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Por recorde, Pacquiao desafia ceticismo em 1ª luta desde que virou deputado

51 mil assistiram à vitória de Pacquiao no Cowboys Stadium, em março; astro retorna - Eric Gay/AP
51 mil assistiram à vitória de Pacquiao no Cowboys Stadium, em março; astro retorna Imagem: Eric Gay/AP

Maurício Dehò

Em São Paulo

13/11/2010 07h00

Maior astro do boxe mundial, Manny Pacquiao dominou os ringues em sete categorias. Foi campeão em todas elas. Um recorde. Depois de bater nomes como Oscar de la Hoya e Miguel Cotto, ele encara um novo desafio. É possível conciliar seu novo trabalho como parlamentar com os desgastantes treinos e os duros combates?

Neste sábado, às 23h (com transmissão do canal Combate), ele enfrenta o polêmico mexicano Antonio Margarito em Dallas, outra vez no Cowboys Stadium, a bilionária arena de futebol americano. O duelo vale a ampliação do recorde: seu oitavo título em categorias diferentes, agora pelos médios ligeiros. O cinturão é do Conselho Mundial de Boxe e está vago.

MANNY PACQUIAO X ANTONIO MARGARITO

M. PACQUIAO
Filipinas
31 anos

Vitórias: 51
Derrotas: 3
Empates: 2
Nocautes: 38
Títulos: o lutador é recordista com títulos em sete categorias de peso diferentes e tenta ampliar a sua marca. Ele está invicto desde março de 2005.
MARGARITO
México
32 anos

Vitórias: 38
Derrotas: 6
Empates: -
Nocautes: 27
Títulos: o lutador foi campeão entre os meio-médios, mas tenta se recuperar de derrota para Mosley em 2009. Voltou a vencer em maio, lutando em casa, no México.

No último mês de maio, "Pac-Man" foi eleito deputado em um distrito das Filipinas. Ele preferiu não aguardar pela aposentadoria para tentar a sorte na política, dizendo querer reverter a realidade de seu país. Vindo de uma infância miserável, o outrora franzino lutador promete lutar contra a desigualdade, a favor dos pobres.

Mas é claro que estas metas de Pacquiao requerem trabalho e horas longe das academias de boxe. É aí que começam os problemas do pugilista. Ele levou muitos puxões de orelha do técnico Freddie Roach durante a preparação para o duelo, que deve arrastar 60 mil pessoas para o estádio do Dallas Cowboys.

Roach foi categórico ao dizer que este é o pior período de treinamento que teve ao lado do pupilo. Para piorar, a culpa é da política. De verdade. “Ele tem um problema no pé. E isso é porque tem usado muito sapato social”, explicou o técnico, à agência AP.

Pacquiao não nega. Mas, na chegada ao Texas para a luta, disse que esta não é sua última luta e que torce para enfrentar Floyd Mayweather Jr. no futuro. “Eu tenho vivido sob pressão. O treinamento está indo bem, mas o problema é longe disso. Tenho muitas tarefas a fazer. Estou pensando na aposentadoria, mas ainda tenho condições de lutar”, comentou o pugilista, que em seu último combate venceu apenas por pontos o ganês Joshua Clottey.

“Eu sei que sua mente não está nesta luta, por causa da política”, explicou o técnico. “Se não houver mais desafios, este pode ser o fim. Se Mayweather não aceitar a luta, não sei o que poderá desafiar Manny. Ele ama seu outro trabalho e pode estar chegando ao final com este aqui.”

Haye: título em jogo de olho em Klitschkos; veterano desafiante tenta surpreender 

  • Muito já se falou, mas os irmãos Klitschko e David Haye não acertaram valores quando se sentaram às mesas de negociação. Enquanto a categoria dos pesados segue fria, com duelos com pouco interesse e nenhuma unificação entre as estrelas, o calendário corre com interesse reduzido. Assim, Audley Harrison tem a chance de surpreender. Aos 39 anos (27-4) ele será o desafiante do também britânico Haye (24-1) em Manchester, neste sábado (sem transmissão para o Brasil). O duelo é válido  pelo cinturão da Associação Mundial de Boxe.

    “Se ele lutar como tem sido nos treinos, vencerá. David é muito pequeno, enquanto Audley é um real peso pesado. Com todo respeito, quem David Haye venceu como peso pesado?”, disse o técnico Tony Burns, que forjou Audley no boxe amador. Haye, ex-campeão dos cruzadores, venceu 3 vezes como pesado. Audley, campeão olímpico, ficou famoso pela vida de playboy e a carreira irregular. Ele venceu o brasileiro George Arias em 2008.

Pacquiao é o favorito disparado para a vitória, mas todas estas dúvidas podem mexer com sua cabeça. Invicto desde 2005 (seu cartel tem 51 vitórias, três derrotas e dois empates), o filipino conta com um conjunto vencedor. Mesmo vindo de categorias inferiores, ele mostrou que não vive só de sua velocidade. A força de seus punhos só aumentou com as mudanças de peso, o que se alia à velocidade e à experiência.

Um detalhe, porém, pode ser fundamental. Enquanto Manny Pacquiao apresentou 65,6 kg na pesagem oficial, Margarito ficou com 68,1 kg. O filipino ficou abaixo do limite dos médios ligeiros (69,9 kg), pelo qual eles lutam. E abaixo também está mais leve do que a categoria inferior, a dos meio-médios (66,7). Há ainda o fato de o mexicano ter 10 cm a mais de altura, o que fará Pacquiao ter de se aproximar mais do rival, com o cuidado de atingi-lo, mas também fugindo de seus potentes golpes.

 

E Antonio Margarito já provou que é perigoso. Ex-campeão dos meio-médios, ele se recuperou de derrota para Shane Mosley com vitória sobre Roberto Garcia, somando agora 38 vitórias e seis derrotas. Apesar do considerável número de reveses, ele só foi nocauteado uma vez e é um lutador que se destaca pela garra, característica típica dos mexicanos, escola das mais tradicionais do boxe.

Rival polêmico

Antonio Margarito luta para dar a volta por cima e retomar um posto entre os campeões da atualidade. Mais do que isso, tem como desafio recuperar a confiança dos torcedores, especialmente nos Estados Unidos. O mexicano foi suspenso dos ringues em 2009 por usar bandagens ilegais sob suas luvas em um combate.

A trapaça de que é acusado aconteceu na derrota para Shane Mosley, em janeiro de 2009, quando se verificou que havia materiais não permitidos em suas bandagens. Após ficar sem lutar nos Estados Unidos, ele retomou sua licença junto à comissão do Texas. Devido à impossibilidade de lutar nos EUA, ele fez seu último combate no México, quando venceu Roberto Garcia.

Além disso, Margarito causou polêmica na semana de luta em um vídeo considerado ofensivo a Pacquiao e ao técnico Freddie Roach. O ex-campeão foi acusado de caçoar do mal de Parkinson, doença que acometeu Roach e foi diagnosticada em 1992.