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Dinheiro ou medalha? Esperança brasileira no boxe luta por equipe italiana

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

26/01/2014 06h00

Em outubro do ano passado, junto com a medalha de prata no Mundial de Almaty, no Cazaquistão, o boxeador Robson Conceição ganhou uma dúvida profissional: continuar uma carreira vitoriosa no boxe amador visando o ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 ou, como fariam mais tarde os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão, abraçar o profissionalismo.

Ele achou um meio-termo: um contrato de seis meses com a equipe Dolce & Gabbana Italia Thunder, com pagamentos mensais de US$ 2500 e mais um bônus de US$ 250 por vitória para defender a franquia italiana na World Series of Boxing, campeonato organizado pela Associação Internacional de Boxe Amador (Aiba).

Pode parecer estranho, mas é verdade: a entidade que dirige o boxe amador permite que atletas recebam para lutar em um campeonato organizado por ela mesma. As regras são parecidas com o boxe profissional. Não há camiseta e nem protetor de cabeça.

“Essa ideia foi muito boa, porque assim o atleta pode ganhar a vida sem abandonar o amadorismo”, diz João Carlos Soares, nascido em Guiné Bissau e com muitos cursos realizados em Cuba, técnico de Robson Conceição e da seleção brasileira. 

Foi ele que acompanhou o brasileiro na assinatura do contrato. Além do dinheiro, Robson conseguiu o privilégio de treinar no Brasil e só viajar em dias de luta. “Para mim é bom porque posso acompanhar a gravidez de minha mulher, que está de dois meses. E também fico próximo da seleção”, diz Robson.

Ele lamenta muito que não haja uma franquia brasileira na WSB. “Seria uma maravilha se investissem mais no boxe amador. A gente ganhou medalhas e não adiantou nada. Até a Argentina participa da WSB, mas isso tem explicação: eles têm lutadores de sucesso no boxe profissional, como o Chino Maidana e Maravilha Martinez. São referências. A gente já teve o Eder Jofre, o Popó e outros, mas agora falta um nome para alavancar”.

Breno Macedo, assessor da Confederação Brasileira de Boxe, concorda em parte com Robson, mas faz uma ressalva. “Mesmo com referência, seria difícil o patrocínio porque a franquia é muito cara. Basta ver o nome do time do Robson”.

A World Series of Boxing tem estilo de disputa parecida com os campeonatos de vôlei. São 12 equipes divididas em dois grupos de seis, que se enfrentam em turno e returno. As quatro primeiras se classificam para as quartas de final e iniciam a disputa eliminatória. São dez categorias diferentes de peso e cada encontro reúne cinco delas.

“Cara, é um campeonato muito bacana porque você ganha muito traquejo internacional. Eu fiz duas lutas e ganhei as duas, de um argentino e de um norte-americano. E a gente vai se acostumando com as regras que vão valer na Olimpíada”, diz Robson.

Breno Macedo vê outra vantagem em participar da WSB. “Existe um ranking baseado nos resultados. Os principais classificados já garantem a vaga, independentemente dos torneios qualificatórios. O Robson está em segundo no peso dele e se mantiver isso esse ano e em outros, fica com a vaga”.

São muitas vantagens. E há uma outra, maior, que seduziu os cubanos, sempre refratários ao boxe profissional. “Como a presença deles dá muito destaque à WSB, a liga paga tudo para eles. Estão ganhando contato com outras escolas e se adaptando às regras. Estarão fortes no Rio-16”, diz Breno.

Depois de seis rodadas, Cuba é o principal destaque. Tem 18 pontos, graças a seis vitórias. Ganharam 26 lutas e perderam quatro. Mas os dirigentes cubanos não estão contentes. Vão propor que, a partir do próximo ano, uma vitória por 5 a 0 dê mais pontos do que uma de 4 a 1 ou 3 a 2.

Apesar de números tão bons, Robson não acredita em um grande favoritismo dos cubanos. “Estamos perto deles. Eu perdi a final do Mundial para o Lázaro Alvares por detalhes. Hoje, está tudo muito igual”.

Para ele, a saída dos irmãos Falcão e o doping de Adriana Feitosa, campeão mundial, não significam uma queda para o boxe amador. “Nada disso, a gente está forte. A Adriana fez bobagem, vai ser difícil ela se recuperar, mas tem gente nova por aí”.

O otimismo de João Carlos Carlos Soares é maior. “Nós já ganhamos medalha até no Mundial de Cadetes. Já tenho substituto para o lugar do Esquiva Falcão, vai ser o Lucas Martins, de São Paulo. O Michael Borges, que defende os Estados Unidos na WSB, vai ficar no lugar do Yamaguchi. Quem quiser apoiar, será bem-vindo”.

Enquanto isso, Robson não tem pressa em decidir. O salário italiano é tentador.  “Muita grana para um moleque invocado que vivia brigando nas ruas de Salvador, na é mesmo? Não me queixo não”.