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LeBron James usa prestígio e dinheiro em campanha contra Trump

LeBron James, do Los Angeles Lakers, contra o Portland Trail Blazers no quinto jogo da série nos playoffs da NBA - Kevin C. Cox/Getty Images/AFP
LeBron James, do Los Angeles Lakers, contra o Portland Trail Blazers no quinto jogo da série nos playoffs da NBA Imagem: Kevin C. Cox/Getty Images/AFP

Do UOL, em São Paulo

30/08/2020 04h00

A vitória do Los Angeles Lakers (131 a 122) sobre o Portland Trail Blazers ontem (29) deve ter sido lamentada pela campanha à reeleição do presidente Donald Trump. No retorno da NBA após o histórico boicote contra o racismo e a brutalidade policial, na semana passada, LeBron James promete ser não apenas a principal estrela na bolha montada na Flórida, mas também uma voz influente nas eleições presidenciais de novembro.

Aos 35 anos, um dos melhores jogadores de basquete da história e dono de uma fortuna estimada em 450 milhões de dólares, LeBron tem consciência do peso de sua voz no debate público. Mas ele não pretende apenas articular palavras ao microfone. Sua intenção é usar seu dinheiro e seu prestígio junto aos jovens e à comunidade negra para aumentar as chances do democrata Joe Biden tirar Trump da Casa Branca.

Em quem ele vota

Fez campanha para a democrata Hillary Clinton em 2016 e prometeu apoiar com intensidade Biden e a candidata a vice Kamala Harris.

Ação política na prática

O ala participou da fundação e financia a ONG More Than a Vote (Mais Que um Voto), que promete fazer campanhas multimilionárias para promover o comparecimento de eleitores negros na votação de novembro. O voto nos EUA não é obrigatório. Se eleitores de determinados perfis demográficos forem mais incentivados a votar, isso pode influenciar o resultado das urnas.

LeBron teme que a pandemia possa afastar mais os negros da votação. As primárias da Georgia, em junho, foram consideradas uma "catástrofe" em termos de organização, principalmente em comunidades de maioria não-branca. Essas comunidades tendem a ser mais pobres e, portanto, mais suscetíveis aos riscos do coronavírus. Com mais riscos, a tendência é que essas comunidades compareçam menos aos locais de votação, principalmente se o voto pelos correios não for facilitado.

A More Than a Vote pretende mudar esse cenário e convencer jovens negros não apenas a votar, como também a atuar como mesários e fiscais, poupando dos riscos da covid os mais velhos, que tradicionalmente fazem essas funções.

Eleitores negros são um dos principais trunfos de Biden contra Trump, já que a comunidade admira o fiel vice-presidente de Barack Obama.

O conselho de Obama

Depois que os jogadores do Milwaukee Bucks se recusaram a entrar em quadra em um boicote contra a violência policial e o racismo, LeBron e as duas equipes de Los Angeles (Lakers e Clippers) votaram pelo encerramento da temporada. O armador não via sentido continuar jogando enquanto sua comunidade ia às ruas contra a injustiça racial.

Lebron - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
LeBron usa boné com paródia de slogan de Trump e pede justiça
Imagem: Reprodução/Instagram

No dia seguinte, em uma conversa com Obama, LeBron voltou atrás e concordou em retomar os jogos. Mas Obama aconselhou os jogadores a fazerem algumas exigências à NBA. Uma delas foi uma vitória do movimento eleitoral de LeBron.

O que LeBron já conseguiu

A NBA atendeu as reivindicações dos jogadores e anunciou que cederá as arenas sob seu controle em todo o país para serem usadas como locais de votação em novembro. Assim, os eleitores terão um local espaçoso, geralmente localizado no centro das cidades, aonde podem ir para votar com certo distanciamento social. A ONG de LeBron já se articula com outras organizações para garantir outros espaços (como estádios e universidades) para receberem urnas.

A liga também tem reforçado em suas transmissões a campanha pelo voto em novembro. Ontem, o técnico Steve Clifford, do Orlando Magic, conclamou ao vivo os torcedores a votarem e a chamarem todos os seus amigos a fazer o mesmo.

Como a militância de LeBron afeta as campanhas

Donald Trump já precisou reagir às movimentações do principal atleta e da liga mais popular do país. "O que eles estão fazendo vai destruir o basquete", disse o presidente na sexta à noite sobre os protestos na NBA.

Amy Koch, uma consultora política republicana, admitiu à Reuters que LeBron pode ter um impacto nas eleições. Mas também corre o risco de afastar o voto da classe média que não consegue diferenciar protestos de rua pacíficos de violentos.

"Se ele conseguir votos a mais, fará mesmo uma diferença. A diferença dele para outras celebridades é que ele não embarca em qualquer coisa, tem credibilidade e é disciplinado."

Também à Reuters Donna Brazile, ex-presidente do Comitê Nacional Democrata, disse que LeBron e outros jogadores estão usando o prestígio para mudar o sistema judicial.

"Eles estão dizendo pros fãs que se você quiser mudança, você vai ter que votar por mudança. Se quiser consertar um problema, vai ter que colocar no governo pessoas que podem mudar a política."

Lakers e finais da NBA podem ser plataforma ideal pró-Biden

O Los Angeles Lakers é uma das poucas franquias da NBA com torcedores em praticamente todo o país e chegou às finais pela última vez em 2010. Seu avanço nos playoffs geraria manchetes e muito tempo de TV na imensa maioria dos lares americanos. O atraso na temporada causado pela pandemia acabou gerando uma coincidência inusitada: as finais correrão paralelas à reta final da campanha presidencial.

O próximo duelo dos Lakers será contra o vencedor de Houston Rockets x Oklahoma City Thunder na semifinal da conferência oeste. Contra o Portland ontem, LeBron fez seu 14ª triplo duplo da temporada, com 36 pontos, 10 rebotes e 10 assistências. Se seguir avançando, LeBron pode continuar sua campanha dupla: pelo título dentro da quadra; e pelos votos para seu candidato fora dela.

Há dois anos, Laura Ingraham, uma comentarista política do canal Fox News, criticou o ativismo de LeBron e disse que ele deveria "calar a boca e driblar". O armador continuou driblando, mas não se calou. Ao contrário, ajudou a tornar a NBA a mais progressista entre as ligas profissionais americanas, por meio da voz de seus atletas. E ainda pode se converter numa pedra no caminho de Trump à reeleição.