Como era a "Lei de Jordan" que rivais de Detroit usavam para castigar astro
Parar um dos maiores atletas da história do esporte mundial não é tarefa fácil, e o Detroit Pistons do fim dos anos 1980 e começo da década de 1990 sabia muito bem disso quando enfrentava o Chicago Bulls de Michael Jordan. Tanto que os jogos entre os times nas decisões de conferência de três temporadas seguidas na NBA se transformaram em uma rivalidade histórica com polêmicas envolvendo a "Lei de Jordan".
O "Jordan Rules", no termo original em inglês, era uma estratégia para castigar o astro do Bulls. Três décadas depois, o termo voltou a ser destaque ao aparecer no terceiro episódio da série "Arremesso Final" ("The Last Dance", no nome original em inglês), documentário em exibição atualmente no Brasil pela Netflix com capítulos semanais. A produção mostra a trajetória do craque até a última temporada pelo time de Chicago.
"Nós sabíamos que Michael Jordan era o melhor jogador, tentamos isso como grito de guerra e nos unir. Nós tínhamos que fazer de tudo do ponto de vista físico para pará-lo", lembrou Isiah Thomas, astro dos Pistons na época em entrevista ao documentário. "Quando ele estava no ar não tinha o que fazer, mas, quando estava no chão, dava para tentar algo", relembrou o ex-jogador, expoente da geração chamada de "Bad Boys" no time de Detroit.
Na série, o ex-jogador e astro da NBA James Worthy, que fez história pelo Los Angeles Lakers, chegou a comentar que não sabe "como Jordan saiu vivo" dos embates contra o time de Detroit.
A "Lei de Jordan" foi tema até de um livro que se tornou best-seller nos EUA, escrito pelo jornalista Sam Smith e publicado em 1992. A história mostra a temporada do Chicago Bulls no campeonato de 90-91. O livro leva esse nome por causa de como os Pistons fizeram para parar "Air Jordan" nas decisões da conferência leste de 1989 e 1990 na NBA, e em uma fase anterior nos playoffs de 1988.
"Os Pistons faziam propaganda de sua "Lei de Jordan" como uma defesa secreta que só eles poderiam executar para parar o Jordan", escreveu Smith no primeiro capítulo do livro. "Esses segredos eram apenas uma série de defesas que jogavam Jordan para o meio da multidão (no ginásio), mas jogadores e treinadores de Detroit falavam como se tivesse sido uma estratégia inventada pelo Pentágono", disse o autor, em referência ao prédio onde funciona o Departamento de Defesa do governo dos Estados Unidos.
Ala-pivô do Detroit Pistons na época, John Salley definiu no documentário as razões que levaram seu time a fazer a "Lei de Jordan". "Você tinha que parar ele antes que alçasse voo porque ele não é humano", disse.
Mas, afinal, como era essa lei? Brendan Malone, assistente técnico do time de Detroit, contou em entrevista ao "Arremesso Final". Eram bem simples: "Número 1: nas laterais, vamos pressioná-lo até o cotovelo, sem deixar que chegue à linha de fundo. Número 2: se ele estiver em cima, vamos levá-lo para a esquerda. Se ele tiver a bola embaixo, não vamos deixar que suba. Essa era a Lei de Jordan".
E se Jordan mesmo assim conseguisse chegar à linha de fundo? "Então (Bill) Laimbeer e (Rick) Mahorn o jogariam no chão", disse Malone. Outros jogadores da época também disseram que a estratégia dos Pistons eram basicamente derrubar o astro do Chicago Bulls a qualquer custo.
"Se chegar à cesta, não vai enterrar. Vai levar porrada e ficar no chão. Queríamos machucá-lo fisicamente", disse Dennis Rodman, que mais tarde jogaria com Jordan no Bulls.
No documentário, Michael Jordan disse que o sentimento pelos jogadores da equipe de Detroit permanece até hoje. "Eu odiava os caras. E o ódio continua até hoje. Eles tornaram isso algo pessoal. Eles nos encheram de porrada", relembrou.
A tática deu certo nas três temporadas consecutivas de vitórias dos Pistons sobre os Bulls, mas a vingança veio em 1991, quando o time de Chicago "varreu" os rivais na final de conferência. 4 a 0 na série que abriu caminho para o primeiro dos seis títulos de Jordan na NBA. Após o jogo final, os atletas de Detroit não quiseram cumprimentar os vencedores. A mágoa ficou até hoje.
"Eu apertei a mão de todos em dois anos consecutivos quando nos venceram. Mostramos respeito pelo jogo e por eles. Isso é espírito esportivo. Não importa o quanto isso doa, e dói pra c... Mas eles não precisavam nos cumprimentar. Sabíamos que tínhamos batido eles, superamos eles. E, para mim, de alguma forma, isso foi melhor que ganhar a NBA", disse Jordan.
Apesar de apresentar um relato da rivalidade, a série "Arremesso Final" não citou Joe Dumars, o jogador que ficou conhecido por marcar de perto Michael Jordan naqueles momentos. Em entrevista à Fox americana, ele disse que não tem nada além de respeito pelo ídolo do Chicago Bulls.
Série ressuscitou polêmicas
A exibição de "Arremesso Final" tem sido acompanhada de polêmicas no mundo do basquete. Rivais dos tempos de Detroit Pistons chamaram Jordan de "chorão" e citaram até que existem "10 iguais a ele" na geração atual da NBA.
Reggie Miller, ídolo do Indiana Pacers e rival de Jordan nos tempos de jogador, disse que "daria um soco" nele se o encontrasse atualmente. Miller e Jordan chegaram a brigar em quadra na temporada de 1993.
Declarações de Jordan no documentário sobre Scottie Pippen também foram rebatidas por Steve Kerr. Após o "Air" dizer que Scottie se equivocou em atitudes na temporada de 1997-98, Kerr, atualmente técnico do Golden State Warriors, disse que "todos respeitamos a decisão de Pippen. Entendíamos sua frustração. Com certeza ele deveria ser o segundo jogador mais bem pago na NBA. Ao menos estar entre os cinco primeiros. Por isso nós o apoiamos e entendemos. Demos o espaço a ele e esperamos que voltasse para nos ajudar na segunda parte da temporada".
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