Como foi o primeiro jogo após morte de Kobe Bryant para torcida dos Lakers
Foram cinco dias esperando por uma homenagem emocionante. A cidade de Los Angeles, em luto pela morte de Kobe Bryant no último domingo (26), precisava do que os americanos chamam de "closure", ou o que seria o fim de um estado emocional traumático. Neste caso, os fãs do Lakers precisavam que o time reconhecesse a tristeza da tragédia com um tributo à altura do ex-jogador. E ele veio na noite desta sexta-feira (31), no primeiro jogo da equipe desde o acidente de helicóptero que matou Bryant, a filha dele, Gianna, e mais sete pessoas.
Uma multidão vestida em roxo e dourado tomou conta dos arredores do Staples Center no centro da cidade enquanto a arena sedia o embate dos Lakers contra o Portland Trail Blazers. Já nas ruas de acesso ao estádio, alguns dos icônicos arranha-céus exibem luzes nas cores do time. Encontrar um estacionamento por menos de 30 dólares pareceu impossível - e o trânsito, complicado, fez do preço (salgado) um certo alívio. Em grupos, visitantes caminhavam para o LA Live, centro comercial onde fica o Staples, cabisbaixos e falando pouco.
Na praça central, bem em frente à entrada da arena, inúmeras flores e velas acesas eram acompanhadas por camisas do uniforme do Lakers, balões, bolas de basquete, cartazes minuciosamente pintados, fotografias, desenhos. Nos diversos murais brancos espalhados pelo lugar, os fãs deixavam suas mensagens de adeus, mas o espaço ficou escasso e também o chão virou tela.
Cartas de condolência e de amor a Bryant e Gianna eram dispostas no chão, em frente às grades do centro esportivo, enquanto uma fila de fãs emocionados se revezam entre fazer uma oração e tirar selfies. Esse tipo de ode parece despertar uma sensação ambígua em quem está lá: a tristeza de uma morte tão trágica e o conforto de poder compartilhar aquele luto junto a tantas outras pessoas. Naquele momento, são todas parte de um mesmo time.
O artista Reza Safa é vizinho de bairro de Kobe Bryant em Newport Beach e costumava encontrá-lo sempre pela área. Dessa vez, ele não assistiu ao jogo lá dentro, mas exibiu um quadro pintado logo depois que soube do acidente e que será doado ao fundo criado por Vanessa Bryant, viúva do jogador, com o intuito de ajudar as outras famílias envolvidas no acidente. "O legado de Kobe, especialmente para essa nova geração, é um legado de resiliência, de não se intimidar pelos obstáculos, é um legado de conquistas", diz.
Apesar do número de pessoas, chama a atenção a calmaria. É estranho: não chega a ser um silêncio completo, mas também não parece normal para um grupo grande: "As pessoas estão especialmente educadas hoje. Isso é uma das coisas que o luto faz, sabe? As aproxima", me diz um senhor que morou em Los Angeles "tempo demais para saber que tem algo de errado quando não há barulho suficiente", brinca.
Dois torcedores puxam o coro "Kobe! Kobe! Kobe!" e quase todo mundo acompanha. O garotinho sentado nos ombros do pai não aguenta a emoção e chora, copiosamente. O pai, vestindo a camisa 24, chora também. É de partir o coração. Muitas outras crianças, até mesmo bebês, acompanham os pais. Avós, primos, tios. Parece mesmo que a admiração por Kobe é uma coisa de família.
O músico Leon Johnes confirma a minha suspeita: "Kobe mostrou que, no final, a família é o mais importante. Era por isso que ele vivia andando de helicóptero. Ele não só representava LA, ele ERA LA. Ele uniu todas as diferentes pessoas de Los Angeles em torno da sua ética e desse sentimento de que não importa quem você seja, você sempre pode ser a melhor versão de você mesmo". Pergunto se ele o que ele acha das comparações que andam fazendo entre Kobe e Jordan, mas ele é direto: "Talvez Jordan realmente fosse melhor. Mas o que importa é que ele o maior jogador de basquete para um outra geração. A minha geração cresceu com Kobe. Aprendeu com ele. Para nós, ele é o melhor de todos os tempos".
"Kobe era um cara real. Ele cometeu seus erros, mas era uma pessoa que tinha uma ética profissional inspiradora e é por causa disso que mesmo quem odeia o Lakers admira Kobe. É impossível não respeitá-lo", comenta Kaleb Tatum. Já outro fã, Jack De La Rosa, reforçou que "não é qualquer jogador que consegue entrar na liga e inspirar a todos" e que esse tipo de feito é " impressionante".
Um outro fã, Gabriel Lopez, visivelmente abatido e chorando, me conta que cresceu no centro de Los Angeles, no mesmo bairro onde Bryant passou a carreira treinando. "Eu nào consigo entender! Simplesmente não consigo entender. Ele era parte da minha família. Venho de um lugar barra-pesada, perdi muitos amigos ao longo do caminho. Kobe era uma inspiração para mim e a minha família: foi por causa do jeito dele pensar, de poder ir além, que meus filhos estão hoje na faculdade", lamenta, olhando para um dos inúmeros telões com a imagem de Bryant.
O hino americano, entoado antes do jogo, ecoa do lado de fora e arranca aplausos entusiasmados e gritos. Parte da letra diz que é essa é a "terra dos bravos". A depender do legado deixado por Bryant, talvez realmente seja.
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