Ex-atleta, dono de cemitério patrocina promessas e campeão mundial de boxe

O argentino José Altstut, mais conhecido como Pepe, financia esportistas ao redor do Brasil. Dono do cemitério vertical de Santos, citado inclusive no Guinnes Book, o livro dos recordes, o empresário é um dos patrocinadores de Patrick Teixeira, boxeador profissional que defende o cinturão da WBO em 13 de fevereiro, contra Brian Castaño.

Ao lado do lutador desde o início da carreira, Pepe tem vasto histórico de parcerias com atletas e também já atuou como desportista. Em 2004, aos 67 anos, pedalou mais de 300 quilômetros em uma prova entre Campinas e Praia Grande, em Mangaratiba, no Rio de Janeiro. "Atleta frustrado", como ele mesmo se define, se tornou financiador de jovens que sonham em se profissionalizar no esporte.

"Eu sou estrangeiro, cheguei ao Brasil e acreditaram em mim. Aqui foram abertas todas as portas. Por meio do esporte, tive a oportunidade de me integrar facilmente. Aqui, a pureza do povo e o fato de acreditarem em mim foi muito importante. No meu país, sou da Argentina, não acreditariam tanto em mim quanto acreditaram aqui. Eu sempre tento retribuir, daí eu comecei a trabalha com essa possibilidade. Eu fui atleta frustrado, tive que parar com a modalidade por falta de recurso. Eu tive que parar por força econômica. Se um dia pudesse, eu iria patrocinar atletas. Essa ideia foi crescendo e tento retribuir muito do que recebi aqui", disse ao UOL Esporte.

Pepe era um multiatleta entre a infância e a adolescência. Ele foi ciclista, pugilista e nadador. Preferiu não se aventurar na modalidade mais popular do planeta, o futebol, mas também é um admirador do esporte.

"O primeiro esporte que pratiquei foi o ciclismo, passei para o boxe, gostava muito de natação. Eu participei de campeonatos de caça submarina, era o esporte da época, que estava em evidência. Através disso, passei a ser diretor de esportes de um clube social aqui da região de Santos em função da minha linha esportiva. O presidente acreditou muito em mim à época. Passei a comandar a equipe de caça submarina, que participei por muitos anos. Eu pratiquei judô, jiu-jitsu. Eu gostava muito de futebol, mas nunca joguei bem. Mas eu gostava", revelou.

O auxílio aos desportistas se dá por causa da sua própria história. De origem humilde, nunca teve recursos para se sustentar no esporte, como gostaria. Por isso, decidiu ajudar os garotos que sonham em praticá-los.

"Eu vim de uma família humilde e nunca fiz parte da high society. A porta para a molecada hoje está aberta, e só vai depender dela mesmo para fechar essa porta ou não. Eu acredito que nós conseguimos abrir a porta para esses garotos", declarou o empresário, que financia equipes de basquete, ciclismo, boxe, MMA e atletismo.

Um dos nomes de maior sucesso dentre os patrocinados por Pepe está o boxeador Patrick Teixeira. Em 13 de fevereiro, o brasileiro de Santa Catarina defenderá o título mundial contra o argentino Brian Castaño.

"O Patrick é um dos atletas que, no início da carreira, nós colaboramos. Não é agenciamento, somos patrocinadores. Ele é uma pessoa dedicada, não é todo mundo que chega onde ele chegou, mas ele conseguiu chegar. O sonho dele era ser pugilista, e ele chegou. São poucas pessoas que sentam na cadeira que ele conseguiu sentar. Nós começamos a patrocinar o Patrick, e ele nos deu muita alegria", revelou.

Embora seja apenas patrocinador de Patrick Teixeira, Pepe viu o carinho do boxeador no dia do título mundial, em novembro de 2019. Ao vencer o dominicano Carlos Adames, o brasileiro deixou o local da luta para entrar em contato com o empresário.

"Quando ele recebeu o cinturão pelo título mundial, ele falou: 'vamos ligar para o Pepe'. Eu conto e fico emocionado. O treinador dele é o Xuxa, e ele começou comigo como amador. Ele se profissionalizou, e o Xuxa prometeu para mim que seria campeão mundial. Eles prometeram para mim que me dariam o cinturão de campeão mundial", relatou.

O próprio lutador se lembra com carinho ao falar de Pepe: "Eu faço parte da IBG, que é a minha promotora no Brasil. Era do Eduardo Mello, que faleceu. A dona Dedé, que é a viúva dele, continua conosco. O Pepe me patrocina desde os 17 anos de idade. É um parceiro antigo, sempre está nos ajudando. Ele gosta muito de boxe", declarou Patrick ao UOL Esporte.

Amizade com Pelé

Mesmo que não tenha passagem pelo futebol, Pepe se tornou amigo da grande lenda do esporte. Pelé, o Rei do Futebol, tem ótima relação com o empresário. Não à toa o carro que o craque ganhou ao marcar o seu milésimo gol foi dado ao argentino.

"Um dia, o Pelé falou: 'Pepe, quero te dar um presente'. O presente foi o carro que ele ganhou ao fazer mil gols. O Pelé me deu esse carro de presente. O carro que o Pelé ganhou ao fazer o milésimo gol está comigo. Eu, que conheço o Pelé muito bem, posso falar que ele é muito emotivo", relatou o argentino.

"O Pelé e eu falamos ao menos uma vez por semana. O Pelé é aquele amigo confidente. Ele sempre me chama de irmão e eu também. A gente está confinado por causa da pandemia, mas fomos almoçar há uma semana", acrescentou.