Topo

Após lutar lesionado em Pequim, baiano volta mirando Jogos Militares e parada

Maurício Dehò

Em São Paulo

22/03/2010 07h00

SONHADO CINTURÃO? BAIANO ASSINOU, MAS NUNCA PASSOU A PROFISSIONAL

  • FI

    Uma das imagens marcantes do boxe é do campeão mundial com os braços estendidos, ostentando um cinturão. No entanto, Washington Silva não sonhou com este título em sua carreira e a encerrará sem colocar na cintura tal prêmio. O baiano é um dos brasileiros que apostou na estrutura mais estável do boxe amador brasileiro. A seleção, com apoio do COB, tornou-se mais segura do que arriscar-se no profissional, em que há poucos empresários e um número muito pequeno de programações de boxe de qualidade.

    No caso de Washington, o curioso é que por cerca de um ano ele teve contrato para virar profissional, mas desistiu. Junto ao técnico Luis Dórea, ele assinou para deixar o boxe amador depois de Atenas-2004. "Eu tinha assinado e peguei o dinheiro, que ficou comigo por um ano. Depois falei que não queria e passei de volta a grana. Sempre gostei mais do amador e tinha como objetivo ser campeão olímpico em Pequim", disse ele, que viu a lesão no joelho encerrar o sonho.

O baiano Washington Silva foi o melhor pugilista brasileiro nos Jogos Olímpicos de Pequim ao lado de Paulo Carvalho, ao ficar a uma luta de garantir uma medalha de bronze e findar um jejum de quatro décadas para o Brasil. O feito, no entanto, foi sob muitas dores. O meio-pesado competiu com ligamentos do joelho direito rompidos. Agora, 19 meses depois, ele volta às competições internacionais com a disputa do Sul-Americano de Medellín (COL), um de seus derradeiros torneios.

Após operar, Washington ficou mais de um ano afastado dos ringues para recuperar o problema de ligamentos cruzados. Veterano de 32 anos, preferiu a calma para retornar a lutar e o fez no fim de 2009, vencendo em sua categoria no Desafio das Estrelas, contra rivais brasileiros. Depois, fez um período de intercâmbio em Cuba e venceu três lutas de quatro realizadas.

O Sul-Americano, no entanto, é a primeira oportunidade em que o baiano retomará os eventos internacionais - o torneio de pugilismo começa na segunda-feira.

O plano é o de se preparar da melhor forma possível rumo aos Jogos Mundiais Militares, que serão sua última grande competição antes da aposentadoria, programada para o início de 2012. Ele representa a Marinha.

“Para as Olimpíadas de 2012 não dá. Meu plano é pegar o ouro no Sul-Americano e ir bem para as Olimpíadas Militares. Depois, vou seguir estudando para contribuir de outra maneira para o boxe, tentando fazer um campeão olímpico", explicou Washington.

Na visão do meio-pesado, com sua idade é mais benéfico deixar aberta a vaga em sua categoria para que um jovem talento seja desenvolvido até Londres-2012. Enquanto segue lutando, Washington estuda para ficar fora do ringue, mais precisamente no corner como técnico, buscando fazer um medalhista olímpico, o que não conseguiu no boxe amador devido à lesão.

A SELEÇÃO BRASILEIRA

MASCULINO  
Paulo Carvalho (BA) -48 kg
Julião Neto (PA) -51 kg
Jean Carvalho (RR) -54 kg
José Brito (PR) -57 kg
Everton Lopes (BA) -60 kg
Myke Carvalho (PA) -64 kg
Esquiva Falção Florentino (ES) -69 kg
Yamaguchi Falcão Florentino (ES) -75 kg
Washington Silva (BA) -81 kg
Rafael Lima (PA) -91 kg
Marcelo Cruz (DF) +91 kg
FEMININO  
Erika Matos (BA) -51 kg
Adriana Araujo -60 kg
Andreia Bandeira (SP) -75 kg

“Na forma que eu estava antes das Olimpíadas a medalha era minha. Eu não tinha como treinar devido à lesão e fazia pouca preparação em Pequim para competir”, lembra ele, lamentando ter caído a apenas uma luta do bronze, nas quartas de final, quando perdeu para o irlandês Kenneth Egan.

Para retornar no Desafio das Estrelas, Washington admite que teve insegurança na movimentação do joelho, mas a lesão se mostrou recuperada e a confiança voltou para ele tentar o ouro em Medellín.

“Marinheiro” Washington Silva

Washington Silva faz parte dos atletas que passaram a receber apoio das Forças Armadas do Brasil, que se prepara para ter um time de peso nos Jogos Militares de 2011, no Rio de Janeiro.

Para ele, a iniciativa é importante não só em relação a esta competição, mas para os Jogos Olímpicos como o que também terá sede na capital fluminense, em 2016.

“Se tivéssemos este apoio antes, as modalidades conseguiriam muito mais medalhas do que temos hoje. Quando se trata de uma organização como a Marinha, é o governo nacional apoiando, é totalmente diferente. A seleção também tem uma estrutura muito boa, mas temos de ter um trabalho paralelo. Assim, teremos pólos e aí sim sairão grandes atletas para representar o Brasil”, analisou ele.