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Fiba propõe intervenção na CBB e expõe racha político no basquete do Brasil

Eleição para substituição de Carlos Nunes (foto), presidente da CBB, está agendada para 10 de março de 2017 - Divulgação
Eleição para substituição de Carlos Nunes (foto), presidente da CBB, está agendada para 10 de março de 2017 Imagem: Divulgação

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

22/02/2017 16h34

A Fiba (Federação Internacional de Basquete) realizou no dia 3 de fevereiro, em Zurique (Suíça), uma reunião cujo principal objetivo era “salvar o basquete do Brasil”. Em vez disso, porém, só escancarou ainda mais a falta de unidade na modalidade em âmbito nacional. A entidade propôs a criação de um grupo de trabalho para comandar a CBB (Confederação Brasileira de Basketball) nos próximos meses, mas a ideia foi rechaçada por uma fatia dos dirigentes locais a ponto de ter motivado a convocação de uma assembleia geral.

Em nota publicada na última terça-feira (21), a CBB disse que a reunião foi solicitada pelas federações de Acre, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Distrito Federal. As instituições compõem o grupo político que apoia Guy Peixoto, um dos candidatos à sucessão presidencial da entidade nacional, que se recusou a assinar um documento apresentado pela Fiba.

Elaborado na reunião de Zurique, o documento enumera problemas de gestão do basquete no Brasil – os dirigentes locais pediram apoio financeiro da Fiba em diversas ocasiões e a seleção masculina adulta precisou de um convite para disputar o Mundial de 2014, por exemplo. Além disso, lembra que a CBB foi suspensa por tempo indeterminado em 14 de novembro de 2016 e que desde então não promoveu nenhuma mudança significativa em processos de gestão.

A solução proposta pela Fiba é a criação de uma força-tarefa com um representante da entidade internacional, um membro do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e um nome do Ministério do Esporte. O ex-jogador Paulinho Villas Boas também faria parte, mas não teria direito a voto.

O modelo teria duas consequências imediatas: Carlos Nunes, atual presidente da CBB, seria transformado em figura decorativa nos momentos derradeiros de seu mandato, e a Fiba teria poder praticamente absoluto (COB e Ministério do Esporte, por adequação à legislação brasileira, seriam apenas observadores do novo grupo gestor).

A próxima eleição da CBB está agendada para 10 de março. A partir do dia 11, segundo a proposta da Fiba, o vencedor do pleito seria adicionado à força-tarefa e teria direito a voto – o núcleo passaria a contar com cinco integrantes, portanto, mas as decisões seriam divididas entre apenas dois. A ideia inicial é que o grupo funcione com reuniões quinzenais e que assuma a gestão do basquete brasileiro ao menos até novembro de 2018.

Segundo o documento, ao qual o UOL Esporte teve acesso, essa força-tarefa seria fundamental para o futuro do basquete brasileiro na Fiba. A entidade internacional votará em maio de 2017 a possibilidade de restituir os direitos políticos da CBB.

Amarildo Rosa, um dos candidatos à sucessão de Carlos Nunes, já assinou o documento e concordou com o modelo proposto pela Fiba. Guy Peixoto rechaçou a ideia, e isso expôs um racha entre as federações.

O grupo político ligado a Guy Peixoto já estuda até a possibilidade de denunciar Amarildo no Tribunal de Justiça Desportiva ou um caminho para dissolver a força-tarefa depois das eleições – em caso de vitória, é claro.

O grupo de Peixoto ainda condena o que considera ingerência da Fiba. Amarildo, em contrapartida, defende que a força-tarefa seria um caminho rápido para reestabelecer a credibilidade da CBB e acelerar o processo de transição.

Diante dessa discordância entre os grupos políticos, até a data escolhida pela CBB para a assembleia geral tem motivação política. Como o debate será realizado no dia 9 de março, 24 horas antes da eleição, Carlos Nunes garante que a força-tarefa não seja instaurada até o fim de seu mandato. Na prática, a discussão será apenas sobre a possibilidade de a Fiba ter uma cadeira na gestão da entidade após o pleito.