'Difícil de ver': Astros da luta lamentam nocaute de Belfort em Holyfield
Um assunto dominou o mundo das artes marciais no fim de semana: a luta de boxe entre o brasileiro Vitor Belfort e o americano Evander Holyfield, na Flórida, sábado. A cinco semanas de completar 59 anos, o tricampeão mundial abandonou a aposentadoria para enfrentar o carioca, 14 anos mais novo.
Se o enredo lembrava o roteiro de um filme de Stallone, o que se viu na verdade foi um espetáculo estranho, em alguns momentos constrangedor. Lento e indefeso, Holyfield acertou apenas um soco no brasileiro e foi nocauteado em 1 minuto e 49 segundos. Antes disso, chegou a cair entre as cordas ao ser driblado. Depois, reclamou da interrupção do árbitro e disse ainda querer lutar contra Mike Tyson, de 55 anos.
"Droga, isso foi difícil de ver", lamentou o americano BJ Penn, duas vezes campeão do UFC.
"Dói na minha alma ver Evander Holyfield assim... Para mim chega dessa blasfêmia para o boxe", disse o ex-pugilista Caleb Truax, campeão mundial dos super médios entre 2017 e 2018.
"Qualquer um envolvido na marcação dessa luta deveria ficar proibido de falar a palavra 'boxe' de novo. Triste", completou.
A organização do "Triller Fight Club" teve problemas para marcar a luta. O adversário inicial de Belfort seria Oscar De La Hoya, um dos maiores nomes do boxe, mas ele pegou covid-19 e precisou se retirar do combate. Holyfield foi chamado às pressas e topou encarar o brasileiro, mesmo tendo feito sua última luta profissional em 2011.
A comissão atlética da Califórnia se recusou a chancelar o combate nessas condições, o que levou os organizadores a mudarem de Estado. A comissão da Flórida autorizou a luta, e o evento cruzou o país. Os fãs e a família de Holyfield temeram que ele pudesse se machucar gravemente no ringue.
A médica neurologista Margaret Goodman, membro do Hall da Fama do Boxe, criticou os colegas que permitiram Holyfield entrar no ringue perto dos 60 anos: "Os médicos de ringue que aceitaram trabalhar em Holyfield x Belfort devem explicar por que aceitaram trabalhar nesse evento. Você não precisa de uma equipe de neurologistas para determinar quando um lutador deveria parar de competir. Você só precisa de uma caneta, consciência e coragem para fazer a coisa certa", disparou.
"Isso não tem sentido e tem que parar. Estão acabando com o nosso esporte", disse Kevin Cunningham, treinador de três campeões mundiais.
"Isso não é uma exibição, isso é um crime", disse Fred Sternburg, empresário e relações públicas do filipino Manny Pacquiao, 11 vezes campeão do mundo. Ao relatar o resultado da luta, o jornal "New York Times" escreveu que ela é mais um capítulo no "verão absurdo do boxe".
Teddy Atlas, treinador de 18 campeões mundiais e comentarista da ESPN americana, sugeriu um plano para evitar que "lendas" do esporte se submetam a esse tipo de luta por dinheiro.
"Outros grandes esportes têm pensão. Gostaria que o meu tivesse também, assim grandes guerreiros não teriam que fazer o que Evander fez. Cobre 2% de taxa de todos os grandes eventos durante o ano, ponha isso em um fundo para lutadores aposentados. Promotores gananciosos nem sentiriam", projetou.
A organização não divulgou quanto os lutadores receberam para lutar. Nesse tipo de evento, além de um valor fixo, os atletas costumam ganhar bônus de patrocinadores e uma parte do valor arrecadado no pay-per-view.
Belfort parece ter gostado da experiência no boxe. Ainda no ringue, ele desafiou o ator e youtuber Jake Paul para um combate valendo o equivalente a R$ 160 milhões.
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