Promessa do basquete era filho de nigeriano e foi descoberto em shopping
Michael Somutochukwu Uchendu, 21 anos, era um pivô que todos apontavam ser dono de um futuro brilhante e que morreu ontem em um acidente de moto aquática na represa do Cantareira, em São Paulo. O rapaz já jogava no forte basquete espanhol e esteve no radar da NBA. O nome complicado era consequência de ser filho de um ex-pugilista nigeriano, o que fez ter passaporte do país africano.
Com 2,08 metros, ele virou Maikão. Mas o basquete não estava nos planos dele. O jogador foi descoberto por acaso quando tinha 11 anos e caminhava em um shopping de São Paulo. Sua altura chamou a atenção de Evandro Fabrício, treinador do clube Espéria.
Ele caminhou até Michael para se apresentar e pediu seu telefone. Uma ligação para o pai de Maikão no meio da semana deu início a carreira no esporte. O garoto começou no Clube Espéria e logo se transferiu para o Palmeiras.
O fato de ter como pai um ex-atleta profissional transmitiu paixão pelo esporte. Michael nunca pensou em seguir no boxe, mas era fominha por estar na quadra desde pequeno. O clima familiar incentivou a praticar futebol, vôlei, handebol e basquete.
Bauru abriu as portas para o esporte de alto nível
Mikão se destacava pela força física, jogo pesado, jogo de costas, um bom gancho e habilidade no giro e movimentação de pernas. Ele era daqueles pivôs que sempre atacam o aro. Mas o basquete moderno não quer mais pivôs que não sabem jogar fora do garrafão e o jogador trabalhava para melhorar os arremessos de média e longa distância.
E ele tinha estrela. Logo na primeira temporada no Bauru, em 2017, foi campeão do NBB. O ambiente vencedor transmitia confiança e ajudava no desenvolvimento do pivô, mas o elenco de alto nível dificultava entrar em quadra. Naquele ano, foram 27 partidas e méia de 5,2 minutos por jogo.
No ano seguinte, Maikão teve uma transferência atribulada para a Espanha. Jogou num clube da segunda divisão de La Coruña e teve um desempenho considerado acima do esperado pela comissão técnica. O plano do clube era aproveitar ainda mais o pivô nos campeonatos deste ano. O jogador ainda chegou a se inscrever no draft da NBA, que ocorreu na última semana, mas desistiu de tentar uma vaga nos Estados Unidos.
Interesse na NBA vinha de longa data
Maikão entrou no radar da NBA há bastante tempo, 2016. Ele chamou a atenção por causa do desempenho pela seleção brasileira de base. Defendendo o país, o pivô foi campeão do Sul-Americano Sub-21, medalha de bronze na Copa América Sub-18 e medalha de prata no Campeonato Sul-Americano Sub-17.
O momento que fez o atleta entrar de vez no radar da NBA foi Copa América sub-18, quando teve média de 9,4 pontos por jogo e 9,2 rebotes. O desempenho rendeu um convite para o Adidas Nations, evento que reúne promessas do basquete mundial. Ele defendeu a equipe da América Latina e dobrou sua média, que foi de 18 pontos na competição.
Times colegiais americanos fizeram proposta, mas Maikão escolheu continuar no Bauru. Ele seguia a trajetória de outros jogadores, como o também pivô Tiago Splitter, de ir para a Espanha. Splitter se tornou titular da seleção brasileira e ergueu o troféu da NBA. Foi este sonho que o acidente na represa da Cantareira interrompeu ontem.
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