Sem local definido nem patrocínio, Forja dos Campeões faz 71 anos com recorde de inscritos

Sem patrocínio e nem divulgação, a Forja dos Campeões, campeonato de boxe amador mais tradicional do Brasil, continua a atrair jovens lutadores e completa 71 anos em 2013 com número recorde de inscritos. Apesar disso, o torneio, que já revelou grandes nomes do boxe brasileiro como Éder Jofre e Adilson "Maguila" Rodrigues, está ameaçado de não acontecer pela primeira vez na história.

Marcada para começar no dia 22 de janeiro, a Forja ainda não tem local definido para a realização das lutas. Para piorar, está sem patrocinador pelo segundo ano consecutivo, e não há dinheiro suficiente para custear as despesas da organização nos cerca de três meses de competição. "Me deixa de coração partido ver tantos jovens talentosos interessados em lutar o campeonato e nós com essa dificuldade enorme para conseguir manter a tradição e realizá-lo", lamenta Newton Campos, 88 anos, presidente da FPB (Federação Paulista de Boxe) e organizador do evento.

De acordo com Campos, o evento pode estar de mudança de São Paulo para Sorocaba, a 95 quilômetros da capital, caso seja fechada uma parceria com uma escola da cidade para a utilização do ginásio esportivo na realização do torneio. "Essa é uma alternativa. A outra seria utilizar um ginásio aqui em São Paulo mesmo, mas está difícil", diz o organizador. "Espero uma definição sobre isto a qualquer momento", disse ao UOL Esporte na noite desta quinta-feira (9).

Ameaça de cancelamento

Enquanto o local onde será disputada a Forja não é definido, o campeonato de boxe mais tradicional do Brasil corre o risco de não acontecer. "Não quero nem pensar nisso, seria a primeira vez na história", afirma Campos.  

Segundo ele, cada noite de lutas sai por cerca de R$ 3 mil entre a montagem do ringue, pagamento de árbitros e pessoal de apoio, aluguel de equipamentos e outras despesas. "No ano passado, já sem patrocínio, tirei dinheiro da minha aposentadoria para a Forja acontecer", diz Campos. Não são cobrados ingressos para acompanhar os combates, que podem chegar a mais de uma dezena por noite de evento.

Tradicionalmente, a Forja dos Campeões é realizada no ginásio do Conjunto Desportivo Baby Barioni, na zona oeste de São Paulo. O complexo municipal, porém, entrou em reforma no segundo semestre de 2012 e deixou o torneio de boxe desabrigado na edição deste ano. 

Recorde

Caso se confirme, a edição deste ano do torneio conta com 224 lutadores inscritos, recorde histórico desde sua primeira edição, em 1942, de acordo com o organizador. Pode se inscrever para disputar a Forja qualquer boxeador que nunca tenha subido em um ringue para lutar oficialmente e que tenha entre 16 e 36 anos, de qualquer categoria de peso. Não há premiação em dinheiro para os campeões, apenas equipamentos esportivos como luvas e protetores bucais.

"Ano passado teve os irmãos Falcão nas Olimpíadas de Londres, que trouxeram medalhas inéditas para o Brasil. O interesse pelo boxe deve ter aumentado nas academias e naturalmente cresceu o número de inscrições", diz Campos, ao lembrar as  medalhas olímpicas inéditas obtidas pelos boxeadores brasileiros.

 Yamaguchi Falcão conquistou o bronze na categoria peso meio-pesado (até 81 quilos), e seu irmão Esquiva conquistou a prata na categoria peso médio (até 75 quilos).

Mais antigo do Brasil

De 1942, quando foi criado, até 1960, o torneio chamava-se “Campeonato Popular de Boxe Amador da Gazeta Esportiva”, em referência ao jornal esportivo que organizava a disputa. "Quando o Éder Jofre foi campeão mundial, em 1960, propus a troca de nome para Forja dos Campeões, já que o Eder havia sido revelado no torneio", diz Campos, que trabalhava como jornalista esportivo na "Gazeta".

Alguns dos maiores nomes do boxe brasileiro foram revelados no campeonato. Éder Jofre foi campeão da Forja em 1953. Depois disso, conquistou o Campeonato Brasileiro de Galos (1958), Campeonato Sul-Americano de Galos (1960), o Campeonato Mundial da AMB (Associação Mundial de Boxe) dos galos (1960), o cinturão unificado dos galos (1962) e o Campeonato Mundial dos penas pelo CMB (Conselho Mundial de Boxe), em 1973. É o maior boxeador brasileiro de todos os tempos, com 78 lutas, 72 vitórias (50 por nocaute), quatro empates e apenas duas derrotas.

Maguila conquistou o título da Forja em 1980. Servílio Oliveira, em 1966. Pelo ringue do torneio amador ainda passaram Peter Venâncio e Sertão, entre vários outros lutadores.