passagens por Toronto Raptors, Indiana Pacers e Boston Celtics na NBA.
Em fevereiro de 2013, jogando pelos Celtics, Leandrinho sofreu grave lesão no joelho esquerdo. O brasileiro usou a estrutura do Pinheiros para fazer parte da recuperação. Quando assinou contrato com a equipe paulista, admitiu que conversava com franquias da NBA e que o sonho ainda era retornar à liga.
Pensando nisso, Leandrinho contou com uma preparação específica durante o período no Pinheiros. Ele tinha um preparador físico exclusivo para complementar as atividades propostas pelo clube. Além disso, montou um cronograma próprio para treinos de fundamentos.
A passagem de Leandrinho no Pinheiros durou apenas oito jogos (médias de 20,8 pontos, 3,1 assistências e 3,1 rebotes em pouco mais de 33 minutos por jogo no NBB). Foi o suficiente para o brasileiro mostrar que era novamente uma opção viável para a liga norte-americana.
Para os Suns, Leandrinho é uma forma de suprir a ausência do armador Eric Bledsoe, que também teve um problema no joelho. O brasileiro reencontrará jogadores como Goran Drajic e Channing Frye, companheiros dele na primeira passagem pela franquia.
“Temos o seguinte: um plano tático que o favorece. Algumas figuras conhecidas dentro e fora de quadra, que devem dar o apoio necessário. Boa vontade dos torcedores. Junta-se tudo isso, e o que dá é uma ótima oportunidade, isso se não for a melhor, para o ala-armador retomar sua carreira nos Estados Unidos”, escreveu Giancarlo Giampietro, do blog “Vinte Um”.
“No começo da temporada 2013/2014, Leandrinho estava em recuperação de grave cirurgia no joelho, veio para o Brasil terminar o tratamento e estava sendo monitorado pelas franquias da NBA desde então. Voltar pra lá não é uma questão financeira (contratos de 10 dias não são tão rentáveis assim), mas principalmente uma forma de dizer pros caras um ‘Ó, estou bom de novo, podem contar comigo para o que precisarem’. Tirar este aspecto enviesa qualquer tipo de análise”, completou Fábio Balassiano, do blog “Bala na Cesta”.
O que torna a questão física ainda mais relevante é justamente a principal marca de Leandrinho. Mais do que mostrar que está recuperado, o ala-armador terá de provar que ainda pode, aos 31 anos e depois de um problema no joelho, ser o mesmo atleta veloz que ganhou espaço na NBA.
“Na NBA é normal esse tipo de coisa. Eles querem fazer algumas avaliações no Leandrinho. Eles conhecem o jogador. Não é que ele terá dez dias para se apresentar. Na verdade, ele vai ser submetido a testes físicos e clínicos. Aí, de acordo com o resultado, pode ter o vínculo prorrogado”, confirmou Lula Ferreira, treinador medalhista de ouro com a seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos de 2007, atual comandante do Vivo/Franca.
Preparadores físicos consultados pelo UOL Esporte adicionaram dois fatores a essa discussão: Leandrinho estava em atividade no Pinheiros, o que diminuirá a necessidade de um recondicionamento físico, e terá um número grande de jogos nos Suns, limitando a agenda para outras atividades.
“A preocupação maior tem de ser com alimentação e com o período de descanso. É preciso aportar carboidrato logo depois do jogo, por exemplo, para repor o glicogênio. Agora, quando desse eu me preocuparia com um trabalho de força. É o que eu faço quando temos jogos quarta e domingo aqui, até porque a força deriva para potência e velocidade. Você acaba trabalhando outras valências por tabela, e essa é ainda é uma forma de prevenir lesões. A musculatura fortalecida é menos suscetível a isso”, ponderou Renato Buscariolli de Oliveira, preparador físico do Penapolense.
“Como ele está em ritmo de competição, é tranquilo elaborar um trabalho físico. A capacidade física não é tão volátil assim. Além disso, como se trata de um atleta, ele tem todas as questões desenvolvidas. Tudo isso favorece muito. Mas é importante avaliar a individualidade”, afirmou Fábio Correia, bacharel em esporte pela USP (Universidade de São Paulo) e preparador físico do Sada/Cruzeiro.
Se fechar com o Phoenix Suns por até dez dias, Leandrinho colocará à prova a recuperação, a capacidade física e o ritmo de jogo adquirido no Pinheiros. Muitas missões e apenas dez dias. A velocidade nunca foi tão necessária para o brasileiro.
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