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Holyfield faz 50 anos com adeus no top 10 dos pesados e histórico de títulos e mordida

Evander Holyfield foi quatro vezes campeão dos pesos pesados, um recorde - ARte/UOL, com Reuters e AFP
Evander Holyfield foi quatro vezes campeão dos pesos pesados, um recorde Imagem: ARte/UOL, com Reuters e AFP

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

19/10/2012 06h00

Uma das lendas dos pesos pesados do boxe, Evander Holyfield completa 50 anos nesta sexta-feira, apenas três dias depois do anúncio de sua aposentadoria. O norte-americano ainda poderia bater em muito marmanjo de 20 e poucos anos, mas a falta de desafios valendo mais um sonhado cinturão não vieram e ele resolveu pendurar as luvas, depois de já ter sacramentado um posto entre os dez melhores da história de sua divisão de acordo com a mídia especializada.

Em uma carreira marcada pelos reinados entre os cruzadores e entre os pesados, sendo o único lutador a chegar ao topo quatro vezes na categoria mais tradicional do boxe, Holyfield marca o fim de uma era na nobre arte. Desde os anos 80 em ação, ele enfrentou astros como Mike Tyson, George Foreman e Lennox Lewis e é o último deste período a parar, em um tempo de carência de estrelas.

Não há como desligar a imagem de Holyfield da cena de 1997, em que teve uma parte da orelha arrancada por Mike Tyson, mas nas quase quatro décadas de dedicação ao boxe, o bigodudo colecionou outras dezenas de momentos. O UOL Esporte separou alguns deles nesta data que mistura adeus com homenagem ao meio século de vida do lutador. Confira:

A primeira conquista, olímpica

  • Nascido em 1962 na cidade de Atmore, Alabama, Evander é o caçula de nove irmãos e, apesar de ser filho de Isom Coley, ganhou o sobrenome do ex-marido de sua mãe, Annie Laura. Aos 2, Holyfield se mudou para Atlanta e aos 12 anos entrou para um torneio de iniciantes de boxe, depois de não dar certo como jogador de futebol americano. Nas lutas ele se deu melhor e, vitória após vitória, ele conquistou sua vaga na seleção dos EUA que disputaria os Jogos de Londres-1984. A medalha de bronze veio com uma polêmica: ele foi desqualificado por um golpe além do tempo permitido na semifinal, e se revoltou com a decisão. Ainda assim, o pódio o levou ao boxe profissional logo em seguida.

No topo pela 1ª vez, antes de virar pesado

  • Evander Holyfield é conhecido por sua carreira no peso pesado, categoria mais tradicional do boxe, mas começou mais leve que isso - e chegou ao título. Sua estreia foi no meio-pesado (até 79,4 kg). Na quinta luta ele mudou para o peso cruzador (até 90,7 kg) e fez uma rápida caminhada para seu primeiro título, com uma série de nocautes. O cinturão veio aos 24 anos, quando encarou o então campeão Dwight Muhammad Qawi e venceu um duelo apertado: após 15 rounds, faturou a cinta da Associação Mundial de Boxe, em decisão dividida por pontos. O combate foi eleito o melhor entre os cruzadores de toda a década de 1980.

Domínio no cruzador e transformação em peso pesado

  • O começo da década de 1990 representou o melhor momento de Holyfield, com algumas de suas lutas e rivais mais notáveis. O cinturão dos pesos pesados veio em outubro de 1990, quando ele precisou de apenas três rounds para nocautear o algoz de Mike Tyson Buster Douglas, faturando três cinturões de uma vez (CMB, FIB e AMB). A primeira defesa foi contra o veterano George Foreman e ele ainda teve sucesso em manter o título mais duas vezes, quando encarou Bert Cooper e Larry Holmes.

A rivalidade com Bowe e a invasão do parapente

  • A primeira derrota da carreira veio com a criação de uma das suas grandes rivalidades, contra Riddick Bowe. No fim de 1992, Bowe tomou os títulos em vitória por pontos, e o décimo round é lembrado até hoje como um dos melhores da história. A revanche veio no ano seguinte, e com um detalhe pra lá de inusitado. No sétimo assalto da luta, um homem com um parapente quase pousou dentro do ringue da luta, que foi realizada em Las Vegas. O homem em questão é James Miller, o Fan Man, que ficou famoso por estas invasões bizarras. Vinte minutos depois, a paz se reestabeleceu e Holyfield retomou o posto de campeão. A trilogia foi completa em 1995, e Bowe levou a melhor.

As megalutas com Tyson e a fatídica mordida

  • A carreira de Holyfield não pode ser resumida pelos seus encontros com Mike Tyson. Mas foi isso que mais marcou a carreira do norte-americano. Eles deveriam ter se enfrentado no começo da década de 1990, mas a falta de acerto os levou a se confrontarem apenas em 1996. Na primeira luta, Holyfield mostrou estar em melhor forma que o então campeão e tomou-lhe o título. Na segunda, no ano seguinte, aconteceu o famoso incidente da mordida. Por duas vezes Tyson atacou o rival a dentadas e de fato arrancou um pedaço da orelha de Holyfield, sendo desclassificado apesar das reclamações de ter tomado cabeçadas durante a luta. Eles se reencontraram em 2009, no programa de Oprah Winfrey, e Tyson se desculpou pelo momento de fúria.

O último cinturão e o “roubo” contra Valuev

  • Os anos 2000 reservaram o último título e a última chance do já quarentão Holyfield de chegar ao topo. Em 2000,  iniciou uma série de três lutas contra John Ruiz. Na primeira, faturou pela quarta vez o cinturão da AMB, por pontos. Depois, perdeu e empatou contra ele. Isso marcou um período de declínio, que só foi superado em 2006 e 2007. Uma série de vitórias o levou a disputar mais duas vezes o cinturão. Evander perdeu para Sultan Ibragimov e depois encarou o gigante russo Nikolay Valuev. Mesmo dominando a luta e batendo muito mais que Valuev, foi derrotado na papeleta dos árbitros, em um resultado muito contestado. Holyfield nunca conseguiu acertar um combate contra um dos irmãos Klitschsko, que dominam os pesados, e sua última luta foi contra Brian Nielsen, com vitória no 10º round

Filhos e falência fora dos ringues, e a entrada no mundo dos “grills”

  • Fora dos ringues, Evander não teve uma vida tão fácil, mesmo com os milhões ganhados em bolsas. Por criar 11 filhos e ter diversas pensões, ele foi dado como falido, teve de responder à justiça por falta de pagamento e ficou arriscado de ser preso. Muitos dizem que foi por isso que sua carreira continuou até tão tarde, mesmo que ele sempre tenha afirmado que sua meta era apenas ter mais um cinturão e ampliar seu recorde. Alguns de seus empreendimentos fora do boxe foram com o lançamento de um grill à la George Foreman e até a abertura de uma gravadora. Além disso, participou do "Dancing with the Stars" e já admitiu que tomou aulas de balé para tentar melhorar seu gingado no boxe.