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Promessa do basquete era filho de nigeriano e foi descoberto em shopping

Maikão beija troféu nos tempos de Bauru - Reprodução Instagram
Maikão beija troféu nos tempos de Bauru Imagem: Reprodução Instagram

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

30/06/2019 13h27

Michael Somutochukwu Uchendu, 21 anos, era um pivô que todos apontavam ser dono de um futuro brilhante e que morreu ontem em um acidente de moto aquática na represa do Cantareira, em São Paulo. O rapaz já jogava no forte basquete espanhol e esteve no radar da NBA. O nome complicado era consequência de ser filho de um ex-pugilista nigeriano, o que fez ter passaporte do país africano.

Com 2,08 metros, ele virou Maikão. Mas o basquete não estava nos planos dele. O jogador foi descoberto por acaso quando tinha 11 anos e caminhava em um shopping de São Paulo. Sua altura chamou a atenção de Evandro Fabrício, treinador do clube Espéria.

Ele caminhou até Michael para se apresentar e pediu seu telefone. Uma ligação para o pai de Maikão no meio da semana deu início a carreira no esporte. O garoto começou no Clube Espéria e logo se transferiu para o Palmeiras.

O fato de ter como pai um ex-atleta profissional transmitiu paixão pelo esporte. Michael nunca pensou em seguir no boxe, mas era fominha por estar na quadra desde pequeno. O clima familiar incentivou a praticar futebol, vôlei, handebol e basquete.

Maikão - Reprodução Facebook - Reprodução Facebook
Imagem: Reprodução Facebook

Bauru abriu as portas para o esporte de alto nível

Mikão se destacava pela força física, jogo pesado, jogo de costas, um bom gancho e habilidade no giro e movimentação de pernas. Ele era daqueles pivôs que sempre atacam o aro. Mas o basquete moderno não quer mais pivôs que não sabem jogar fora do garrafão e o jogador trabalhava para melhorar os arremessos de média e longa distância.

E ele tinha estrela. Logo na primeira temporada no Bauru, em 2017, foi campeão do NBB. O ambiente vencedor transmitia confiança e ajudava no desenvolvimento do pivô, mas o elenco de alto nível dificultava entrar em quadra. Naquele ano, foram 27 partidas e méia de 5,2 minutos por jogo.

No ano seguinte, Maikão teve uma transferência atribulada para a Espanha. Jogou num clube da segunda divisão de La Coruña e teve um desempenho considerado acima do esperado pela comissão técnica. O plano do clube era aproveitar ainda mais o pivô nos campeonatos deste ano. O jogador ainda chegou a se inscrever no draft da NBA, que ocorreu na última semana, mas desistiu de tentar uma vaga nos Estados Unidos.

Maikão - Reprodução Facebook - Reprodução Facebook
Imagem: Reprodução Facebook

Interesse na NBA vinha de longa data

Maikão entrou no radar da NBA há bastante tempo, 2016. Ele chamou a atenção por causa do desempenho pela seleção brasileira de base. Defendendo o país, o pivô foi campeão do Sul-Americano Sub-21, medalha de bronze na Copa América Sub-18 e medalha de prata no Campeonato Sul-Americano Sub-17.

O momento que fez o atleta entrar de vez no radar da NBA foi Copa América sub-18, quando teve média de 9,4 pontos por jogo e 9,2 rebotes. O desempenho rendeu um convite para o Adidas Nations, evento que reúne promessas do basquete mundial. Ele defendeu a equipe da América Latina e dobrou sua média, que foi de 18 pontos na competição.

Times colegiais americanos fizeram proposta, mas Maikão escolheu continuar no Bauru. Ele seguia a trajetória de outros jogadores, como o também pivô Tiago Splitter, de ir para a Espanha. Splitter se tornou titular da seleção brasileira e ergueu o troféu da NBA. Foi este sonho que o acidente na represa da Cantareira interrompeu ontem.