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Inocentado em caso de homicídio, Popó desiste das eleições e quer ser delegado

Maurício Dehò

Em Salvador (BA)

03/05/2010 07h00

Na última quinta-feira, Acelino Freitas, o tetracampeão mundial de boxe Popó, completou três anos afastado dos ringues profissionais. Desde então, a carreira de aposentado do baiano trilhou os caminhos da política e tinha destino certo rumo às eleições deste ano. No entanto, um escândalo nas páginas policiais mudou os seus planos, mesmo com sua inocência segundo as investigações. Hoje ele é aluno de faculdade, mirando um emprego concursado como delegado ou virar desembargador.

POLÊMICA E DIVERSÃO

  • Arquivo/FI
  • Edson Ruiz/Footpress

    Visto em eventos que vão do futebol beneficente à Stock Car após se aposentar, Popó teve problemas quando foi acusado de mandante em um caso de assassinato; inquérito livrou o ex-campeão mundial

Popó foi citado em um caso de assassinato em 2009. O crime teria sido motivado pelo envolvimento de sua sobrinha, filha do irmão Luis Cláudio, com Jonatas dos Santos Dantas, de 22 anos, um relacionamento reprovado pela família. Jonatas escapou com vida, mas o amigo Moisés Magalhães Pinheiro, de 28 anos, morreu num ataque feito por seis homens armados.

A acusação é de que um integrante da família de Popó teria sido mandante do crime. Segundo a delegada da Delegacia de Homicídios de Salvador, Francineide Moura, o inquérito foi encerrado e, por falta de provas, Popó não foi incluído. Luis Cláudio responderá junto a seis policiais à denúncia feita esta semana pelo Ministério Público da Bahia. Já Dantas, que fez a acusação, está preso por crimes cometidos anteriormente ao incidente.

O caso mexeu com o baiano, que se viu em meio a desconfiança na sua cidade-natal, onde é estrela e até se vê obrigado a andar de boné e óculos de grau no shopping, para evitar os constantes pedidos de autógrafos e fotos dos fãs. Na ocasião do crime, Popó admitiu ter ido atrás da sobrinha e a tirado da casa do namorado, mas negou ter mandado matá-lo.

“Para eu mostrar minha inocência, tive que pagar muito caro em relação à minha imagem”, conta Popó, que quando garoto estudou até a quarta série, para se dedicar apenas ao boxe e tentar escapar da vida pobre em Salvador.

“Eu quero fazer concurso para delegado ou virar desembargador, porque como advogado, não vou querer defender um cara que diz que uma pessoa o mandou matar, sendo isso uma mentira”, diz ele, acusando.

POPÓ EM NÚMEROS

  • 4

    TÍTULOS MUNDIAIS

    Conquistou Popó na carreira, se tornando o maior campeão do país

  • 2

    DERROTAS

    Teve o ex-peso leve, apenas, em
    40 combates feitos de 1995 a 2007

  • 29

    NOCAUTES

    Consecutivos teve Popó no início
    de sua carreira como profissional

  • 15

    MESES

    Durou a experiência de Popó na secretaria de Esportes de Salvador

“Botaram um marginal na televisão falando que eu mandei matar ele. E não tinha nada disso. Para mim foi realmente um nocaute que tomei, nunca esperei por isso. E até provar que você não o fez...”, completa.

Popó havia completado o ensino fundamental e o médio em supletivos nos dois últimos anos e escolheu cursar a faculdade de Direito, em que está no primeiro semestre pela Faculdade Batista Brasileira (FBB).

Também pela sua experiência de setembro de 2007 a dezembro de 2008 como secretário de Esportes, Lazer e Entretenimento, ele desistiu de tentar cargo político como deputado - o baiano é filiado do PRB. Popó alega que não conseguiu colocar em ação seus projetos quando estava na prefeitura soteropolitana.

“Muita gente me para na rua, dizem que precisam de pessoas como eu, mas a política é muito suja. O salário é baixo. Quando você entra, é difícil não se corromper, e não quero sujar minha imagem”, opina Popó.

APÓS OS CINTURÕES, COLHENDO O QUE PLANTOU

  • AFP
  • AP

    Desde que se aposentou, Popó flertou com a política e chegou a ser secretário de Esportes, mas desistiu. O baiano conquistou o último de quatro títulos em 2006

A rotina de Popó passou a ser de estudante. Pela manhã, troca as luvas e a extensa rotina de treinos que ocupou sua agenda por quase duas décadas no boxe pelos livros e cadernos, algo muito atípico para quem não passou da 4ª série quando jovem.

Depois, cuida de seus trabalhos no boxe - uma academia, o projeto social Instituto Acelino Popó Freitas e a promotora de eventos Boxe Brasil -, e tem como parte fundamental de seu sustento o rendimento com imóveis.

“Tudo o que ganhei no boxe, aquela semente, hoje estou colhendo. Vivo de renda, tenho muitos imóveis alugados, então vivo bem. Graças a Deus, plantei o futuro da minha família”, explica o ex-pugilista, que foi campeão entre os superpenas e os leves, tornando-se o brasileiro com maior número de títulos na história.

Popó chegou a cogitar uma luta de despedida em 2009. Na ocasião, ele completaria dez anos do seu primeiro cinturão, conquistado com um nocaute no primeiro assalto contra Anatoly Alexandrov.

Sem apoio para organizar o evento, o baiano realizou um treino aberto em um shopping de Salvador e se disse satisfeito com o carinho recebido pelos espectadores no “adeus”.