Opinião de Paula: problemas do basquete são retrato de 20 anos atrás
Depois de vinte anos da conquista do Campeonato Mundial na Austrália, em que nossa geração surpreendeu o mundo do basquete feminino, fui convidada para escrever um texto sobre o que mudou neste período. Bom, uma certeza eu tenho, estou mais velha.
Não gosto de comparar gerações e criar fenômenos que possam substituir este ou aquele ídolo, e olha que surgiram muitas substitutas de Hortência e Paula nestes anos pós conquista.
Os talentos são natos, brotam sem precisar fazer muita força. Mas são esporádicos e não podemos sobreviver na esperança de que sempre o talento vai sobrepor a falta de uma visão mais organizada e a paciência necessária para construir uma nova geração.
Pois é, deitamos em berço esplêndido e os problemas do basquete são um retrato de vinte anos atrás. O celeiro, os clubes que apostam e ainda investem no basquete feminino estão agonizando para manter suas equipes, a quantidade de jogadoras é restrita, assim como na nossa época, quando convocar 20 jogadoras para a seleção brasileira era um sufoco. Não reciclamos nossos treinadores, nada contra Barbosa e Vendramini, por quem tenho o maior respeito, mas temos medo de apostar no que é novo.
A modalidade tem uma facilidade em descartar. Os grandes mestres, Maria Helena e Heleninha, Sergio Maroneze, Miguel Luz, Borracha, Branca, Paulo Bassul e tantos outros que poderiam de alguma forma estar contribuindo para modalidade que o digam.
Esquecemos que as peças serão substituídas e que a busca pelos novos talentos precisam ser trabalhadas com carinho, dedicação e sem pressa. Esquecer da base é ser refém da falta de matéria prima, de uma competição nacional que ainda precisa das nossas veteranas, rótulo que detestava quando ainda era atleta, mas que se faz necessário para ter uma competição que não encanta e que ainda sobrevive por conta dos abnegados, apaixonados pelo basquete feminino.
Estamos novamente às vésperas de um Mundial e muitos questionamentos pipocam, curiosos querem saber como será a participação do Brasil. Ora bolas, com um cenário como este não podemos cobrar, culpar ou jogar a responsabilidade sobre nossas meninas, que ao longo destes anos estiveram como cobaias nas mãos de inúmeros treinadores, que só são lembradas quando estão se preparando para entrar na arena para disputar uma competição do nível e do gabarito de um Mundial.
Meninas, vocês não tem responsabilidade nenhuma, mas devem ter empenho e paixão em vestir a camisa do nosso país. Joguem com alegria, sem vaidades e torcendo para que sua companheira faça o melhor. O resultado será consequência de inúmeros fatores que constroem uma equipe vencedora e se a gente acredita no nosso potencial, conseguimos superar as fragilidades externas. Nós conseguimos!
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