Topo

Aos 70, 'Forja' volta ao Pacaembu e conta com novato de 33 anos e fãs de rúgbi

Jogador de rúgbi por 20 anos, Rodrigo estreou no boxe ensinado pelo técnico Carollo - Maurício Dehò/UOL
Jogador de rúgbi por 20 anos, Rodrigo estreou no boxe ensinado pelo técnico Carollo Imagem: Maurício Dehò/UOL

Maurício Dehò

Em São Paulo

14/04/2011 07h00

Em 2011, a Forja de Campeões chegou ao seu aniversário de 70 anos. Torneio de estreantes que revelou nomes como Eder Jofre e Maguila, a competição quase ficou sem final por conta de uma interdição na terça-feira (5), mas uma semana depois, conheceu mais uma leva de campeões, num total de dez medalhas de ouro distribuídas.

Curiosamente, a solução para a realização da decisão foi levar a disputa ao ginásio do Pacaembu, onde eram feitas as lutas na época de Eder Jofre e, portanto, no local em que o Galo de Ouro conquistou seu primeiro título, justamente da Forja.

Entre as particularidades de cada pugilista - muitos de origem humilde - um se destacou na última terça-feira. Rodrigo Oriole tem 33 anos e, a um ano do limite da Forja, teve sua vida e morte na modalidade. Depois de anos sonhando em entrar no ringue, tomou coragem para lutar a Forja e chegou à final, ficando com a prata. E já anunciou aposentadoria.

Com tantas histórias destes iniciantes no pugilismo, o UOL Esporte separou algumas delas. Uns vingarão, outros não, como o próprio Rodrigo, mas o fato é que dezenas de garotos encararam subir no ringue e botaram a cara a bater, literalmente.

Aos 33, pugilista estreia e se aposenta na Forja de Campeões

Uma das particularidades da Forja de Campeões é sua torcida. E, entre alguns "especialistas" que acompanham semanalmente os combates, destaca-se claramente a presença de familiares e amigos dos lutadores da semana. No caso de Rodrigo, isso quis dizer um time inteiro de rúgbi. Ele jogou a modalidade por 20 anos e aproveitou para convidar os companheiros a assistirem à sua disputa. Até por conta disso, o nervosismo era claro, mesmo com rivais muito mais novos. "Enfrentei garotos de 16, 21 anos. Mas nem consegui dormir antes da luta", disse ele, derrotado por pontos na final. A medalha de ouro na categoria até 75 kg foi de Josemir Domingues.

ESTREANTE VAI DIRETO À FINAL (MAS SOBRINHO É QUE ROUBA A CENA)

Com apenas dois meses de treinos, Paulo França chegou à final da Forja. O detalhe é que foi sem lutar. Os W.O.s que podiam ser benefício fizeram ele estrear no boxe em uma final - e o resultado foi o que se podia esperar, com uma derrota para Jeferson Ceccato. Um dos mais simples da noitada no ginásio do Pacaembu, Paulo subiu ao ringue de tênis mesmo, ainda sem condições de ter uma sapatilha.

Mas, quem brilhou mesmo foi este garotinho, sobrinho de Paulo. Mesmo com o braço enfaixado por uma "lesão escolar", ele colocou um capacete e "ajudou" no aquecimento do tio, dando golpes com vontade. Futuro campeão?

SETE DÉCADAS DE MEMÓRIAS DA FORJA DE CAMPEÕES

Poucas pessoas foram tão reverenciadas no ginásio do Pacaembu quanto Antonio Carollo. Técnico da seleção brasileira em cinco Olímpiadas e ainda treinador, aos 87 anos, Carollo acompanhou os combates. Mais do que isso, pôde relembrar quando ele próprio lutou no Pacaembu. "Cheguei a lutar aqui. Perdi a final da Forja, mas fiz a revanche depois e ganhei dele". Sobre os talentos atuais, ele diz que há chances de um novo campeão, mas lamenta. "O boxe decaiu depois da bendita luta livre", disse, referindo-se ao MMA. "É uma pena que não temos amparo."
Carollo é parte importante na história do boxe brasileiro. Não treinou Eder Jofre, que trabalhava com o paí, Kid Jofre, mas teve influência nos outros três campeões mundiais do Brasil. Esteve com Miguel de Oliveira na conquista do cinturão, em 1975, e trabalhou com Popó e Sertão quando ainda eram amadores.Tive a satisfação de estar na delegação que foi ao combate do título de Eder Jofre contra Eloy Sanchez, em Los Angeles (EUA), em 1962,

relembrou Carollo, mostrando a cópia do ingresso
MÃE VÊ ROCKY E FILHO VAI AO RINGUE
EX-GORDINHO É OURO AOS 27
Quem vê Danilo Costa não pensa que ele tem 16 anos. Com 1,51 m, o baixinho foi valente e ficou com a prata na Forja, seu 1º torneio no mundo adulto. O detalhe é quem o incentivou: a mãe. Ao contrário da maioria, que sofre ao ver o filho trocando socos, Luzinete é quem encorajou o garoto. Tudo por causa dos filmes de Rocky Balboa que ela sempre assistia e que geraram sua paixão pelo boxe. "Trabalho dá, mas vale a pena", diz a mãe, sobre a viagem de São Vicente a São Paulo. E ela prepara mais, quer o outro filho, de oito anos, no mesmo caminho que o vice-campeão.Entre os diferentes motivos para entrar na Forja, Anderson Santos teve uma superação diferente. Ele era um gordinho de 80 kg. Hoje com 55 kg, ele se adequou à categoria até 56kg e pôde entrar no ringue. "Comecei para perder peso, só, mas o pessoal começou a questionar quando eu ia lutar", disse ele, um dos mais velhos na disputa, aos 27 anos. Mesmo com a idade, ele não pensa em parar. "Agora o que vier eu faço. No próximo, que é o torneio Luvas de Ouro, estarei aí", garantiu ele, que bateu Natan Santana na decisão do torneio, em decisão por pontos.

GAROTOS DE PROJETO SOCIAL ENCARAM 6h DE VIAGEM E LEVAM DOIS OUROS

Semana após semana, três garotos de Rio Claro encararam seis horas de estrada, três para ir e outras três para voltar da cidade. Oriundos de um projeto social no interior paulista, chegaram com dois lutadores na final e tiveram 100% de aproveitamento, só não levando o título por equipes por disputarem a taça com outra equipe com 16 lutadores, a Osan/Fupes/Jabaquara/Santos.

No entanto, Jeferson Ceccato (-60 kg) não sonhava com este lugar específico do Pacaembu. "Eu vim lutar, mas o meu sonho antes era o de vir para cá como jogador de futebol", disse o garoto, antes da entrada no ringue para conquistar seu primeiro ouro como um pugilista. A outra vitória foi de Yuri Previatti, retratado ao lado.
  • 3

    LUTADORES

    Levou Rio Claro, que viu dois deles indo à final e faturando o título.

OS OUROS DE RIO CLARO
Categoria até 60 kg: Jeferson Ceccato (PM. Rio Claro) venceu Paulo França (Assoc. M.V.Real) por pontos.
Categoria até 52 kg: Yuri Previatti (PM Rio Claro) venceu Alessandro S. Silva (Caminho com Futuro), por pontos.