Topo

Fidel tentou intimidar Brasil, mas se rendeu a Paula e Hortência

Reuters
Imagem: Reuters

Fábio Aleixo e Rodrigo Trindade

Do UOL, em São Paulo

26/11/2016 14h36

Morto na noite de sexta-feira, Fidel Castro sempre foi um apaixonado pelo esporte e foi o grande entusiasta e figurinha carimbada dos Jogos Pan-Americanos de Havana, em 1991. Sempre presente aos eventos, o ditador não poderia deixar de marcar presença na final do basquete feminino entre Cuba e Brasil.

E Fidel não quis ser um mero espectador, Antes do jogo, ele tentou intimidar a equipe nacional, que tinha como maiores expoentes Paula e Hortência.

"O Fidel acompanhava de perto as modalidades durante aquele Pan. No dia da final ele surgiu no ginásio e mais uma vez foi uma comoção geral, até com uma certa histeria. Estávamos aquecendo e ele desceu até o banco para conversar com nossa treinadora na época, a Maria Helena (Cardoso). O pedido dele era para que pudesse dar uma palavrinha com as jogadoras brasileiras, mas Maria Helena logo percebeu que um bom estrategista só poderia querer intimidar o nosso time. Delicadamente, ela disse que ao final da partida ela poderia atender seu pedido. Este fato gerou uma oportunidade de a Maria Helena motivar o time e foi o que ela fez", recordou Paula em entrevista ao UOL Esporte neste sábado.

E a estratégia utilizada pela treinadora brasileira deu mais do que certo. O Brasil venceu por 97 a 76 com atuação magistral de Hortência, que fez 30 pontos, e de Paula, autora de 24. 

Ao fim do duelo, Fidel fez questão de descer a quadra e marcar presença na entrega das medalhas, algo que surpreendeu as brasileiras. A imagem é tida até hoje como uma das mais marcantes do basquete brasileiro.

"Ele quebrou todos os protocolos, pediu para eu virar para ver meu número, sinalizou que não entregaria a medalha, fez o mesmo com Hortência. Para nossa surpresa, depois da cerimônia da entrega das medalhas ele pediu para que nós duas ficássemos lado a lado com dele, abaixo do pódio. Perguntou se já tínhamos jogado tão bem assim outras vezes e na maior humildade respondemos que sim (risos). Depois ele já pensou em uma guerrilha mais moderna e disse 'hoje vocês estavam com uma mira a laser!'", brincou Paula.

"Brincou com o jeito dele de general que não ia entregar a medalha, porque teríamos trapaceado. Porque jogamos com uma mira a laser na mão", disse Hortência ao UOL.

Ao comentar a morte de Fidel em seu Twitter, Paula postou uma foto da entrega das medalhas e o texto: Morre Fidel Castro. "Este foi um dos momentos mais marcantes da nossa geração".

Ao UOL, ela explicou o porquê de ser tão marcante. "Apesar de não ser o titulo mais importante da nossa geração, é o mais lembrado pelos amantes do basquete feminino", disse.

Fidel fez de Cuba uma potência pan-americana e olímpica e isso é um fator de admiração para Paula e Hortência. As duas porém, também, são cíticas ao ditador.

"Nós, brasileiros, muitas vezes comparávamos a performance de Cuba e do Brasil. Como uma ilha poderia produzir tantos campeões? Na minha opinião, esta comparação era injusta. A forma como vive um jovem que gosta de esporte em um país que vive uma ditadura é bem diferente de um jovem que pode escolher se quer ou não aquele destino", disse Paula.

"Se você for ver que um país pequeno que não tem nossa riqueza, eles têm uma política esportiva dentro das escolas sensacional, que eu acho que a gente de viria pensar em trazer para o nosso país. Ele dava uma importância muito grande para esporte, educação e saúde. Não tinham liberdade, democracia. Não sou a favor do regime", completou Hortência.