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Fora de seu peso, campeã achava que 'não passaria nem da 1ª luta'

Roseli Feitosa se ajoelha no pódio na entrega do ouro do Mundial feminino de boxe, em Barbados - CBBoxe/Divulgação
Roseli Feitosa se ajoelha no pódio na entrega do ouro do Mundial feminino de boxe, em Barbados Imagem: CBBoxe/Divulgação

Maurício Dehò

Em São Paulo

21/09/2010 07h12

Primeira campeã mundial da história do boxe olímpico brasileiro na categoria adulta, Roseli Feitosa teve de vencer o próprio ceticismo para conquistar o seu ouro, no último sábado, em Barbados. A paulista de 21 anos ficaria satisfeita de “ganhar só uma luta”, até porque lutou fora de seu peso. E pior, contra lutadoras mais pesadas, e portanto mais fortes.

Habitualmente, Roseli disputa combates na categoria até 75 kg, mas Andréia Bandeira, tricampeã pan-americana ficou com a vaga. Neste Mundial, teve de se contentar com lutar entre as pugilistas de até 81 kg, número que chega a subir após a pesagem oficial de competição.

“Eu só fui para não deixar de ir. Achei que não ia passar nem da primeira luta. Queria só ganhar a primeira. Mas, chegando à final, estava confiante com três vitórias”, afirma Roseli, ao UOL Esporte.

A diferença de categoria de peso Roseli sente no rosto, nos braços que a defendem dos golpes e no corpo. “O soco de uma lutadora mais pesada é mais forte. Estou acostumada a lutar contra lutadoras de no máximo 77 kg. E no Mundial elas podiam chegar a 82 kg na hora da luta. A pancada é forte”, explica ela, que iniciou a competição com 78,5 kg e terminou com um a menos.

SEGUNDO OURO EM UM MÊS

  • O boxe olímpico brasileiro vive uma boa fase e teve dois motivos para comemorar em menos de um mês. No fim de agosto, David Lourenço, campeão mundial juvenil nesta temporada, faturou mais uma medalha de ouro. Ele fo o vencedor da categoria até 69 kg dos Jogos da Juventude, realizados em Cingapura. Com três vitórias, o jovem garantiu o título e sonha integrar a seleção para Londres-2012.

Com isso, Roseli teve de se aproveitar da velocidade. O atributo não é uma de suas grandes qualidades no seu peso normal, mas diante de rivais naturalmente mais lentas, que “dançam” menos no ringue, acabou sendo um trunfo. Até por isso, teve contagens elásticas na placar: 22 a 2 na estreia contra queniana, 16 a 3 diante de rival turca, 14 a 6 contra húngara e o título em 12 a 3, vencendo a cazaque Marina Volnova.

Com todas as adversidades, Roseli admite que o nervosismo chegou na véspera de sua luta, com o coração acelerado bem antes de entrar no ringue. Apesar de lutar em um paraíso como a ilha caribenha de Barbados, o fato de estar longe da família e da comida brasileira dificultou o trabalho. Para ela, foi o que impossibilitou outros pódios.

“Por ser um campeonato longo, é sempre difícil. Muitas brasileiras perderam para elas mesmas, porque esta é a dificuldade”, disse ela. “O nível está muito alto, chegando ao do masculino. Mas o Brasil está bem. Agora conhecemos melhor nossas rivais e dá para se preparar melhor para enfrentarmos as chinesas, por exemplo, que tiveram sete pódios”. As brasileiras ficaram perto de outro pódio com Taynna Cardoso, que foi até as quartas de final.