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Ex-pivô da NBA troca quadras do NBB por aulas em favela. E está mais feliz

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

22/10/2014 06h00

Oitava escolha do draft da NBA em 2004, o pivô Bábby resolveu se afastar do basquete profissional mais uma vez e não tem previsão de jogar a próxima edição do NBB, que tem início em 30 de outubro. Nem mesmo a aposentadoria está descartada. Decepcionado com a modalidade, o jogador de 34 anos tem se dedicado agora a projetos sociais na Baixada Santista, voltado a crianças e jovens de comunidades carentes.

Bábby atualmente vive em Santos e há dois meses passou a ser o representante da Cufa (Central Única das Favelas no Município), para quem já havia trabalhado no Rio de Janeiro na época em que defendia o Flamengo, na temporada 2009/2010.

“Vou à comunidade, dou treino para a molecada, converso com elas, passo muito da experiência que tive nos Estados Unidos. A sede da Cufa fica em um local chamado Vila Noroeste e lá tem uma quadrinha na praça, onde dou as aulas. Estamos começando este projeto e estou bastante empolgado. Eu já tinha uma ONG e agora estou transferindo ela para Santos para começar a captar recursos pela lei de incentivo e dar uma modernizada em tudo. No Brasil, temos muitos talentos, só precisamos saber trabalhá-los”, afirmou Bábby em entrevista ao UOL Esporte.

Atualmente, o jogador garante fazer todo o trabalho de forma voluntária: “Consegui organizar bem a minha vida e não passo apertos”, diz o jogador que é formado em pedagogia pela BYU (Brigham Young University), universidade americana que defendeu entre os anos de 2002 e 2004, quando chamou a atenção dos olheiros da NBA.

Além do projeto da Cufa Bábby também dá clínicas de basquete em colégios particulares e públicos da cidade de Santos. Como não possui o registro no Conselho Regional de Educação Física (Cref) ainda não pode dar treinos. Há alguma semanas ministrou clínica no colégio Liceu Santista e trouxe amigos que fez do tempo que morou nos Estados Unidos para bater um papo com a garotada.

“Sempre procuro levar caras que possam agregar algum tipo de valor, amigos que fiz ao longo da carreira. Acho importante ter esta visão diferente”, afirmou.

Bábby clínica - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Bábby dá clínica para garotos em Santos
Imagem: Arquivo Pessoal

O último clube que Bábby defendeu foi o Pinheiros. Porém, após a última edição do NBB, no qual o time caiu nas oitavas de final, o orçamento foi reduzido e ele não teve seu contrato renovado para a atual temporada. O Palmeiras aproveitou a oportunidade e acertou com o jogador, mas ele nunca chegou a entrar em quadra com a camisa do Verdão.

“Começou a rolar desrespeito antes mesmo de eu jogar por parte de alguns torcedores que começaram a entrar na minha vida pessoal, xingar eu, minha filha, minha esposa. São pessoas que não entendem de basquete e não tem respeito com o atleta. Disse para a diretoria do Palmeiras que não queria ser um problema e agradeci pela oportunidade”, disse Bábby, que na NBA defendeu o Toronto Raptors (entre 2004 e 2006) e o Utah Jazz (entre 2006 e 2007). No total, ele disputou 139 partidas e teve médias de 2,8 pontos e 2,8 rebotes.

O pivô diz que recebeu algumas propostas do exterior, mas não as considerou atraentes. No Brasil, garante que não irá correr atrás de nenhum time.

“No Brasil, fui de ficar procurando, ligando para os clubes. E agora estou sem esta preocupação. O NBB vai começar e quase todos os clubes estão com elenco fechado”, disse.

Esta não é a primeira vez que Bábby dá um tempo no basquete. Entre dezembro de 2011 e meados de 2012, ele ficou longe da modalidade para se dedicar a família e projetos empresariais. À época vivendo em Franca (clube que defendeu no segundo semestre de 2010) abriu uma academia e lançou  a BB 66 uma grife de roupas casuais e artigos voltados para a prática esportiva,que não existe mais. Quando retornou, defendeu o Mogi, antes de ir para o Pinheiros.

“Sempre gostei muito de jogar basquete, mas sofri muito desrespeito ao longo da minha carreira, acabei desgostando. Então, hoje prefiro me focar muito mais neste projeto com as crianças, que é o que está me motivando bastante”, disse o jogador.

Apesar de estar afastado do basquete, Bábby segue vendo jogos da modalidade e acompanhando o noticiário. Parceiro de Bruno Caboclo no Pinheiros, ele torce para o jovem de 19 anos ter sucesso no Toronto Raptors em seu início de caminhada na NBA.

“Eu era companheiro de quarto dele e torço para dar certo. Também passei pelo Toronto e conheço bem as coisas lá, sei das dificuldades que ele irá passar, as situações que se apresentam. Depois que ele foi draftado, falei uma vez com ele, desejei sorte e me coloquei à disposição para ajudar no que ele precisasse. Ele é um garoto de talento, tem uma grande envergadura, mas precisa ter oportunidades. Sabemos que na NBA tudo é business”, completou.