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Fora do ringue, Eder tentou o futebol, mostrou talento na arte e foi vereador

Eder se elegeu vereador em S. Paulo em 1986: "pediam para mim casa, carro, dinheiro" - Folhapress
Eder se elegeu vereador em S. Paulo em 1986: 'pediam para mim casa, carro, dinheiro' Imagem: Folhapress

Maurício Dehò

Em São Paulo

18/11/2010 06h56

Eder Jofre fez uma carreira irreparável no boxe, com seus dois títulos mundiais e o reconhecimento de ser um dos melhores pugilistas da história. Mas a modalidade tradicional entre a sua família, os Jofres e os Zumbanos – união nascida do casamento de seus pais -, não foi a única profissão que surgiu pela vida do paulistano.

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    Eder Jofre mandava bem como artista e chegou a ilustrar sua biografia escrita por Henrique Matteucci

O boxe foi herança de família. Aos 3 anos o pai Aristides "Kid" Jofre dava as luvas para o pequeno garoto lutar. Para não ficar na rua, Eder treinava. Sua primeira luta foi contra a própria irmã, Lucrécia, em uma exibição.

Mas não era só no que ele pensava. O Brasil mostrava talento no futebol com o surgimento de craques como Leônidas da Silva. Então, por que não tentar um futuro trocando as mãos pelos pés? Eder começou a jogar bola e logo se destacou nas partidas como um ponta esquerdo talentoso. Pequenino e magro, mas veloz, era descrito como tendo uma boa corrida, um bom drible, além de ter facilidade de chutar com os dois pés.

Desgostoso, o técnico Kid Jofre só voltou a sorrir quando um cronista esportivo conversou com Eder e o convenceu de seu talento no boxe. Mais tarde, ele defenderia as cores do São Paulo como pugilista, seu clube de coração.

Então, o adolescente voltou a conciliar seu tempo entre os treinos na academia localizada na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, e o trabalho de serralheiro no Chaveiros Zumbano.

Antes ou depois do boxe, um hobby não esquecido por Eder foi a arte. Apesar da mão pesada com as luvas, sempre gostou de desenhar. Seu trabalho foi ao grande público com as ilustrações de sua própria biografia, "O Galo de Ouro", de Henrique Matteucci.

Já longe dos ringues, aposentado após uma longa e vitoriosa carreira, Eder passou por mais uma prova em relação aos seus torcedores e o público brasileiro. Ele resolveu se candidatar às eleições em uma época em que esportistas candidatos eram raros. Eder conseguiu os votos necessários e se elegeu como vereador na câmara de São Paulo.

Eder foi eleito em 1986 e por 16 anos conseguiu manter a cadeira. "Aquela lei dos assentos para idosos nos ônibus e a do passe gratuito para eles é minha", reinvindica, e reclama do cargo. "Você sai na rua e todo mundo vem pedir uma casa, uma ajuda, uma graninha. É demais. Em um momento começaram a falar mal de mim e eu não consegui ser eleito novamente. Decidi parar. Se o povo não quer, eu não vou."

Hoje, Eder vive apenas de sua renda, com apartamento próprio próximo à avenida Paulista, moradias de aluguel e carro importado na garagem. Mas sem soberba e com um aviso: "Você que já tá pensando em dar um aperta nesse senhor, pode pensar duas vezes. Eu ainda consigo pegar muito marmanjo!", avisa o bicampeão.