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Maguila exalta vida de sambista, mas sonha com pupilos campeões em 2016

Maurício Dehò

Em São Paulo

25/12/2009 07h36

  • Reprodução

    Maguila lançou em outubro o CD Vida de Campeão, o seu primeiro

Quem diria que Adílson Rodrigues, o eterno Maguila, um dia trocaria os ringues pelos palcos, como cantor? E o ex-campeão sul-americano de boxe tem gostado de ficar atrás do microfone. Já diz até que prefere o samba às trocas de socos no quadrilátero. Mas, apesar de exaltar sua nova profissão, o sergipano ainda tem grandes sonhos no boxe, de olho nos Jogos Olímpicos de 2016.

“É muito melhor do que tomar porrada", garante ele. "É só cuidar da voz e não pode ficar tomando gelado. Agora é bem melhor, a gente se diverte cantando, anima a rapaziada. E lá (no boxe) era soco pra lá, soco para cá...". Maguila trocou os calções, o peito nu e as luvas por ternos em tons claros, camisetas listradas e uma sempre presente boina.

Em outubro de 2009, o ex-peso pesado lançou seu primeiro CD, “Vida de Campeão”, pela gravadora Luar Music. Nele, apresenta sambas como os de Zeca Pagodinho e Bezerra da Silva e até uma faixa inspirada em sua própria história de superação, que dá nome ao álbum.

A investida de Maguila é séria. Hoje, ele passa de dois a três dias por semanas em um estúdio na Zona Sul de São Paulo. Lá, encontra com sua banda, toda formada por sambistas da nova geração e eles ensaiam para a estreia da turnê do ex-pugilista, que terá início em 2010. O nome de seu conjunto é mais uma alusão ao pugilismo: Peso Pesado.

A história do ex-campeão com a música vem de seus tempos de lutas, já que ele afirma sempre ter “cantado uns sambinhas” depois de seus combates. Depois de dar uma palhinha na TV, Raulzinho, filho do apresentador Raul Gil, encorajou-o a seguir em frente como cantor. 

'MULHER NÃO DEVERIA APANHAR', OPINA MAGUILA

Apesar de não se opor a que se dê treinos para garotas no projeto em que trabalha com a mulher Irani, Maguila não esconde que não gosta de boxe feminino. O ex-pugilista, atual sambista, explica com seu jeito sempre engraçado o motivo para reprovar mulheres trocando socos:

"Se dizem que é violento para homem, imagina para mulher. Não acho que o boxe seja violento, mas a mulher tem o seio, as"partes mimosas". Seio é para acariciar e não ficar batendo em cima", explica ele, com seu jeito simples, mas direto. "Acho que não é bom porque o homem tem outro tipo de musculatura, a mulher é mais frágil. Mas vai de cada um. Para mim, mulher não tem que ficar tomando soco na cara, quebrando o nariz. Eu as incentivo treinar, mas se quiser lutar, não subiria como treinador."

Uma das ideias para ter gravado um álbum é a de ajudar a ONG Amanhã Melhor, dirigida por sua esposa, Irani Pinheiro, com quem trabalha. Toda a verba de vendas do CD será revertida para o projeto, além de 10% do que for ganho com os shows, segundo ele. 

"Estou cantando justamente para ajudar. O governo apóia pouco e temos cerca de mil crianças para as atividades, para dar lanche e passagens. Quero fazer minha parte. Não vou salvar o mundo, mas o que eu puder fazer pelos mais necessitados, vou fazer", explica Maguila.

O sergipano comparece ao projeto sempre que não está ensaiando. Ele acompanha os cerca de mil garotos que praticam esportes na ONG, mas é claro que dá atenção preferencial para quem quer tentar a sorte com as luvas – há ainda futebol de salão, vôlei, balé, entre outras atividades gratuitas. O grande sonho é chegar aos Jogos Olímpicos de 2016 com representantes do projeto brigando pela medalha de ouro no boxe.

“Meu sonho é esse, 2016 seria o ideal e estamos trabalhando para isso. Este ano estamos preparando uns dez garotos para a Forja de Campeões, todos amadores. É mais para dar o primeiro passo, vou de vez em quando para eles me verem, porque se for todo dia é capaz de enjoarem da minha cara", brinca. "Mas o boxe demora, tem que treinar e se adaptar, porque luta quem quer. O trabalho é social, de tirar eles da rua. Se tomarem gosto e quiseram lutar, estamos aí".

A ONG Amanhã Melhor é situada na Vila Olímpica Mário Covas, no bairro do Butantã em São Paulo. Atualmente atende cerca de mil crianças, que passam por testes e só tem como exigência comprovar que são estudantes.