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Brasileiros dissecam Klitschkos e dão dicas a cubano em luta por título inédito

Vitali Klitschko, de 39 anos, põe em jogo o cinturão da CMB contra o invicto cubano  - Getty Images
Vitali Klitschko, de 39 anos, põe em jogo o cinturão da CMB contra o invicto cubano Imagem: Getty Images

Maurício Dehò

Em São Paulo

18/03/2011 07h00

Vitali Klitschko entra no ringue neste sábado em um raro combate em que realmente terá alguém para se preocupar do outro lado do ringue. O campeão dos pesados pelo Conselho Mundial de Boxe encara na Alemanha Odlanier Solis, um desafiante pelo título que não luta apenas por si, mas para fazer história para Cuba, um dos mais tradicionais criadouros de pugilistas. Ele pode ser o pugilista do país caribenho a ostentar um cinturão na categoria mais famosa do boxe profissional, após nomes como Teófilo Stevenson e Félix Savón brilharem no amador.

Para saber como Solis pode botar na lona o ucraniano e faturar o cinturão histórico, o UOL Esporte falou com Raphael Zumbano e George Arias, pesos pesados brasileiros em ação nesta seman. Eles indicaram as armas que podem ser usadas tanto contra Vitali, quanto contra o irmão caçula Wladimir, detentor dos cinturões da Organização Mundial e da Federação Internacional de Boxe.

Solis tem 30 anos, mas um cartel curto como profissional. São 17 vitórias, sendo 12 delas por nocaute, sem derrotas. Apesar de ser ídolo em Cuba, com o título olímpico nos superpesados em Atenas-2004, ele desertou em 2006, em um treino na Venezuela para o Pan do Rio-2007.

Agora, encara seu maior desafio diante do mais velho dos Klitschko, invicto desde 2003. O tamanho, a força e o retrospecto de Vitali – e também de Wladimir – costumam causar medo nos rivais. E, segundo Raphael Zumbano, primo de Eder Jofre, esse é o problema.

“Tem que ir para dentro. Os caras respeitam muito os Klitschko”, afirmou Zumbano, 14º no ranking da Organização Mundial de Boxe e vencedor contra o argentino Carlos Ojeda, nesta quinta-feira. “Os lutadores sabem que o Vitali pega duro e ficam com medo. Não pode respeitar tanto, tem de ir para o ataque... Mas sem fazer maluquices!”

PESADOS BRASILEIROS NO RINGUE:
Zumbano vence; Arias luta hoje



ZUMBANO VENCE POR PONTOS EM SP
O peso pesado paulista Raphael Zumbano manteve nesta quinta-feira seu título latino da Organização Mundial, ao vencer por pontos Carlos Ojeda. Ele precisou dos 12 rounds contra o argentino, mas, com o resultado, pode subir no ranking da entidade. O objetivo é trazer ao Brasil o sul-africano Frans Botha para um duelo. LEIA MAIS


GEORGE ARIAS LUTA NA ARGENTINA
O campeão brasileiro dos pesados George Arias, luta mais uma vez na Argentina. Nesta sexta, ele é desafiado por Lisandro Diaz, argentino de cartel modesto, com 19 vitórias, dez derrotas e um nocaute. O combate vale pelo título sul-americano de Arias, que tem série invicta no ringue desde duas derrotas na Europa, em 2007 e 2008. O lutador brasileiro tem 48 vitórias e 11 derrotas.

Zumbano bate numa tecla também tocada por Santo Arias, técnico e pai do atual campeão brasileiro dos pesados, George Arias. Um dos maiores problemas enfrentados pelos desafiantes dos Klitschko é a altura deles. Vitali, do alto de seus 2,02 m, consegue controlar o ritmo da luta. A lentidão aplicada por ele e os jabs potentes vão minando os rivais, que não conseguem agir.

“A altura deles atrapalha muito. Técnica e condição física são 90% nessas lutas. Eles não deixam você se aproximar, então você tem de ter velocidade para entrar, encurtar a distância. A ideia é não receber golpes, porque os jabs deles são muito potentes”, explicou o treinador. No entanto, ele se preocupa com as dimensões de Solis: 1,87 m e cerca de 120 kg em suas últimas lutas.

George Arias, que nesta sexta-feira põe em jogo seu título sul-americano contra o argentino Lisandro Ezequiel Diaz, na casa do rival, presa por uma combinação. “É preciso misturar defesa e pressão. Os golpes que entram são muito fortes, então a defesa precisa ser boa. Já a movimentação tem de ser grande, apertando e encurtando a distância a luta toda”, aconselha ele.

Vitali perdeu pela última vez em 2003, contra Lennox Lewis. Desde então, mistura atuações mornas, definidas por pontos, com alguns nocautes, frutos dos potentes, mas escassos golpes. Já o caçula Wladimir está invicto desde 2004, quando foi nocauteado por Lamon Brewster.

Os irmãos são criticados pelo estilo moroso de lutar, baseado muito mais na força do que na técnica. Além disso, a falta de rivais de peso, principalmente na ausência de estrelas norte-americanas entre os pesados, causou a diminuição no interesse pela categoria.

Apesar disso, eles seguem lotando estádios na Alemanha, país em que se basearam nos últimos anos. Neste sábado, Vitali entra no ringue no centro da arena do Colônia.

Um feito para Cuba?

Odlanier Solis vem de uma terra de pesos pesados de respeito. Félix Savón e Teófilo Stevenson marcaram suas épocas, dominando a categoria em Mundiais e Jogos Olímpicos. No entanto, devido ao regime restrito de Fidel Castro, nunca puderam deixar a ilha caribenha para se profissionalizar. Diferentemente dos desertores dos últimos anos, preferiram respeitar as ordens.

“O que são milhões de dólares comparados ao amor de oito milhões de cubanos?”, questionou Stevenson, quando recebeu uma polpuda oferta para enfrentar Muhammad Ali.

O país teve como primeiro campeão dos profissionais Kid Chocolate, na categoria superpena, em 1931. Mas, entre os pesados nunca um representante chegou a reinar. Solis defende sua deserção.

“Eu decidi que tinha vivido o suficiente daquilo. Voltaria dos treinos para Cuba de mãos vazias. Então, escolhi pela liberdade. A oportunidade estava lá e tive a chance de optar por dar a mim e à minha família um futuro melhor”, explicou o lutador, ao jornal News of the World. Resta saber se Odlanier Solis terá talento suficiente para representar uma história tão rica do boxe mundial, diante de um rival que causa tão dispares opiniões.