Ex-pivô brasileiro da NBA lembra Aids de Magic Johnson: "Era como o ebola"
Fábio Aleixo
Do UOL, em São Paulo
16/10/2014 06h00
João José Vianna, mais conhecido como Pipoka, teve uma passagem relâmpago pela NBA. Foram só dois meses e meio de vivência na liga americana e apenas uma partida disputada pelo Dallas Mavericks. Hoje, ao falar de sua vida nos Estados Unidos, o ex-pivô relembra com saudosismo de sua experiência e de um fato marcante para a modalidade e todo o esporte americano: o momento em que Magic Johnson anunciou que tinha Aids.
“Na época, todo mundo tinha pouca informação sobre a doença, não sabia se era mortal, como tratar. É o mesmo que acontece agora com o ebola. Me marcou muito”, disse Pipoka em entrevista ao UOL Esporte.
O ano era 1991, o dia era 7 de novembro. Pipoka levava pouco tempo em Dallas. Seis dias antes havia disputado aquela que seria sua única partida na liga americana. Em derrota de 140 a 99 para o San Antonio Spurs, atuou por nove minutos e fez dois pontos.
“Apesar de fazer tempo, me lembro como se fosse hoje, pois vivenciei todo aquele momento. Depois deste jogo contra o Spurs, recebemos o Lakers e todos estranhamos o fato de o Magic Johnson não ter jogado, pois era o astro daquele time. Alguns dias depois, estávamos treinando em Chicago para enfrentar o Chicago, do Michael Jordan, quando o nosso técnico (Richie Adubato) parou o treinamento e contou que o Magic Johnson havia revelado a doença e anunciado sua saída do basquete. Todo mundo ficou discutindo, preocupado. Nos Estados Unidos só se falou disso”, contou o ex-jogador.
Pipoka chegou ao Mavericks em 1991 após se destacar com a Seleção Brasileira nos Jogos da Amizade (Goodwiil Games) de 1990, em Seattle. Seu desempenho agradou aos diretores do Mavericks e ele, à época com 24 anos, foi chamado para participar da pré-temporada. Aprovado, ganhou uma vaga no elenco.
O momento, porém, não era dos melhores para o Mavericks. Na temporada anterior (1990/91), havia vencido apenas 28 dos seus 82 jogos e passava por um processo de reformulação, que teve de ser ainda mais brusco após o ala-pivô Roy Tarpley, um dos principais nomes da franquia, ser expulso da NBA por uso de cocaína.
“Foi uma época de muitos problemas para o Dallas. Tiveram de buscar uma nova estrela e acabaram implodindo o time. A temporada de 1991/92 foi muito ruim e quando isso acontece acaba sobrando para alguém, e sobrou para mim. Não tive oportunidades. Mas tive uma experiência fantástica, vi o basquete levado ao extremo do profissionalismo, muito diferente de qualquer coisa que tínhamos no Brasil. Gostei muito do tempo que passei em Dallas, tanto que até hoje sou fã do time”, disse Pipoka, que havia firmado um contrato de US$ 180 mil anuais, mas mas recebeu apenas o proporcional pelo tempo de serviços prestados.
As histórias e o convívio com os companheiros são as principais recordações que o ex-pivô tem. Vídeo de seus nove minutos ele não possui, assim como a camisa de número 31 que o marcou como o segundo brasileiro a atuar na NBA na história - o pioneiro havia sido o também pivô e ex-colega de seleção Rolando Ferreira.
“Não tenho nada guardado da época do Dallas. Tem duas coisas que não me perdoo. Uma é de ter vendido a camisa que usei com a seleção no Pan-Americano de Indianápolis de 1987, a outra é de não ter pedido esta camisa que usei no Dallas. Fiquei com vergonha, sei lá que m… passou na minha cabeça. Hoje sinto falta, poderia tê-la pendurada na parede de casa. Da época da NBA, só guardo as histórias na minha cabeça e aquelas que vocês (jornalistas) contam”, disse o ex-jogador.
Pipoka, que participou de três edições dos Jogos Olímpicos (1988, 1992 e 1996) e de quatro Mundiais (1986, 1990, 1994 e 1998), não trabalha com basquete de alto rendimento atualmente. Aos 50 anos, é professor de educação física em uma universidade de Brasília, onde nasceu e vive até hoje. Seu último contato direto com a modalidade foi em 2009, quando trabalhou como assistente técnico do Brasília na conquista do título do NBB.