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Como o Air Jordan foi além do basquete e fez até Timberlake poupar dinheiro

A partir do Air Jordan 1 (foto), os tênis transcenderam as quadras e viraram parte da cultura americana - Focus On Sport/Getty Images
A partir do Air Jordan 1 (foto), os tênis transcenderam as quadras e viraram parte da cultura americana Imagem: Focus On Sport/Getty Images

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/05/2020 04h00

A série "Arremesso Final", produção da Netflix em parceria com a ESPN dos Estados Unidos, ratifica o quanto Michael Jordan transcendeu as quadras de basquete e se tornou o maior ícone pop da modalidade. Talvez o maior exemplo citado na série apareça no quinto capítulo, que conta sobre como o camisa 23 assinou contrato com a Nike para posteriormente firmar a marca "Air Jordan', até hoje um braço poderoso da empresa de material esportivo.

Na série da Netflix, Jordan e David Falk, seu agente, contam como foi costurado o acordo com a Nike, na época uma empresa de menor porte e rejeitada pelo próprio astro, que só ouviu a proposta da fornecedora de material esportivo por recomendação da mãe. Não demorou para o acordo potencializar as duas partes a ícones da cultura pop, especialmente em solo norte-americano.

"Você precisava ter um Air Jordan. A gente economizava dinheiro, cortava grama, fazia serviços, poupava e ficava na fila da Foot Locker [loja especializada em calçados esportivos]", relembrou Justin Timberlake, hoje superastro da música, mas na época apenas um fã de Jordan que queria o tênis exclusivo do então ala-armador do Chicago Bulls.

A visão mitológica sobre o tênis de Michael Jordan é reforçada pelo rapper Nas. "Para um garoto era quase como ter um sabre de luz de Star Wars. Precisava do tênis para ser como ele. Era mais que um símbolo de status. Você sabia que ele era o cara. As outras marcas não mudavam muito. Os "Jordans" iam mudando", contou, também em depoimento ao documentário.

Há dois grandes segredos no sucesso na parceria entre Jordan e a Nike. Primeiro, o sucesso em quadra do próprio MJ como jogador de basquete, como o próprio reforça em "Arremesso Final". Em segundo, a exclusividade do astro com a empresa em meio à era da popularização definitiva da liga com grandes estrelas.

Jordan e Falk conversaram primeiro com a Converse, que produzia os tênis "oficiais" da NBA e contava com Magic Johnson e Larry Bird como garotos-propaganda. A fornecedora imediatamente refutou qualquer possibilidade de tornar o camisa 23 dos Bulls a grande estrela da companhia, ainda mais em início de carreira. A Adidas, preferida do craque, não se dispôs a produzir um tênis exclusivo.

A Nike surgiu como alternativa, mas não agradava a Jordan. A mãe do astro sugeriu a ida para a sede da empresa, a fim de conversarem sobre um possível acordo. O então jogador saiu com US$ 250 mil a mais na conta e a exclusividade que aumentou ainda mais a sua popularidade no país.

Deste acordo saiu a produção de um tênis exclusivo para Michael Jordan. Em 1984, ano de início da parceria, a Nike desenvolveu uma tecnologia chamada "air soil" para tênis de corrida. Na época, Jordan já era conhecido como alguém que "jogava e parava no ar", o que gerou a sugestão de Falk para a linha "Air Jordan".

Air Jordan - Los Angeles Times via Getty Images - Los Angeles Times via Getty Images
Silhueta de Jordan enterrando virou a marca esportiva do astro e uma das principais destaques da Nike
Imagem: Los Angeles Times via Getty Images

Segundo o agente de Jordan, o acordo com a Nike possuía uma cláusula que planejava US$ 3 milhões em vendas em quatro anos. Somente no primeiro, a empresa faturou US$ 126 milhões com a linha da então sensação da liga mais famosa de basquete do planeta.

Nike e Jordan usaram e abusaram do marketing para tornar o Air Jordan algo cultural. A presença do cineasta Spike Lee para dirigir os comerciais, na análise da parceria, ajudou a aproximar a linha das ruas.

Não era apenas basquete, era algo casual e imponente, como resume Roy Johnson, autor da reportagem The Jordan Effect para a revista 'Fortune'. A "Air Jordan" passou a caminhar sozinha e ser uma marca própria dentro da Nike até hoje, mais de 30 anos depois de MJ iniciar a carreira na NBA.

"Antes de Michael Jordan eram apenas tênis para basquete. De repente, aquilo virou moda e cultura", diz, em depoimento à série documental.