Ele é técnico de ponta na Espanha, já foi carcereiro e tenta ser escritor
Trabalhar num presídio, ser técnico de basquete e escrever livros. Três funções totalmente diferentes e que fazem parte do mesmo currículo: o de Joan Plaza. Atual treinador do Unicaja, na Espanha, esse catalão de 50 anos tem uma das histórias de vida mais inusitadas do esporte atual.
Apaixonado por basquete desde a infância, Joan logo percebeu que não tinha muito talento para ser um grande jogador. Por isso, ainda na adolescência, começou a treinar times de garotas nos arredores de Barcelona, junto com seu irmão. Tomou gosto pela função e aos poucos foi ganhando a confiança de equipes juvenis.
No entanto, vindo de uma família humilde, precisava ganhar dinheiro de outra maneira para ajudar nas finanças de casa. Foi quando conseguiu trabalhar em um presídio de Lérida, na Catalunha, contrariando qualquer perspectiva da adolescência. “Tinha muito medo de um dia trabalhar em uma prisão”, admitiu.
Apesar do temor, Joan Plaza se dividiu durante anos entre o trabalho no presídio e o amor ao basquete. Quando não estava cuidando dos presos, corria para treinar times da região e seguir com o sonho de se tornar um grande técnico. Mas até chegar lá Joan passou por experiências difíceis em Lérida.
A mais marcante aconteceu logo no segundo dia de trabalho, durante uma ronda noturna. “Um preso desafiou os demais a entrarem em sua cela. Nosso chefe apareceu e disse que devíamos entrar para controlar tudo. Bateram nele com um pedaço do beliche e abriram seu rosto. Foi marcante. Houve veias cortadas, barrigas perfuradas. Cheguei em casa sujo de sangue e disse que não voltaria mais”, relembra o treinador, que voltou durante 14 anos.
Mas o apaixonado por basquete, aos poucos, conseguiu viver só do esporte. Até que, em 2006, após 29 anos trabalhando em times menores, surgiu a grande oportunidade: assumir a equipe principal do Real Madrid. Dois treinadores recusaram o cargo e ele, como auxiliar, acabou promovido. Na primeira temporada já foi campeão.
Atualmente, seu nome aparece com frequência quando o assunto é treinar a forte seleção espanhola. E também aparece em outro ramo: o da literatura. Em meio a viagens e treinos, ele já escreveu e lançou dois romances. Mas Joan, aos 50 anos, tenta não se empolgar com nada. “Após 14 anos em uma prisão você relativiza tudo”, resume ele.
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